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Hélio Leitão: Relicário Criminal
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Advogado, pós-graduado em Processo Penal e mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É professor do Centro Universitário Estácio/Ceará e da Universidade Sete de Setembro (Uni7). Fundador do escritório Hélio Leitão e Pragmácio Advogados

Hélio Leitão: Relicário Criminal

Tipo Opinião

Sou um nostálgico irrecuperável. Daqueles que têm saudades de um tempo que não viveu. Em meus poucos momentos de lazer, leio, pesquiso e converso bastante sobre a bucólica Fortaleza do século passado. Suas histórias e estórias. Memorialistas como Blanchard Girão, Juarez Leitão, Leila Nobre, Marciano Lopes e Raimundo de Menezes, entre tantos outros, hão me proporcionado leituras saborosas.

No âmbito das minhas relações pessoais e afetivas, meu pai, de quem herdei o nome, e o colega advogado criminal Juvenal Lamartine, um dos mais brilhantes tribunos de sua geração - a geração que fez a fama e a glória do Tribunal do Júri no Estado - constituem fontes inesgotáveis de informação e partilha de vivências. Ambos, assim como eu, acometidos do mal do saudosismo.

No momento em que escrevo meu quadro nostálgico parecer ter-se agudizado, animando-me a rememorar, nesse pequeno texto, um crime que abalou a sociedade fortalezense daqueles fins da década de 1950: o caso Frias.

A tragédia tem início na chamada pensão Monte Carlo, elegante prostíbulo situado na rua Barão do Rio Branco, precisamente no imponente imóvel que serviu de residência ao médico, intelectual católico e militante abolicionista Guilherme Chambly Studart, feito barão da Santa Sé por outorga do papa Leão XIII. O destino, vê-se aqui novamente, sempre apronta das suas ironias...

Naquele dia 4 de abril de 1959, um sábado, Vicente de Castro Neto, jovem de 24 anos, filho de uma das famílias ilustres da cidade, e habitué da tal pensão, ali estando, sente-se incomodado com a abordagem feita por outro jovem, o bancário Joaquim Romero Frias, a uma das moças (ao que parece sua preferida) que frequentava o local. Mais forte, Vicente lhe desfere uns violentos safanões. O entrevero não para por aí. Frias não vai deixar barato.

Sabedor de que Vicente frequentava aos domingos a sorveteria Tony´s Bar, ponto de encontro da juventude dourada de então, situada na Praia de Iracema, ao lado do Edifício São Pedro - esse mesmo que o desapego à memória, bem próprio de nosso povo, cogita de demolir, Frias ali vai esperá-lo na manhã do dia seguinte. Armado.

Sem qualquer chance de defesa, Vicente é abatido a tiros. O crime, como era de se esperar, causou grande comoção no seio da pequena Fortaleza, alcançando imensa repercussão.

Preso, Joaquim Frias é submetido a júri, vindo, em primeiro julgamento, a ser absolvido, mercê do brilho e dos dons oratórios do seu defensor, advogado Clodoaldo Pinto, sem dúvida e sem favor um dos maiores penalistas que essa terra já produziu.

Mandado a novo júri, Joaquim Frias desta segunda vez é condenado e cumpre pena na Casa de Detenção, velha cadeia cuja construção remonta aos anos 1850, espaço bem preservado que hoje abriga o Centro de Turismo do Ceará.

Já o Tony´s Bar, estigmatizado por ter sido o palco do desfecho do drama fatal, não resistiu muito tempo. Fecha logo em seguida suas portas, atingido mortalmente pela irreverência do fortalezense, que o rebatizou. Passou à história como "Tony´s Bala".

 

Foto do Hélio Leitão

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