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Explorando o fetiche por pessoas amputadas, artista apresenta "Devotees"
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Explorando o fetiche por pessoas amputadas, artista apresenta "Devotees"

Espetáculo de João Paulo Lima estreia nesta quinta-feira, 16, às 20 horas, no Teatro Dragão do Mar. Os ingressos estão disponíveis na plataforma Sympla
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João Paulo Lima atua em diversas frentes nas artes, desde a formação à produção (Foto: Artur Luz/Divulgação)
Foto: Artur Luz/Divulgação João Paulo Lima atua em diversas frentes nas artes, desde a formação à produção

Há múltiplas facetas incorporadas ao cearense João Paulo Lima. Ele é bailarino, arte-educador, performer e pesquisador. Num dos seus trabalhos mais recentes, o artista apresenta uma "provocação-performance-dança" que explora o devoteísmo, ou seja, o fetiche por pessoas com deficiência, geralmente cadeirantes ou amputadas. A obra "Devotees" integra o programa Zona de Criação, disponível on-line no canal Porto Dragão no YouTube. Após a ampla vacinação da população contra a Covid-19 e a retomada do setor cultural, o artista adaptou a performance para o formato presencial.

"Devotees" estreia hoje, 16, às 20 horas, no Teatro Dragão do Mar, dentro da programação da Bienal Internacional de Dança do Ceará. Os ingressos estão disponíveis gratuitamente na plataforma virtual Sympla. O equipamento cultural funciona seguindo os protocolos de prevenção contra a pandemia, como uso obrigatório de máscaras e distanciamento social.

Na entrada, o público deve apresentar o Certificado Nacional de Vacinação com duas doses, emitido por meio do aplicativo Ceará App ou pela plataforma Conecte SUS. Também será obrigatória a apresentação de um documento oficial com foto.

"É um trabalho que dá o gatilho do feitice. O fetiche sobre corpos diferentes, sobre corpos que, socialmente, na hegemonia, não parecem serem corpos que têm uma sexualidade, um desejo patente. Como pessoa com deficiência, eu trago esse tema à tona para provocar mesmo e falar dos nossos, de todos os feitiches", revela o artista.

A produção em vídeo conta com direção e concepção de João Paulo. Com fotografia de Artur Luz, o figurino é de Lucas Ervedosa. Nesta performance presencial, Clarissa Costa assina a direção artística e as imagens ficam por conta de Matheus Dias. Já o figurino, é de Marina Carleial. A música de Felipe Gifoni segue nas duas versões.

Segundo João Paulo, "Devotees" surge a partir de seu trabalho anterior, "No'Tro Corpo". Na obra, o artista realiza uma espécie de auto etnografia, passeando pela história de seu próprio físico. Aos 13 anos, ele teve o membro inferior direito amputado. O "ensaio sobre as possibilidades do corpo" ganhou versão em realidade aumentada, filmado com câmeras de 360º no Teatro B. de Paiva do Centro Cultural Porto Dragão.

Em "No'Tro Corpo", João questiona: "O que nos constitui sujeitos de nós mesmos e de nossos movimentos? As cenas se combinam num entrelaçar das questões que o artista lança a partir de si e dispara como enfrentamento ao público. Que corpo temos? Que corpo nos exigem ter?". Com direção do cineasta cearense Alexandre Veras, o espetáculo compôs a VII Bienal Internacional de Dança do Ceará. O registro da obra também pode ser assistido no canal do evento na plataforma de vídeos YouTube. A direção artística é de Alda Pessoa, com figurino de Lídia dos Anjos, adereço de Miguel Campelo e trilha sonora original de Márcio Motor.

João Paulo Lima atua em várias frentes na área das artes. Graduado e mestre em Letras pela Universidade Federal do Ceará (UFC), também é formado pelo Curso Técnico em Dança Contemporânea do Porto Iracema das Artes — escola de formação e criação do Instituto Dragão do Mar (IDM). Doutorando em Dança pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa (Ulisboa), ele atua como professor de dança e teatro, mas também como assessor em acessibilidade do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ). Ao O POVO, o artista compartilhou, com alegria, a aprovação no doutorado em Dança da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

"Não há como separar o que falo, aciono e estudo da minha criação"

Performance, dança e literatura atravessam as pesquisas do múltiplo João Paulo Lima. Recentemente, ele lançou o livro de poesia "Viço Manco Voo" pela editora Substânsia. Na contracapa da obra, o aviso: "Eu quero a poesia manca/ a poesia torta/ coxeando por aí/ xingada, ofendida/ poesia filha da puta, aleijada (...)". "O cruzamento de artes e linguagens têm composto meu trabalho", conta. De acordo com o artista, tudo isso é essencial para a sua formação como professor, artista e ativista das causas das pessoas com deficiência nas artes.

"Eu não tenho como separar, muitas vezes, o que eu falo, o que eu aciono, o que eu estudo, da minha criação. Pelo contrário, eu tenho agregado muitas outras dissidências e discussões sobre corpo, sobre negritude, sobre anti-homofobia, antirracismo e o anti-capacitismo. Tenho me sentido cada vez mais responsável em falar e discutir esse tema, onde eu estiver".

Viço Manco Voo
De João Paulo Lima
Ed. Substânsia
72 pág.
Quanto: R$ 35
Disponível em www.substansia.com.br

Acompanhe

Instagram: @juaumpaulolima

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João Paulo Lima participa da reportagem especial “Arte Def: debates além do capacitismo”, disponível no O POVO Mais. Na reportagem completa, assinantes encontram dados, mais narrativas de artistas PcDs, além de vídeos com espetáculos, música e bate-papos sobre a potência da produção artística de PcDs

"Devotees" - João Paulo Lima

Quando: hoje, 16, às 20 horas
Onde: Teatro Dragão do Mar (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
Gratuito
Classificação: 18 anos
Ingressos: sympla.com.br/bienaldedanca
Mais info: bienaldedanca.com

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Viço Manco Voo

De João Paulo Lima

Ed. Substânsia

72 pág.

Quanto: R$ 35

Disponível em
www.substansia.com.br

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