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Mestre do teatro cearense, Oswald Barroso morre aos 76 anos
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Mestre do teatro cearense, Oswald Barroso morre aos 76 anos

Oswald Barroso, mestre do teatro cearense, parte aos 76 anos e deixa legado para a arte engajada
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Teatrólogo e jornalista Oswald Barroso morre aos 76 anos e deixa importante legado para as artes cênicas  (Foto: Edimar Soares (em 13/9/2013))
Foto: Edimar Soares (em 13/9/2013) Teatrólogo e jornalista Oswald Barroso morre aos 76 anos e deixa importante legado para as artes cênicas

A gente fazia teatro de rua, de agitação, em cima de caminhão, nas calçadas”, destacou Oswald Barroso, em entrevista ao O POVO em 2016, relembrando as peças montadas por ele nos anos 1970. Mesmo em cenários poucos favoráveis, quando a opressão censurava a cultura, o cearense encontrou brechas para viver o teatro que tanto defendeu. E assim foi até essa sexta, 22, quando o teatrólogo partiu aos 76 anos.

Referência nas artes cênicas com trabalhos engajados socialmente, Oswald vinha enfrentando problemas graves de saúde desde o ano passado. Ainda assim, não abriu mão de escrever sobre teatro e de orientar pupilos de longa data.

Não parou, mesmo debilitado. Insistente, quis encontrar formas de seguir sendo o ator, diretor, pesquisador, poeta, produtor, jornalista, entre outros tantos papéis que exerceu na cultura cearense ao longo de mais de cinco décadas de carreira.

“Oswald foi um intelectual com uma vasta produção e que sempre valorizou muito a cultura cearense. Lamento (sua morte) porque ele ainda tinha tanto a oferecer”, aponta a curadora Dodora Guimarães. A artista trabalhou com o teatrólogo nos anos 1990 na criação do Memorial da Cultura Cearense e ressalta a pesquisa dele sobre manifestações como o reisado.

Dodora completa: “Ele era um dos nossos grandes arautos e uma pessoa com uma presença muito marcante na vida cultural do Ceará. Nos últimos anos, ele publicou vários livros, sua produção era vasta e potente”.

Desde a juventude, Oswald teve forte relação com o teatro de grupo, participando de coletivos como o Grupo Independente de Teatro Amador (Grita). Durante a ditadura militar, foi ferrenho opositor do regime e chegou a ser preso por defender ideias consideradas subversivas. “O teatro engajado quer fazer a plateia refletir, quer estimular o pensamento crítico contra a opressão”, sustentou, em 2016.

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"Oswald foi um guerreiro na luta contra a ditadura brasileira e um guerreiro na luta pela valorização de nossa cultura popular e no teatro. Grande admiração por todo o seu trabalho", lamenta a diretora teatral Herê Aquino, cuja pesquisa teatral também perpassa por esse período histórico do País.

“Ele foi um pesquisador de cultura popular, de manifestações tradicionais populares, de um entendimento sobre os mestres e como essa relação das manifestações tradicionais influenciam a arte da cena. Então, a pesquisa dele sempre esteve vinculada a esse propósito: entender que essas manifestações eram a base para a gente se inspirar”, pontua a atriz Vanéssia Gomes, que convivia com o teatrólogo desde os anos 1990. “Oswald me formou como atriz, enquanto pesquisadora”, se orgulha.

Filho do poeta, jornalista e professor Antônio Girão Barroso e de dona Alba Cavalcante Barroso, Oswald se graduou em Comunicação Social, acumulando também os títulos de mestre e doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará, com Pós-Graduação em Gestão Cultural pela ANFIAC/Paris e Pós Doutorado em Teatro, na UniRio.

Foi diretor do Departamento de Ativação Cultural da Secult Ceará (1986-1988), do Theatro José de Alencar (1989 – 1991), do Teatro da Boca Rica (1998 – 2004) e do Museu da Imagem e do Som – Ceará (1998 – 2002).

Como autor, publicou mais de 25 livros, que incluem artigos, biografias, poesia, textos para teatro, reportagens, estudos e organização de antologia, textos e estudos sobre cultura popular.

Na atuação na imprensa, trabalhou no O POVO como colaborador (desde 1976), depois repórter de cultura (1982-1987) e articulista (1992-1993), abordando fatos e figuras da cultura popular cearense. Em 2023, publicou seu último texto na imprensa. Foi um artigo reproduzido aqui mesmo nestas páginas do Vida&Arte chamado “Zé Celso e os Sertões por Oswald Barroso: Memória e (des)massacre”.

Sobre a simbologia da partida de Oswald, o teatrólogo Ricardo Guilherme lamenta: “São muitos sentimentos misturados, claro que ressalto uma orfandade da palavra dele. Tem seu legado de intelectualidade e pesquisador da cultura popular, sobretudo no teatro, que sempre nos ensinou e continuará ensinando”.

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