Enem 2023 reaproveitou duas questões, afirmam professores; uma delas caiu quase idêntica há 20 anos e outra é do Enem 2010

Questão do vestibular de 2003 reapareceu repaginada em 2023
Questão do vestibular de 2003 reapareceu repaginada em 2023 — Foto: Reprodução

Professores que fizeram o Enem 2023 afirmam que a prova reutilizou duas questões já conhecidas. Uma delas é quase idêntica a um item que apareceu num vestibular da Universidade Estadual de Goiás (UEG), em 2003, vinte anos atrás. A outra é totalmente igual à da prova de reaplicação do Enem 2010.

A informação da questão da UEG foi notada pelo editor de Avaliações no SAS Educação, Pedro Lopes, e confirmada por outros estudantes e professores que, assim como ele, realizaram o exame neste domingo. Já a questão repetida do Enem 2010, que falava sobre a gripe H1N1, foi notada por quatro professores do grupo SAS que também fizeram a prova.

— A questão é muito similar. No Enem, ela apresentava uma imagem com alguns personagens e elas fazem essa mesma contagem, mas aparecia com balões de fala. O enunciado do Enem pede para o estudante identificar como eram o 5 e o 7 nesse sistema de contagem — afirma Lopes.

De acordo com o professor Ademar Celedônio, diretor de ensino e inovações do SAS Plataforma de Educação, o Inep deve anular a questão sobre a H1N1.

— A questão é absolutamente igual. Ao montar a prova a questão estava dentro do banco e os professores da edição de 2023 devem ter acabado escolhendo, mas essa questão já caiu em 2010 na prova PPL. Provavelmente o INEP vai anular essa questão — pontua Celedônio.

Em 2018, o Enem anulou uma questão por não ser inédita, também da prova de Matemática. Nesse caso, o item já havia aparecido no vestibular da Universidade Federal do Paraná, no fim de 2013.

Na UEG, a questão se referia a uma tribo de indígenas entre a Austrália e a Nova Guiné que não possui escrita, mas estabeleceu um sistema numérico. Apesar de antiga, ela é facilmente encontrada em sites com bancos de questões para preparação ao Enem.

— A questão foi reaproveitada. É uma questão simples, fácil, de identificação de algarismo — contou Luis Felipe Abad, professor e autor do Colégio e Sistema pH, que também fez a prova. — Ele dava leitura do 1, do 2, do 3, do 4 e do 6. Pulava o 5. Queria saber como falavam o 5 e o 7.

Em 2003, o item pedia para o candidato seguir o padrão e descobrir qual seria o número 17.

A reportagem consultou estudantes e outros professores que também fizeram a prova que confirmaram terem visto a questão no Enem deste domingo. Os candidatos só podem sair do local de aplicação com a prova às 18h. O GLOBO também localizou, no site da UEG, a prova de 2003 em que consta esse item.

Em 2018, a questão tratava da pena de reclusão por tráfico de drogas. Na época, o Ministério da Educação (MEC) informou que a repetição a questão motivaria uma investigação, que pode “culminar em instauração de processos administrativo, cível e/ou criminal” e que “a questão foi elaborada em 2012 para o Inep, por um professor que, à época, estava vinculado à UFPR. No entanto, posteriormente, em 2013, foi utilizada no vestibular da própria universidade, para ingresso em 2014, o que não deveria ter ocorrido”.

Duas regras, portanto, foram quebradas: a do ineditismo e a que obriga professores contratados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) a manterem sob sigilo todas as perguntas formuladas para o Enem.

Fonte: O Globo

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