Pós-Impressionismo

Artes
9 min readNov 14, 2018

Material produzido pelos alunos Aída Carla Campos Lima, Josiel de Castro Vieira e Laiane da Silva Fonseca para a disciplina Tecnologia da Informação e da Comunicação no Ensino de Artes Visuais da UFMA.

O Pós-Impressionismo, assim como o Impressionismo, foi um movimento francês. Ocorreu em fins do século XIX (por volta de 1880–1905)e incluía os artistas franceses Seurat, Gauguin, Cézanne, Toulouse-Lautrec e o holandês Van Gogh, o qual produziu a maior parte de suas obras na França.

Os estilos pós-impressionistas derivaram e exploraram, em várias direções, as possibilidades iniciadas das rupturas de seus antecessores com a arte acadêmica. Separando-se da tradição, o Impressionismo rejeitava temas históricos, perspectiva, composições equilibradas e figuras idealizadas. Em vez disso, representava, através de uma nova técnica com pinceladas curtas, cortadas e irregulares, sensações visuais imediatas através do uso de cor e luz nas composições das obras para registro momentâneo da realidade. Com a descoberta da influência do efeito da luz sobre a cor dos objetos, usavam a lei das cores complementares para reproduzir de forma realista o jogo de contrastes de luz e sombra na composição das pinturas.

Concordando com essa ruptura às regras clássicas de arte, o Pós-Impressionismo buscou ir além das propostas impressionistas. Seus artistas não se preocupavam tanto com o naturalismo e os efeitos de luz e sombra nas composições quanto seus antecessores. Eles queriam fazer da arte algo mais substancial, não apenas captar o momento ou retratar a realidade passageira.

A resposta do movimento dividiu o grupo de artistas em dois campos. Seurat e Cézanne se concentraram no desenho formal, quase científico. Enquanto Gauguin, van Gogh e Lautrec enfatizaram a expressão de suas emoções e sensações através de cor e luz em suas obras.

ARTISTAS

Seurat

Georges Seurat (1859–1891) tinha um método de pintura quase científico conhecido como “Pontilhismo”. Esse método reflete sua crença de que a arte deve basear-se em um sistema.

O tema de “Uma Tarde de Domingo na Grande Jatte” é do tipo que sempre fora popular entre os pintores impressionistas. Entretanto, o quadro é exatamente o contrário de uma rápida “impressão”.

“Um domingo na Grande Jatte”, Seurat, 1884–86. Óleo sobre tela, 207.5 × 308.1 cm. Art Institvte of Chicago.

Sua pincelada demonstra a paixão de Seurat pela ordem e permanência; a tela está coberta por pontos de cor impessoais e sistemáticos, que deveriam fundir-se no olho do espectador e produzir, então, matizes intermediários mais luminosos do que os que se poderia obter de pigmentos misturados na paleta do artista. Seurat não misturava as cores na paleta, as cores puras eram colocadas lado a lado na tela. Pretendia que o olho do espectador fizesse essa mistura e então resultasse na cor idealizada pelo artista.

Cézanne

Paul Cézanne (1839–1906) foi um pintor que recebeu duras críticas em suas obras e foi pouco considerado até mesmo pelos impressionistas. Sua pintura foi tachada pelo público como: rude, degenerada e incompetente. Contudo, embora demais solitário para se unir a qualquer grupo, pintava todo dia para tentar aperfeiçoar o que fazia. Pela alegria de alcançar maior conhecimento e verdade, dedicou-se incansavelmente à sua arte.

O que tornou a arte de Cézanne tão radical em sua época e apreciada na nossa foi seu novo tratamento das aparências da superfície. Em vez de imitar a realidade como ela aparecia para o olho, Cézanne retratava-a explorando sua geometria implícita. “Reproduza a natureza em termos do cilindro, da esfera e do cone”, recomendava, a ponto de a frase ter ficado famosa. Sua técnica inovadora, aplicada aos temas favoritos — paisagens, retratos e naturezas mortas — , era retratar a realidade visual refratada num mosaico de múltiplas facetas, como se refletida num diamante.

Em “Mont Saint-Victoire”, Cézanne retratou a cena de forma piramidal definindo a superfície com planos coloridos. Para criar profundidade, usou cores frias como o azul e cores quentes, como vermelho, no primeiro plano que dá a impressão de avançar, estar na frente da paisagem.

"Mont Sainte-Victoire", Paul Cezanne, 1904-06. Óleo sobre tela, 83,8 x 65,1 cm. Museu de Arte da Universidade de Princeton.

O artista pintou também muitas obras de natureza-morta. Contrastava os tons arrumando as frutas de acordo com as cores complementares. Verdes contra vermelhos, amarelos contra azuis, equilibrando as frutas conforme essa intenção.

“Natureza-morta com Maçãs e Laranjas”, Paul Cézanne, 1895–1900. Óleo sobre tela, 74 x 93 cm. Musée d’Orsay, Paris.

O reconhecimento de Cézanne chegou somente em seus últimos anos de vida. Contudo, continuou a trabalhar da mesma maneira em isolamento, até o dia em que morreu. Os artistas modernos o consideram um oráculo que inventou a sua própria fusão do real ao abstrato.

Toulouse-Lautrec

Henri de Toulouse-Lautrec (1864–1901) desenhava seus temas a partir da vida contemporânea: teatros parisienses, salões de danças e circos. Especializou-se em retratar momentos de movimento e de privacidade através de vislumbres de fragmentos da vida com corte abrupto, fotográfico. As composições novas, assimétricas, derivaram da admiração que nutria pelas gravuras japonesas. Praticamente todas as suas pinturas são de figuras em cenas noturnas de interiores, iluminadas de maneira mais ou menos arbitrária por luz forte, artificial.

“No Moulin Rouge”, Toulouse-Lautrec, 1892. Óleo sobre tela, 123 × 141 cm. Art Institvte of Chicago.

A contribuição mais original de Lautrec se deu no domínio das artes gráficas por transformar em respeitáveis meios artísticos, de primeira categoria, as novas formas da litografia e do cartaz. A partir de 1890, aproximadamente, desenhou cartazes de audaz simplicidade visual, que tomaram conta das ruas, como todos diziam, logo que apareceram.

“Moulin Rouge-La Goulue”, Toulouse-Lautrec, 1891. Tinta em papel, litografia a cores, 170.18 cm x 116.84 cm. Indianapolis Museum of Art.

Gauguin

Paul Gauguin (1848–1903) por mais de uma década foi corretor de valores em Paris, onde vivia com sua família, começou a pintar em 1873. Além de pintor amador, era colecionador de arte. Dispensou a pintura tradicional em troca do que ele chamava de “instinto selvagem”, onde as emoções não fossem mais negligenciadas.

Passou a viver exclusivamente de pintura aos 35 anos, quando se mudou para Port-Aven, na Bretanha. Em busca do “primitivo e selvagem” como inspiração em suas obras, usava emoção e imaginação como elementos para compô-las. Não usava perspectiva nem uso de luz e sombra nas cenas, recorrendo ao uso excessivo das cores, do qual tinha grande habilidade.

Em “O Cristo Amarelo”, o artista mostra a fé simples das pessoas do campo. Sem modelado e perspectiva, a obra traz formas planas e simplificadas. Delineado forte em preto e cores brilhantes a compõe.

“O Cristo Amarelo”, Paul Gauguin, 1889. Óleo sobre tela, 92.07 x 73.34 cm. Allbright-Knox Art Gallery, Buffalo.

Apesar das dificuldades para sobreviver de arte (não teve tanto sucesso com a venda de suas obras), Gauguin era persistente. Motivado pelo incessante desejo pelo desconhecido, conseguiu desenvolver um novo método de pintura para retratar a realidade através de sua concepção desta. Recusava-se a reproduzir de forma real o perceptível, trazendo a distorção de formas e transformando as cores no intuito de proporcionar uma resposta emocional no espectador. Abre portas para além da cópia fiel do mundo natural na pintura. Tinha noção e esperanças de que suas inovações pudessem influenciar demais artistas no universo das artes.

Sendo ainda mais radical nessa busca pelo sentimento puro, Gauguin muda-se para o Taiti, onde passou seus últimos dez anos produzindo pinturas de tons vívidos, simbólicas, esculturas em madeira e xilogravuras.

A obra “Ia Orana Maria” (Eu vos saúdo, Maria), mostra uma interpretação remodelada em termos taitianos para o tema da Anunciação. Figuras simplificadas, contornos firmes, cores ricas expressam a vitalidade que Gauguin observava dessa cultura.

“Ia Orana Maria”, Gauguin, 1891. Óleo sobre tela, 113,7 x 87,6 cm. Metropolitan Museum of Art, NY.

São contribuições suas para a arte as formas aplainadas, o uso arbitrário da cor intensa para se obter impacto emocional no espectador e a interpretação subjetiva da realidade.

van Gogh

Vincent van Gogh (1853–1890), nos dez anos de sua breve carreira, produziu diversos quadros, dentre eles autorretratos introspectivos e paisagens com cores intensas, embora não tenha conseguido prestígio e reconhecimento. O artista chegou a vender apenas uma obra em vida.

O início de sua carreira é marcado pela profunda compaixão do artista pelos pobres. Insatisfeito com os valores da sociedade industrial, van Gogh decidiu cumprir através da arte sua “missão”, retratando a vida das classes trabalhadoras.

Após 1886, quando foi para Paris, descobriu o impressionismo e teve contato com artistas proeminentes como Seurat. Como resultado, seus quadros passaram a ser mais vibrantes em cor. Vincent mudou radicalmente das cores sombrias que usava para as cores fortes e dos temas de realismo social para pinturas de paisagens.

Do impressionismo levava as pinceladas interrompidas e as fortes cores complementares, mas era original. Queria ter a liberdade necessária para expressar suas emoções, coisa que não encontrava no movimento anterior.

Pintava o mundo visível, entre suas pinturas estavam paisagens. Inspirado pela natureza, usava ciprestes, árvores frutíferas, flores e campos de trigo com destaque para sua cor mais icônica, o amarelo. Suas pinceladas eram carregadas de dinamismo que transformavam a cor em um movimento gráfico. Mas a importância estava na cor, pois para van Gogh, esta, e não a forma, era o que determinava o conteúdo expressivo de seus quadros.

Em busca de explorar melhor sua subjetividade, mudou-se para Arles no sul da França, onde produziu seus melhores quadros entre 1888 e 1889. A influência desse lugar está presente em “Paisagem com Ciprestes”. Aqui van Gogh expressa sentimento através de cores fortes, simples e vibrantes. Céu, terra, árvores, o campo de trigo, colinas e nuvens todos aparecem retratados num movimento dinâmico nesta obra.

“Paisagem com Ciprestes”, Vincent van Gogh, 1889. Óleo sobre tela, 73 x 93,4 cm. Metropolitan Museum of Art, Londres.

O artista passou a sofrer crises decorrentes de sua doença mental, crises de solidão, sofrimento e colapso emocional.

Passando por cidades como Arles, Saint-Rémy e finalmente em Auvers, sob os cuidados do dr. Gachet, que o acompanhou até seus últimos dias de vida, van Gogh produziu obstinadamente, deixando uma produção inédita na história da arte. Ainda que sob tensão constante por causa de seu estado de saúde, pintou setenta obras nos últimos setenta dias de sua vida. Estava em pleno controle das formas simplificadas, das zonas de cor forte e trabalho expressivo do pincel em suas pinturas.

“Noite Estrelada”, Vincent van Gogh, 1889. Óleo sobre tela, 73.7 x 92.1 cm. MoMA, NY.

Foi como paciente do asilo em Saint-Rémy que pintou uma de suas mais famosas obras, “Noite Estrelada”. Trabalho de três noites seguidas, o quadro mostra o movimento espontâneo através de pinceladas curvas, que embora pareçam surgir do acaso mostram intenção e propósito por parte do artista. “Noite estrelada”, apesar de sua força dinâmica é uma composição cuidadosamente equilibrada. As formas dos objetos determinam o ritmo do fluxo da obra, mostrando sua unidade expressiva.

Conclusão

O Pós-Impressionismo é considerado uma extensão ou desenvolvimento do impressionismo. Os artistas dessa tendência buscavam novos estilos, novos conceitos e novas formas, trabalhando composição de cor e luz. Assim como o impressionismo, ele não foi um movimento homogêneo. Por isso mesmo, pela busca da liberdade em se distanciar ainda mais dos padrões acadêmicos anteriores, estes movimentos ganharam força e foram responsáveis pela influência de uma gama de outros movimentos seguintes. Suas influências são notáveis nas vanguardas modernas do século XX, tanto nos EUA, quanto no Brasil.

REFERÊNCIAS

JANSON, H. W; JANSON, A. F. Iniciação à História da Arte. Tradução Jefferson Luiz Camargo. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

STRICKLAND, Carol. Tradução Angela Lobo de Andrade. Arte Comentada da pré-história ao Pós-Moderno. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

PÓS-IMPRESSIONISMO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo891/pos-impressionismo. Acesso em: 12 de Nov. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978–85–7979–060–7

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