Essas charges são de 1918, durante a gripe espanhola, mas podiam ser de hoje

Apresentamos alguns chargistas da época e comparamos com alguns de hoje em dia. Essas charges mostram como alguns aspectos da nossa criatividade e imaginário vinculam 2020 e 1918.

Mais História, por favor!
7 min readMay 30, 2020

Tão acompanhando as charges e tiras durante essa pandemia? @malvados, @LaerteCoutinho1, @Benett_, @zedassilva e outros ajudam a escrever a história hoje como J. Carlos, Raul, Storni, Seth, Perdigão e Yantok fizeram durante a gripe espanhola.

Separamos algumas charges de 1918. E pra cada uma delas, um RT em uma atual. As charges de hoje também escrevem história. Os chargistas buscam expressar no humor e na crítica sua visão de mundo e colaboram para a criação de discursos culturais e políticos.

Durante a “hespanhola” e agora, esses pensadores não só ajudam seus contemporâneos a compreender criticamente sua sociedade, mas deixam registros valiosos para que outras sociedades em outros tempos compreendam, também criticamente, seu passado.

Dá uma olhada nas charges que a gente separou pra notar como o olhar aguçado deles muitas vezes apontam personagens similares, se utilizam de recursos retóricos parecidos e, cada um da sua forma, mostram um pouco da importância dessa forma de comunicação cultural na política.

Nem toda charge era assinada na época, mas dá pra identificar a autoria através do traço e da consistência editorial das revistas. Pra isso, a gente contou com a ajuda do ilustrador carioca Flavio Pessoa.

“Imagina se eu fosse médico”, diz o personagem de Seth na revista Fon-Fon. O personagem de @LaerteCoutinho1 acabou sendo.

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Seth é nome artístico de Álvaro Marins, que nasceu em Macaé/RJ, em 1891. Aos 15 anos publicou sua primeira ilustração em O Malho. Também fez ilustrações para a Tico-Tico, Dom Quixote e em 1918 assinava desenhos para a Fon-Fon, no quadro “Semana da Fon-Fon”. Faleceu em 1949.

Essa aqui do Yantok, na O Malho, fala sobre a companhia dos vermes.

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Nicolau Cesarino, ou Max Yantok, nasceu em Soledade/RS, em 1881. Em 1918, seus desenhos ilustravam páginas da O Malho e da Fon-Fon. Também fez ilustrações para a Tico-Tico e para jornais como Gazeta de Notícias, Correio da Manhã, Diário Carioca e o Imparcial. Faleceu em 1964.

Uma sucessão de pragas… Essa também é de Yantok, na O Malho.

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Pra ignorar os problemas: cegueira e distância. Laerte dá cara aos bois, já a charge de Storni na O Malho prefere jogar pra humanidade como um todo.

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Alfredo Storni nasceu em 1881, em Santana do Livramento/RS. Iniciou sua carreira na O Bisturi (Rio Grande/RS) e fundou sua própria revista, O Gafanhoto, em Santa Maria/RS. No RJ trabalhou na Tico-Tico, Careta, O Malho e no jornal Correio da Noite. Faleceu em 1966.

Essa do J. Carlos na Careta caçoava os médicos pela inação que hoje os médicos da tira de Laerte caçoam do presidente.

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José Carlos de Brito e Cunha, ou J. Carlos, nasceu no Rio, em 1884. Era um dos principais cartunistas do país, trabalhou para O Malho, O Tico Tico, Fon-Fon, Careta, A Cigarra, Vida Moderna, Eu Sei Tudo, Revista da Semana e Para Todos. Faleceu em 1950.

“Uma esmola para quem está arriscado a apanhar a hespanhola”, J. Carlos mostrando a desigualdade social na revista Careta. O @malvados vai além e mostra o que foi jogado no lixo.

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Falamos sobre como a pobreza agravou muito a gripe espanhola em 1918 nesse outro texto.

Raul, na revista O Malho, mostra um cotidiano estranho no Rio: as pessoas na rua cobrindo o rosto com lenços e casacos em plena primavera. Já o personagem de Dahmer ficou em casa.

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Raul Paranhos Pederneiras nasceu no Rio de Janeiro, em 1874. Em 1918, seus desenhos ilustravam as páginas de O Malho, mas também trabalhou para as revistas Fon-Fon, O Tagarela, D. Quixote e para os jornais O Globo e Jornal do Brasil. Faleceu em 1953.

Esse personagem de J. Carlos na Careta passou longe de isolamento.

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Seth, na revista Fon-Fon, caçoando de Carlos Seidl, diretor geral da Saúde Pública. Já nessa do @Benett_, no meio da podridão, seria melhor se fosse água de rosas.

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O Seidl já apareceu antes por aqui, num dos primeiros textos que a gente fez.

“Eu na minha clínica tive cincoenta casos fataes, mas todos benignos”, diz o personagem de J. Carlos na Careta. Às vezes, números e estatísticas são máscaras para falta de empatia.

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A pandemia em 1918 aconteceu durante a 1ª Guerra. Na charge de Perdigão, na O Malho, a imagem da morte aparece como uma aliada do Kaiser, líder de estado da Alemanha.

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Alvaro Perdigão, carioca, nasceu em 1898. Com 20 anos já desenhava para O Malho. Trabalhou em revistas como Dom Quixote e Tico-Tico. Em 1928, cometeu suicídio.

Yantok, na O Malho, deixa claro quão preocupadas estão as autoridades.

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Os caixões se acumulam na charge de Yantok, na O Malho.

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O Caju era um dos principais cemitérios do Rio de Janeiro. Os coveiros desse cemitério entraram em greve em plena pandemia, a gente contou sobre nessa thread aqui.

Durante essa greve, militares tomaram conta do cemitério. Essa charge do Seth, na Fon-fon, compara abrir valas com abrir trincheiras.

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Raul, na O Malho:
— Tome uma gotta ao almoço e outra ao jantar.
— Sim, senhor, mas onde vou arranjar almoço e jantar?

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O doente, na charge de Yantok na O Malho, já está pronto para morrer.

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O personagem de Raul, na O Malho, um grã-fino, desdenha da gripe. @zedassilva mostra um desdém parecido, mas acrescenta um personagem.

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Queríamos agradecer ao trabalho excelente desses incríveis artistas de ontem e hoje. Pra encerrar, a gente deixa essa aqui do @malvados.

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Divulgação científica em história. Uma produção da Universidade Federal de Santa Maria.