Jackson Pollock — Mural

Heron Rezende
ARTE e DESIGN
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11 min readOct 7, 2021

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De Heron Carlos Rezende e Matheus Rodrigues

A obra feita em 1943, estava em exposição pela última vez no museu Guggenheim, em Nova Iorque, e hoje está indo para o Stanley Museum of Art, novo museu de Iowa.

Dispensando o cavalete e, depois, o pincel, Pollock criava suas pinturas imiscuindo-se nelas. Foto: Reprodução
Jackson Pollock dispensando o cavalete e, depois, o pincel, Pollock criava suas pinturas imiscuindo-se nelas. Foto: Reprodução

Vida e obra do artista

Jackson Pollock

Paul Jackson Pollock (1912–1956) era um pintor norte-americano, e foi um importante artista do Expressionismo Abstrato da primeira metade do século XX, que enfatizava a expressão pessoal espontânea. Desenvolveu a técnica do gotejamento, feita com rápidos respingos sobre a tela.

Filho de Stella May e LeRoy Pollock, foi o caçula dos seis filhos do casal. Seu pai trabalhava com agricultura e, mais tarde, foi funcionário do governo como agrimensor. Sua mãe vinha de uma família de tecelãs e era costureira.

Pollock nasceu em Cody, no estado de Wyoming, nos Estados Unidos, no dia 28 de janeiro de 1912, mudou-se com sua família para San Diego, na Califórnia, com apenas 10 meses de idade.

Irreverente desde criança, Pollock acabou sendo expulso de uma escola secundária por indisciplina. Em 1925 matriculou-se na Manual Arts School, e em 1929, se mudou para Nova Iorque, onde estudou na Art Students League com Thomas Hart Benton, pintor muralista norte-americano, como seu professor.

Em pouco tempo descobriu a técnica de pintura em areia dos indígenas americanos, em 1936, numa oficina experimental em Nova Iorque, estudou com o muralista mexicano David Alfaro Siqueiros, quando fez experiências com a tinta líquida, que posteriormente seria umas das marcas de suas obras.

Durante a depressão, o presidente Franklin D. Roosevelt começou um programa chamado “The Public Works of Art Project”, uma das muitas intenções de melhorar a economia. Pollock e seu irmão Sanford, conhecido como Sande, encontraram trabalho com a PWA’s mural division. O programa WPA resultou em centenas de obras de Pollock e seus contemporâneos, como José Clemente Orozco, Willem de Kooning e Mark Rothko.

Porém, ainda que estivesse ocupado trabalhando, Pollock não conseguia parar de beber. Em 1937, começou a receber tratamento psicológico devido ao seu alcoolismo, de um psicólogo que alimentou seu interesse no simbolismo e na arte nativo-americana.

De 1938 até 1943, se dedicou à pintura de murais em prédios públicos, principalmente na cidade de Nova Iorque. No início, Jackson Pollock pintava telas violentamente expressionistas e depois de 1939, quando recebeu influência de Pablo Picasso vendo suas obras no MoMA, passou a pintar obras de essência mitológica. A experimentação artística de Picasso encorajou Pollock a continuar quebrando as barreiras de seu próprio trabalho.

Pollock era descrito como gentil, inteligente e contemplativo quando sóbrio e violento e mal humorado quando estava bêbado. Esses extremos encontraram equilíbrio em seu trabalho. Ele acreditava que a arte deriva do inconsciente, via a si mesmo como o sujeito essencial de sua pintura e julgava seu trabalho e o de outros por sua autenticidade inerente à expressão pessoal.

Apesar da dependência, continuou produzindo pinturas, sem parar. Em 1943, teve a sorte de cair nas graças de Peggy Guggenheim, uma importante colecionadora de artes norte-americana, que o convidou para fazer sua primeira exposição em sua galeria Art of This Century (Nova York) . A propósito, vale destacar que Peggy foi uma grande incentivadora do mundo artístico. Ela seguiu a tradição do tio, Salomon R. Guggenheim, fundador de um museu homônimo de Nova York, apoiando e adquirindo obras de dezenas artistas contemporâneos como Pablo Picasso, Georges Braque, Fernand Léger, Wassily Kandinsky, Paul Klee e Marc Chagall.

No começo da década de 1940, após optar por pinturas mais abstratas, adotou o estilo denominado “action painting”( ou “pintura de ação”), que consistia em espalhar pingos de tinta nas telas, de modo aleatório, misturando assim razão com emoção. A partir daí, em 1947, desenvolveu pesquisas de pintura automática, que lhe asseguram completo domínio das novas técnicas.

Começou a pintar com mais calma nesse ano, muitas vezes alternando dias de pintura com semanas de contemplação das obras durante seu processo de produção. O resultado foi um trabalho forte, impactante e com camadas sobrepostas, em diferentes trajetórias de esmalte ou tinta de alumínio. As pinturas, com áreas enormes cobertas por padrões lineares complexos que fundiam imagem e forma, envolvem o espectador com suas escalas e complexidades.

Depois de sua mudança para Springs, ainda em Nova Iorque, começou a pintar em imensas telas dispostas no chão do estúdio, aplicando a técnica que mais tarde seria conhecida de “gotejamento” ou “dripping”. Pollock usava pincéis endurecidos, varas, seringas e até mesmo latas de tinta furadas das quais escorriam as tintas aplicadas diretamente nas telas. Uma das características mais significativas nessa maneira de pintar era o fato de o artista precisar “entrar” na tela, realizar grandes movimentos e imprimir seu gesto, quase como um dança, transmitidos em forma de linhas, respingos e texturas espontâneas.

As pinturas mais famosas de Pollock foram produzidas durante este período de “gotejamento”, entre 1947 e 1950, onde os pingos escorriam formando traços harmoniosos que se entrelaçam na superfície da tela. Grande exemplo dessa técnica é o quadro One (1949) e Autumn Rhythm: Number 30 (1950). Depois de 1951, Pollock abandonou a técnica do gotejamento, quando tentava encontrar um equilíbrio entre a abstração e as representações figurativas.

Seus quadros passaram a apresentar cores mais escuras, incluindo uma coleção pintada em preto e branco. Essas pinturas foram chamadas de “vazamentos negros” e quando expostas na Betty Parsons Gallery, em Nova Iorque, nenhuma foi vendida.

Em suas obras, Pollock usou frequentemente tintas industriais, algumas delas usadas na pintura de automóveis.

Mais tarde, Pollock voltou a usar a cor e continuou com elementos figurativos. É dessa época “Portrait and a Dream” (1953) e “Easter and the Totem” (1953).

Jackson Pollock foi casado com a pintora Lee Krasner, que exerceu grande influência em sua carreira.

Durante sua vida, lutou contra o alcoolismo. A partir de 1956, com o agravamento do vício e a infidelidade de Pollock, envolvido com Ruth Kligman, seu casamento começou a desmoronar.

Dirigindo alcoolizado sofreu um grave acidente automobilístico que lhe tirou a vida. Jackson Pollock faleceu em Springs, Nova Iorque, Estados Unidos, no dia 11 de agosto de 1956, aos 44 anos.

Jackson Pollock trabalhando em seu estúdio, 1950. foto: Hans Namuth

Jackson Pollock e outros artistas contemporâneos são por vezes criticados fora do mundo da arte por criarem pinturas que, para os leigos, parecem borrões de crianças. É difícil para algumas pessoas verem o valor de algo tão abstrato, mas seu processo criativo é aplaudido pelo pioneirismo e por enfatizar sua expressão pessoal de uma maneira única.

Pollock disse descrevendo seu trabalho, que, “Quero expressar meus sentimentos em vez de ilustrá-los”. Talvez nenhuma frase possa representar melhor suas obras e o movimento em que fazia parte.

Apesar de ser polêmico, Jackson pode ser considerado um dos criadores do expressionismo abstrato ou action painting e o artista que o popularizou. Essa vertente da arte valorizava, sobretudo, o impulso espontâneo, além de dar grande importância para o movimento corporal e gestual no momento da criação da obra.

Outras obras importantes de Pollock: Male and Female (1942), Blue ou Moby Dick (1943) e The Key (1946).

A obra escolhida: Mural

Mural, Jackson Pollock, 1943.

A obra Mural (1944) é a maior obra realizada por Pollock (tem 6 metros de largura por 3 metros de altura) e havia sido encomendada por Peggy Guggenheim.

Mural foi uma encomenda feita por Peggy no verão de 1943 para pintar uma das paredes da casa que tinha em Manhattan. Marcel Duchamp, amigo de Peggy, sugeriu que a pintura não fosse feita na parede, mas sim num quadro, de forma a ser transportável.

O pedido é acompanhado por um contrato, algo incomum na época, com um salário de US$150 por mês. O dinheiro era indispensável para Pollock e sua futura esposa, a pintora Lee Krasner, que já estavam morando juntos em um pequeno apartamento em Nova York e passando por dificuldades financeiras.

Para colocar a tela no lugar indicado, foi necessário demolir várias paredes. No entanto, o tempo passava e a tela permanecia intacta. Guggenheim preocupada com a situação, começou a pressionar o artista, ameaçando parar de pagar o que foi acordado se ele não realizasse o projeto. Essa pressão não ajudava em nada, Pollock passava semanas olhando para a tela em branco e reclamando que não encontrava inspiração para tanto. Obcecado com o trabalho e à beira da depressão, ele finalmente consegue terminá-lo.

Sendo seu primeiro grande trabalho, e o maior de sua carreira, a obra representava a descoberta de um estilo totalmente pessoal, no qual os métodos de composição de seu mestre Thomas Hart Benton e a invenção linear enérgica são fundidos com a associação livre surrealista de motivos e imagens inconscientes. A evolução de Pollock a partir deste ponto ao longo da década de 1940 mostra uma luta para encontrar um processo pelo qual ele pudesse traduzir toda a sua personalidade em suas pinturas.

Segundo um mito que paira sobre o pintor americano, o Mural foi criado em apenas uma noite depois de o pintor estar semanas bloqueado com uma crise de criatividade. Pesquisadores, no entanto, encontraram várias camadas de tinta sobrepostas que indicariam um processo de secagem de pelo menos algumas semanas.

“Trata-se de uma debandada de todos os animais no oeste americano, vacas e cavalos e antílopes e búfalos. Tudo está presente naquela maldita superfície”. Pollock confessou a um amigo sobre o tema escolhido.

Durante um período da vida, Pollock e Peggy Guggenheim estabeleceram uma relação bastante incomum: a colecionadora pagava mensalmente uma quantia de 150 dólares para que Pollock pudesse se manter e continuasse produzindo as suas telas, que Peggy considerava serem obras-primas. Ela foi, por sinal, uma das grandes responsáveis pela divulgação de Pollock no mundo tendo levado os seus trabalhos também para a Europa.

As pinturas em larga escala foram muito influenciadas pelo muralismo mexicano e Pollock, como tinha como área de trabalho um enorme celeiro, podia se dar ao luxo de criar sem ter propriamente uma preocupação com a dimensão da obra que criaria.

De 2020 a 2021, Mural foi exposta ao redor do mundo, passando pela Europa e voltando para os EUA, sendo exposta pela última vez no Guggenheim Museum, “voltando de onde veio”. Hoje está em processo de envio para um novo museu de arte, o Stanley Museum of Art de Iowa, onde o quadro de Pollock será a atração principal em sua cerimônia de abertura. O museu, mesmo com atrasos em suas obras por conta da pandemia do coronavírus, está finalizado, e irá abrir em 2 de setembro de 2022.

Mural (1943) de Jackson Pollock em The Royal Academy of Arts.

Essa obra foi escolhida por nós por tratar da mistura da razão com a emoção, sempre presentes no trabalho de Pollock, a obra consegue ser selvagem e ao mesmo tempo delicada. O abstracionismo da obra, assim como a maioria das obras de Pollock, nos faz refletir sobre “o que é arte ?” e “o que devemos tratar como arte?”. A vida de Pollock nos mostrar que, artistas incríveis e geniais, também tem seu lado sombrio e seus vícios (seu alcoolismo e a violência contra sua própria esposa por exemplo). Esse fato é algo que nos faz pensar, também, sobre a separação do artista e da obra, e o que devemos realmente valorizar. A conclusão é que não devemos glorificar artistas cegamente, mas sim, ter um olhar crítico sobre suas ações, mas sem deixarmos de apreciar e valorizar seus trabalhos.

Segunda Parte

Acreditamos nunca ter chegado a uma resposta conclusiva sobre o que é arte, tendo essa questão me perseguido desde o início do Ensino Médio. Em uma definição formal, encontrada nos dicionários, arte é a “capacidade ou habilidade para a aplicação de conhecimento ou para a execução de uma ideia”.

Ao abordar essa questão, sempre lembramos, de imediato, do acontecimento proporcionado pelo escultor e poeta Marchel Duchamp, posicionando um mictório de louça em uma exposição na cidade de Nova York, no ano de 1917. Aliás, o artista foi um dos expoentes do dadaísmo, vanguarda que questionava o status da arte. Baseando-se na definição formal, o objeto de banheiro é sim uma forma de arte, mesmo que não tenha sido projetada a fim de atingir apreciadores. E esta é justamente a principal diferença entre a arte e a obra de arte. Enquanto a segunda pode ser idealizada exclusivamente para apreciação e interesse de pessoas, a primeira visa uma utilidade prática. Nesse sentido, quase tudo o que há no mundo pode ser encarado como arte.

Do outro lado, a obra envolve outros aspectos, influenciados por fatores históricos e culturais. Por exemplo, um quadro produzido nos dias atuais talvez não fosse bem visto na Idade Média, assim como uma obra de arte que, feita e exposta em um continente, pode não ser bem recebida em outro. Isso escancara um aspecto essencial para a sobrevivência de determinada obra: uma boa recepção. Consequentemente, a discussão do tema torna-se algo ainda mais delicado, visto que o gostar ou não de uma pintura, por exemplo, é extremamente pessoal.

Fonte, 1917, de Mercel Duchamp

“Resta por tanto uma única opção, da qual J agora se dá conta: declarar que aquela controvertida superfície vermelha é uma obra de arte. Por que não?”. O trecho citado foi retirado do livro “A transfiguração do Lugar Comum”, escrito pelo norte-americano Arthur Danto. O autor divaga em ideias acerca do que pode ser considerado obra de arte, argumentando que se trata de um campo filosófico obscuro. Creio que esta seja uma boa definição, tendo em vista que é extremamente difícil e relativo chegar-se em um consenso de como a arte ultrapassa o limite que a separa da obra.

Jackson Pollock, artista escolhido para o trabalho, produziu boa parte de suas obras utilizando-se do caráter abstrato, sendo reconhecido por seu estilo único de pintura por gotejamento. Ao analisar seus quadros, é evidente que não foi algo produzido para fazer sentido ou induzir a uma complexa reflexão, tratando-se de uma forma de expressão do artista. Isso prova a alma pessoal e relativa que envolve, principalmente, uma obra de arte abstrata. Aqui, o mítico e a beleza são protagonistas, mesmo que seja variável entre indivíduos.

Convergence, 1952, de Jackson Pollock

Documentários e vídeos sobre o artista que valem a pena assistir:

  1. Documentário: “Jackson Pollock” (1987) da diretora Kim Evans
  2. Documentário: “Jackson Pollock: Blue Poles” (2019) da diretora Alison Chernick
  3. Vídeo: “How Jackson Pollock changed painting forever” de Sotheby’s
  4. Vídeo: “How Jackson Pollock became so overrated” da Vox ( vídeo crítico interessante e dinâmico sobre como enxergamos arte).

Bibliografia:

  1. Istoé — Jackson Pollock: A pintura que é muito mais que um monte de borrões;
  2. TodaMatéria — Jackson Pollock: vida e obra;
  3. Arte & Artistas — Mural, Jackson Pollock;
  4. Cultura genial — 7 obras para conhecer Jackson Pollock;
  5. Artnews — Where is Jackson Pollock’s Largest Painting Is Touring the World, and Its Mysteries Are Coming to Light;
  6. Biography — Jackson Pollock;
  7. Continente — Notícia sobre Jackson Pollock;
  8. Hisour — Pintura por gotejando.

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Estudante de Jornalismo, carioca, tenho 19 anos. Sou amante de cinema e de música.