A VIDA NA… MAIOR TORCIDA ORGANIZADA DO BRASIL

Um dia na sede da Gaviões da Fiel

Bandeiras, instrumentos musicais, troféus do carnaval de SP: como funciona a agremiação símbolo dos corintianos

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4 min readMay 2, 2023

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Otávio Pinheiro

Sede da Gaviões da Fiel, no Bom Retiro, São Paulo. Foto: Otávio Pinheiro

A Gaviões da Fiel é a maior torcida organizada do Corinthians e do Brasil e tem presença forte nos jogos e na cultura do clube. Como é um dia na vida de um membro dessa torcida organizada? O que acontece quando não há jogos? Como é a preparação para os jogos em casa e fora? Na tarde da segunda-feira 3 de abril, o Labjor FAAP foi à sede da Gaviões da Fiel, localizada no Bom Retiro, região central de São Paulo, achar a resposta para essas e outras perguntas.

Já na entrada, o ambiente da quadra é acolhedor para quem torce para o Corinthians: todo decorado nas cores preto e branco, está cheio de bandeiras, fotos e troféus que remetem às conquistas da Gaviões da Fiel no carnaval paulistano. Mas é preciso cuidado com a cor da roupa. Na porta, uma placa avisa: “É extremamente proibida a entrada de verde”, em referência aos rivais palmeirenses.

No momento da visita, os membros da torcida que estavam na sede eram em sua maioria jovens, com idades variando entre 18 e 30 anos, e a maior parte dos quase 30 presentes ali vestia camisetas com as cores da torcida. Circulam durante a semana pela sede da agremiação pessoas que se encontram para discutir assuntos relacionados ao clube e para organizar ações sociais e eventos para os torcedores.

Questionado sobre a logística usada para jogos em casa e fora, Guilherme Amorim, um dos responsáveis pela organização da torcida em dias de partida, explicou que a preparação já tem início vários dias antes, quando a torcida começa a organizar o transporte para o jogo.

“Nós temos ônibus que saem da sede e levam a torcida até o estádio”, contou ele. “Também temos um esquema de segurança muito rígido para proteger as bandeiras e instrumentos, que são nosso patrimônio. Cada pessoa tem sua função, seja na caravana de membros ou no ônibus que transporta nossos materiais.”

Parte do acervo de bandeiras e instrumentos da Gaviões da Fiel está exposto em um espaço na sede da torcida. Na sala do departamento de bandeiras, onde ninguém de fora pode entrar, há bandeiras de todos os tamanhos, desde as pequenas até as gigantes, que são levadas em dias de jogos para a Neo Química Arena — o estádio do Corinthians localizado em Itaquera, na zona leste de São Paulo.

Bandeirão da Gaviões estendido no setor Norte da Neo Química Arena. Foto: Otávio Pinheiro

A logística é essencial para garantir que a torcida esteja presente em todos os jogos, tanto em Itaquera quanto em outros estádios. É uma verdadeira operação de guerra, que envolve planejamento e organização.

“Primeiro, temos que verificar quantos ingressos foram disponibilizados para a torcida visitante, para saber quantas pessoas poderão viajar. Depois, organizamos os ônibus. As caravanas são abertas para qualquer torcedor comprar, mas não-sócios têm uma cobrança maior. A prioridade sempre são os sócios”, explicou Gustavo Quirino, membro há 20 anos da Gaviões e habitué das caravanas da torcida.

Segundo ele, conforme as vagas vão sendo preenchidas, a Gaviões passa a buscar outros ônibus para comportar a todos. “Em dias de jogos em casa, chegamos cedo ao estádio para preparar todo o material. Já em jogos fora, levamos o mínimo necessário para evitar problemas com as autoridades.”

Além da logística e da segurança, a história da Gaviões da Fiel é outro assunto que desperta muito interesse nas pessoas. Fundada em 1969, a torcida é uma das mais tradicionais e apaixonadas do País, além de ser a maior de todo o território nacional, com mais de 100 mil sócios registrados.

Para falar um pouco sobre a história da torcida, conversamos com Fabio “Cobrador”, que faz parte da Gaviões desde 1989 e era um dos membros mais antigos na sede da agremiação no dia da visita do LabJor FAAP.

“A Gaviões da Fiel nasceu da paixão pelo Corinthians e da vontade de apoiar o time. Desde o início, fomos uma torcida muito engajada e participativa”, resumiu Cobrador.

Nem sempre, porém, os integrantes da Gaviões da Fiel puderam vestir a camisa da torcida e levar bandeiras e instrumentos musicais para a arquibancada. Mais de uma vez, devido a conflitos e brigas com torcedores de outros clubes, seus membros foram proibidos de entrar uniformizados nos estádios. O veto mais recente aconteceu em janeiro de 2017, quando o juiz Marcelo Rubioli determinou “a impossibilidade de ingresso ou permanência (das torcidas organizadas) em toda e qualquer praça de qualquer modalidade esportiva”.

Essa determinação não só proibia a própria Gaviões de utilizar suas camisas e instrumentos como também de outras agremiações corintianas, como Camisa 12, Pavilhão Nove e Coringão Chopp. Apenas em 2019 foi concedida a volta do uso dos adereços das torcidas.

Proibidas em 1996, também após brigas com torcedores de times rivais, as famosas bandeiras com mastros também voltaram a marcar presença nos jogos em estádios paulistas apenas em outubro de 2022. Hoje cada organizada pode levar até dez delas numa partida.

Bandeiras com mastros durante treino aberto. Foto: Daniel Augusto Jr/ Agência Corinthians

“Ao longo dos anos, enfrentamos muitos desafios, como a proibição de bandeiras e instrumentos nos estádios. Mas sempre lutamos pelos nossos direitos e conseguimos vencer muitas batalhas”, resume Cobrador. “Hoje somos uma torcida forte e unida, que apoia o Corinthians em todas as situações e em qualquer lugar onde ele for jogar.”

PARA SABER MAIS

Gaviões da Fiel

Rua Cristina Tomás, 183, Bom Retiro, São Paulo

Telefone: (11) 3221–2066

Site: gavioes.com.br

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