Explorando o Norte do Chile

Descubra as maravilhas desde Santiago até Arica, rodando pela costa e também pela Cordilheira dos Andes.

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13 min readFeb 22, 2019

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Para quem curte praia e montanha este roteiro agrada aos dois! Fiz essa viagem em 21 dias saindo de Santiago e voltando de Arica de avião. No meu caso fizemos parte do trajeto de ônibus e parte de carro alugado. Basicamente fazíamos as distâncias mais longas de ônibus e ao chegar nas cidades alugávamos um carro para explorar os arredores. Para minha surpresa, descobrimos locais pouco conhecidos pelos brasileiros, mas bem aproveitado pelos chilenos. De uma beleza exuberante essa costa esconde segredos e locais que, para mim, são pérolas. Aproveite enquanto ninguém sabe ainda!

Pontos de (muito) interesse:

- Valle del Elqui
- Punta Choros
- Observatório La Silla
- Parque Nacional Nevado Três Cruzes
- Parque Nacional Pan de Azúcar
- Cidades salitreiras

Valle del Elqui

Pisco Elqui fica a 570km de Santiago passando por La Serena, pela Ruta 5 e 41. É possível ir de ônibus até La Serena e alugar um carro lá para visitar o Valle. Saindo de La Serena são apenas 100km de estrada asfaltada e muito bem sinalizada.

Famoso pelas vinícolas o Valle del Elqui tem três vilas importantes: Vicuña, Varillar e Pisco Elqui. Me hospedei em Pisco Elqui, simpática vila, bem turística e com boas opções de hospedagem, com muitos spas e locais para relaxamento, perfeito para recarregar as energias. Mercadinhos pequenos oferecem o básico e sempre tem empadas pra matar a fome. A vinícola Mistral fica na praça principal, com restaurante, tour guiado e um delicioso Pisco.

O que impressiona no vale são as imensas montanhas cor de areia que contrastam fortemente com as plantações de uva. A mostatel é a uva que faz o pisco e essa é a região principal para produção desta que é a bebida mais famosa do Chile. Diversas vinícolas oferecem tours. O céu limpo e estrelado é com certeza um dos motivos que mais atrai os visitantes, não é a toa que muitos observatórios estão nessa região. É possível visitar alguns deles mas poucos oferecem observações noturnas.

Para os exploradores curiosos recomento pegar a estrada de Pisco Elqui até o final, passando Alcoguaz que é o último vilarejo. Vá até onde a estrada acaba e aprecie a linda paisagem.

Final da estrada passando Alcoguaz. Aprecie os vales profundos do Elqui.

Para saber mais sobre o Elqui recomendo essa matéria: http://www.melhoresdestinos.com.br/dicas-valle-del-elqui-chile.html

Punta Choros

De La Serena, pela Ruta 5, você chega em Punta Choros, esse vilarejo de pescadores que é praticamente desconhecido dos turistas brasileiros. Com ares hippie e pouca infra-estrutura a principal atração é a fauna que é abundante. Os passeios de barco te levam para as ilhas próximas onde se pode observar golfinhos, pinguins e outros animais marinhos. De águas cristalinas e de um verde esmeralda as pequenas praias são bem tranquilas, mas o mar é absurdamente gelado. A praia conta com alguns campings e boa infra-estrutura para acampar. São várias opções de hospedagem na vila, mas os preços podem ser bem caros na alta estação. Caminhando pela praia de Punta Choros, passando as grandes pedras você vai chegar num prainha particular, no alto de um rochedo e de frente para o mar tem um hotel que oferece domos para se hospedar (https://www.puntadedomos.cl). Um lugar incrível para descansar e curtir a natureza.

A vila é bem simples, tem algumas opções de mercadinho, muitos restaurantes e campings. Importante, não existe posto de gasolina, mas um morador local vende combustível caso precise. Portanto vá com o tanque cheio, mesmo na Ruta 5 não tem posto perto, só em La Serena.

Praia de Punta Choros, pequena e aconchegante com uma faixa curta de areia branca.
Ótimas opções de camping de frente para praia.
Uma praia particular dá acesso a este hotel de domos.
Punta Domos, uma opção de hospedagem bem interessante e diferente.

Observatório La Silla

Localizado no alto da Cordilheira, fica a 2 horas tanto pra quem sai de Punta Choros ou de La Serena. A visita é gratuita e guiada, somente aos sábados a partir das 13:30 e deve ser agendada com antecedência por e-mail através deste site: clique aqui. Você deve levar as autorizações impressas e preenchidas para entregar na portaria, de lá você sobre com seu próprio carro.

O Observatório Astronómico é um centro de pesquisa científica localizado a 2400 metros de altura em La Silla. Inaugurado em 1969 e operado pela organização internacional European Southern Observatory (ESO), o observatório tem um sofisticado equipamento, sendo 14 telescópios ópticos com espelhos de 3.6 metros de diâmetro e radiotelescópio de 15 metros, os mais importantes.

Apesar não ser possível observar o céu noturno, o local é de uma beleza incomparável e poder entender e conhecer o funcionamento destes telescópios é uma experiência incrível. Os guias muito atenciosos são astronomos e podem esclarecer todas as dúvidas. O tour começa com uma apresentação de vídeo e depois você vai com seu próprio carro percorrendo as instalações e entrando nos telescópios. Leve lanche, água e muito protetor solar. Não tem nada no caminho nem nenhum lugar para comprar nada. O local possui um mínimo de infra-estrutura com banheiros e recepção.

Sala de controle dos telescópios.

Parque Nacional Nevado Três Cruzes

Na minha opinião esse trecho foi um dos mais bonitos da viagem. Subir a Cordilheira dos Andes e explorar suas quebradas é sempre uma aventura e revela surpresas agradáveis. Se você gosta de estradas isoladas, grandes paredões de rocha, maciços montanhosos e lagunas altiplânicas esse é seu lugar.

O Parque fica a mais ou menos 200 km de Copiapó, subindo a Cordillheira, mas não se engane, são no mínimo 3 horas para chegar lá. As estrada (Ruta 31) não é asfaltada mas é muito boa, bem compacta e sinalizada, termina na fronteira com a Argentina, a partir daí ela é toda de terra. O Parque Nevado Três Cruzes é só uma parte dessa área, não é necessário fazer os trâmites na aduana chilena se você não vai cruzar a fronteira, porém a parada é obrigatória e um registro de entrada é feito. Ao contrário da informação do site da CONAF não pagamos nada de entrada no Parque, sequer vimos uma recepção ou entrada, a não ser a sinalização das placas do caminho.

Diferente das empresas de turismo que fazem este roteiro, nós decidimos primeiro ir direto a Laguna Verde que é o ponto mais longe (saindo de Copiapó) e depois fazer a volta por dentro do Parque. Dessa maneira evitamos o fluxo de turistas (que é pequeno) e fizemos o passeio todo praticamente sozinhos, cruzamos por muito poucos carros. A estrada até a laguna é excelente.

Esse mapa dos postos Copec vai te ajudar muito! Fizemos o caminho demarcado em amarelo. Mas se você tiver tempo faça a Laguna del Negro Francisco.

A volta fizemos passando pela Laguna Santa Rosa, é o caminho marcado em amarelo no meu mapa aí em cima. A laguna é um lugar impressionante assim como todo o caminho que vai serpenteando pelas montanhas. A estrada após a Laguna é bem ruim, com bastante costela de vaca e buracos, as vezes tem trechos com bastante areia na beira de penhascos, nessas horas você agradece de estar num carro confiável e com tração 4x4. Se tiver, recomendo que use a reduzida e bloqueio, a estrada é perigosa mesmo, muito cuidado. Depois da descida você entra em um vale maravilhoso, com macissos montanhosos gigantescos. De tirar o fôlego. O local é praticamente vazio. Silencioso.

Laguna Verde.
Nossa Hilux alugada. Prepare o bolso para bancar o aluguel e o combustível. A Ruta 31 até a laguna é excelente.
Laguna Santa Rosa.
O caminho da volta foi por entre as montanhas, um vale lindíssimo com paredões enormes.

Ficou faltando a Laguna del Negro Francisco. Por conta do horário, pois já era próximo das 17hs não conseguiríamos fazer o caminho todo, por isso cortamos por dentro e visitamos apenas a Laguna Santa Rosa. Porém, se você tiver tempo e combustível vá com calma e faça o passeio completo, com certeza vale a pena. Lembre-se de voltar antes de escurecer pois dirigir a noite é muito perigoso. Nessa região não existe sinal de celular, portanto esteja preparado para emergências e avise os caribineiros sobre seu trajeto.

DICA IMPORTANTE: Como não tem posto de gasolina nesse trecho todo é conveniente levar galões de combustível extra. O único posto está do lado da Argentina e acredite, se esse não for seu caminho você não vai querer fazer um bate volta só para abastecer. No mínimo 20 L de combustível extra é necessário para garantir ida e volta, obviamente que se você rodar mais que um dia por lá vai precisar de mais, portanto planeje bem o consumo. A subida é muito forte e a estrada de terra fazem com que o consumo do carro seja elevado, portanto manere no acelerador. É necessário um veículo 4x4 e se tiver reduzida melhor. A maioria da locadoras oferecem pick-ups como a Hilux ou L200. O aluguel é salgado, esteja preparado para desembolsar ao menos R$600,00 pela diária. Porém o passeio é tão bonito que compensa o furo no bolso!

Copiapó é uma cidade muito acolhedora e simpática. Tem muitas opções de hospedagem, restaurantes e um comércio central. Visite o Museu do Atacama, onde está a capsula original (Fenix 2) que resgatou os 33 mineiros da Mina San José. Que aliás é outro passeio bem interessante, a mina fica entre Caldera e Copiapó (Ruta C-351), por uma estrada asfaltada e de fácil acesso. O guia é o 11º mineiro resgatado, vale muito a visita pra quem acompanhou o drama do resgate. Será cobrado CH 5.000 por pessoa e você ainda ganha um cartão com a reprodução do bilhete que provou que os 33 estavam vivos.

Parque Nacional Pan de Azúcar

A cidade mais próxima é Chañaral, que diga se de passagem não tem boas opções de hospedagem e tão pouco agrada para passeios. Você terá que pagar uma taxa de CH 5.000 pesos para entrar no Parque que vale por 24 horas. Lá dentro tem opção de cabañas (www.pandeazucarlodge.cl) e camping (www.camping-pandeazucar.cl), ambos bem estruturados e de frente para o mar. Também tem restaurantes e um pequeno comércio local.

Você será muito bem recebido no centro de visitantes que conta com um pequeno museu arqueológico e o guarda parque (muito simpático) pode ter dar todas as informações sobre as histórias do parque, geologia, trilhas, estradas e passeios.

O Parque é praticamente desconhecido pelos brasileiros e do turismo tradicional. Com praias desertas, flora e fauna diversa e abundante, além de um rico tesouro arqueológico. Na área litoral do parque encontram-se vestígios de assentamentos de grupos caçadores e pescadores nômades que alí viveram a mais de 8.000 anos.

Suba no mirador Sendero Costero para ver a vista da costa que é uma maravilha. É uma trilha curta, sinalizada e bem fácil de subir. A outra trilha é de 4 horas, é o Sendero Las Lomitas, mais puxada por ser subida acima. Fiz somente a mais curta e já valeu muito, a vista é espetacular. Se não fosse pelo mar, o cenário parece de um filme de faroeste.

É possível fazer passeios de barco para a Isla Pan de Azucar que fica na frente da praia Caleta Pan de Azucar. Não é permitido desembarcar na ilha, mas a atração principal é avistar os lobos marinhos e pinguins. Mas há também guanacos, pelicanos e até baleias passam por lá. A flora, basicamente de cactus, é extraórdinaria. O cenário pre-histórico te faz imaginar dinossauros andando por alí.

Vista do mirador Sendero Costero.

Depois de Chañaral fomos para Antofagasta. Não apreciamos muito as cidades grandes, mas para quem gosta essa tem shoppings, comércio popular tipo 25 de Março e cassinos com baladas e festas. E vida noturna é agitada.

Mas um opção de passeio bem legal nessa região são as cidades abandonadas da época do salitre. Aproveite, e não perca a chance de visitar essas cidades fantasmas, as principais são Maria Helena, Pedro de Valdívia, Chacabuco e mais distante um pouco Humberstone. Baquedano é um museu ferroviário, bem pequeno mas muito interessante. Você vai precisar de um carro pra chegar lá, mas não precisa ser um 4x4. Saindo de Antofagasta fica bem fácil de visitar várias delas, as estradas são asfaltadas e tem postos pelo caminho. Lembre-se de levar muita água, comida e protetor solar, o sol é escaldante e o clima árido é de matar. Pra quem curte fotografia é um prato cheio! Não espere recepção, Baquedano por exemplo você vai entrando passando pelo meio de grades. Já Coquimbo tem um zelador e será cobrado uma taxa de CH 3.000 pesos para visitar.

Museu de trens em Baquedano.
Cidade salitreira de Chacabuco.
Mapa da mina das cidades salitreiras.

Depois de Antofagasta passamos por Iquique, uma cidade de praia muito agradável e com uma centro bem movimentado com barzinhos e muita música. Belas casas, bons hotéis e restaurantes. Excelente lugar para parar e descansar um pouco. Já Arica eu não recomendo, cidade de fronteira, zona franca e portuária. Muito suja e desagradável para o turismo, comparando com o que vimos antes. Talvez seja interessante para os praticantes de surf e paraglaider, sei que tem picos interessantes para quem gosta. Mas para quem não pratica esses esportes eu não tive uma boa impressão da cidade. Em compensação a estrada de Iquique para Arica foi espetacular! Fiz de ônibus, portanto não consegui parar para fotografar, mas o que ví pela janela deixou vontade de voltar. Lindos e assustadores penhascos, vales profundos e encostas de rochas impressionantes. Me lembro de uma pequena vila com alguma coisa de hospedagem, bem rústica e no mínimo deve ser bem peculiar passar uma noite alí no meio do caminho. Mas essa vai ficar para uma próxima viagem!

Ônibus no Chile

Os ônibus no Chile são super confortáveis, são aqueles de dois andares e tem opção de leito e semi-leito, com banheiro, ar-condicionado e televisão. As passagens mais baratas de semi-leito custam de R$50,00 a R$80,00 (CH9.000 a 15.000 pesos). Para viagens mais longas eles costuma dar um lanchinho que vem numa caixinha. Mas isso porque os ônibus lá não fazem paradas como aqui no Brasil, eles seguem direto parando apenas para troca de motorista ou para abastecer e normalmente ninguém desde pra nada. Achei isso bem estranho mas enfim, lá é assim. Por isso é bom levar seu próprio lanche e bebida para não passar aperto. No geral o ônibus é uma ótima opção, além de barato é bom para quem não quer alugar carro e cobrir longas distâncias.

Aluguel de carro

Nas altas estações, principalmente no verão, pode ficar difícil de encontrar carros disponíveis para alugar pois as cidades estão cheias de turistas. Portanto, procure já alugar o carro com antecedência ou procure as locadoras locais, sem ser as grandes e famosas internacionais. As locais tem melhores preços e costumam ter carros disponíveis.

Terremotos e alagamentos

Não se esqueça que o Chile está exposto constantemente a terremotos que podem ser pequenos "tremblores" ou fortes e destruidores. Pegamos um de 6,7 em La Serena que não foi nada agradável, principalmente quando o alerta de tsunami disparou no meu celular e também soou nas ruas da cidade. Descobri que ter um chip de celular chileno é bom para estas situações de emergência, compre um pré-pago e mantenha ele sempre ligado. A defesa civil sempre dispara alertas, baseados na sua localização em caso de evacuação da área. O inverno boliviano gera muitas chuvas que descem a Cordilheira e causam desastres por todo Chile. Estradas fechadas, desmoronamentos e rios alagados, sua viagem pode viram um inferno de um dia para o outro.

Para evitar sustos, comece prestar atenção nas rotas de fuga, sempre bem sinalizadas em restaurantes, hotéis e nas estradas. Em caso de terremoto busque áreas abertas, corra para rua ou para um páteo aberto. Se não tiver como sair vá para debaixo de uma mesa ou batente de porta. No caso de tsunami procure as placa de Zona de Seguridad, ou vá para locais altos e longe da costa. Tenha sempre em mente para onde você vai sair, terremotos não avisam quando vão acontecer.

Crédito das imagens e roteiro da viagem: Lise Colette.

Equipe de viagem: Christian Montrigaud, Lise Colette e Milena Issler.

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Há mais de 17 anos viajando de carro pela América do Sul, já soma mais de 90 mil km rodados por aí. Instrutora do Land Rover Experience. Criadora do HeinGata.