Insatisfação com o próprio corpo, busca por procedimentos estéticos, privação de momentos de lazer como ir à praia, mudança no estilo de vida e na escolha das roupas, sentimento de insuficiência, baixa autoestima. Essas e outras questões são sintomas da pressão estética e dos comentários maldosos que mulheres escutam sobre seus corpos.

Body shaming é uma expressão em inglês usada para definir comentários e atitudes destrutivas relacionadas à aparência alheia, prática cada vez mais comum nas redes sociais. Traduzida, a expressão significa “vergonha do corpo”, entretanto, essa vergonha não parte do próprio indivíduo, ela é provocada por outras pessoas.

O padrão de beleza não é nenhuma novidade. Desde a Grécia Antiga à Marylin Monroe e a era Hollywoodiana, até a ditadura da magreza e a volta da imposição de um corpo escultural, como as Kardashians. Não há corpo humano que sustente, naturalmente, tantas mudanças.

Com as redes sociais, a pressão e a opinião alheia sobre nossos corpos é ainda maior. O linchamento de figuras públicas e os constantes ataques e comentários desagradáveis relacionados ao corpo de influenciadoras, atrizes e cantoras escancara algo que é comum a todas as mulheres, anônimas ou famosas.

Recentemente, a atriz Paolla Oliveira, que é passista da escola de samba Grande Rio, foi duramente criticada e chamada de gorda em um vídeo publicado pela agremiação. “A idade chegou”, “braço de merendeira”, e “deu uma engordada” foram alguns dos comentários que citavam o nome da atriz no X (antigo Twitter).

Letticia Munniz, influencer e apresentadora, também foi criticada no Instagram após publicar uma foto em um vestido transparente na virada de ano. Letticia foi, inclusive, alvo de uma matéria destacando que havia “chocado a web com seus seios imensos”.

As agressões, que são feitas de forma deliberada na internet, também se materializam na “vida real”, e são inclusive, transmitidas em rede nacional. Yasmin Brunet, modelo e participante do Big Brother Brasil 24, tem tido o corpo constantemente objetificado e comentado pelos homens da casa. “Ela já foi melhor”, “Não para de comer”, “Tem um corpo bonito, mas pode melhorar”, são algumas das falas sobre a sister.

Uma das muitas consequências do body shaming, além da insatisfação permanente com o próprio corpo, é o desejo de querer mudar o que desagrada. Uma pesquisa recente conduzida pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SDB) aponta um nível de 390% na busca por procedimentos estéticos no país. A pesquisa revelou que aproximadamente 80% dos 1,2 mil entrevistados já haviam feito algum procedimento não invasivo.

Números mais recentes da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC) dão conta que são realizadas no país, em média, 1,5 milhões de cirurgias plásticas por ano. Para 2023, a expectativa era de que este número batesse os 2 milhões. A marca atual faz do Brasil um dos países em que mais pessoas se submetem a cirurgias estéticas em todo o planeta, atrás apenas dos Estados Unidos.

Segundo a Pesquisa Global da Isaps, os procedimentos mais procurados foram lipoaspiração, com crescimento de 21,1% entre 2021 e 2022, silicone, cirurgia de pálpebra, abdominoplastia e lifting de mama, respectivamente.

Em entrevista ao podcast O Assunto, do G1, a psicanalista Joana Novaes explicou que o fenômeno da pressão estética ainda é mais intenso quando se trata de mulheres famosas, já que o poder aquisitivo e a fama trazem consigo a cobrança para que mantenham um corpo dentro do padrão esperado.

Como é o caso da cantora Jojo Todynho, de 26 anos. Jojo decidiu fazer uma cirurgia bariátrica em agosto de 2023, após externar seu desejo de ser mãe e de ter uma melhor qualidade de vida. Entretanto, as críticas não cessaram após o procedimento, pelo contrário, as críticas agora são aos “resultados”, que, segundo os haters, demoram a aparecer.

A pressão estética e os comentários negativos fazem com que mulheres travem uma batalha com si mesmas, resultando em problemas físicos e mentais. Mergulham em distúrbios alimentares, transtornos de ansiedade generalizada e depressão, enquanto o machismo impõe uma busca incessante por um padrão de beleza inalcançável a elas.

Homens seguem explorando a insegurança feminina para alimentar uma sensação de superioridade e aliviar questões relacionadas a si mesmo e sua própria autoestima.

Mas, apesar do cenário sombrio, há uma luz no fim do túnel: cada vez mais mulheres têm desafiado os padrões, e os agressores não têm passado impune dos linchamentos virtuais. Por isso, é preciso seguir lutando contra a corrente.