Antes de falarmos da HQ, uma rápida contextualização da série: Spectreman é uma série do gênero Tokusatsu (termo que significa “efeitos especiais” e faz referência a produções, geralmente de baixo orçamento, que fazem uso de efeitos, em sua maioria, bem precários). Essas produções faziam o gênero ficção científica ou com super-herói ou grupo de heróis que recebiam poderes de alguma entidade extraterreste ou eles próprios já eram poderosos e vinham ao nosso planeta com a intenção de defendê-lo de alguma ameaça galáctica.
Spectreman foi produzido entre 1971 e 1972 e conta com 63 episódios. A trama gira em torno do Dr. Gori e seu atrapalhado auxiliar Karas, dois simioides (gorilas humanoides) que vieram à Terra com a intenção de dominar o planeta se valendo da poluição produzida pelos próprios habitantes. Se valendo da sujeira espalhada pelo planeta, Dr. Gori criava monstros que sempre surgiam pra destruir tudo e, para equilibrar as coisas, os Dominantes do planeta Nebula 71, enviam um androide chamado Spectreman para combater os monstros e proteger a Terra.
O herói assume a forma do humano Kenji e se emprega numa repartição de controle da poluição ambiental para estar sempre antenado sobre os ataques de Gori. Quando necessário, Kenji convocava os Dominantes, que lhe enviavam suas partes robóticas para que ele se transformasse em Spectreman. Com isso, ele adquiria vários recursos: podia aumentar de tamanho para enfrentar os monstros, disparava raios laser, podia voar e contava com armas como shurikens e navalhas. Sucesso entre o público infantil, Spectreman era produzida com poucos recursos e o resultado final era bem tosco, mas ela mantém sua aura de clássico cult.
Em 1983, a Editora Bloch aproveitou essa popularidade e adaptou o herói para os quadrinhos. O problema é que a editora não tinha os direitos de publicação do personagem e, para burlar os direitos autorais, lançou um título produzido 100% no Brasil, com algumas modificações para “disfarçar” o plágio: o traje do herói, em vez de marrom e dourado, passou a ser azul, enquanto sua fisionomia ganhou alguns traços diferentes. Por fim, o nome do seu alter ego passou a ser Kenzo.
Como as revistas eram distribuídas somente em território nacional, os editores conseguiram evitar problemas com a produtora da série. A revista Spectreman teve 30 edições e foi publicada entre 1983 e 1986. Todas contaram com roteiros de Carlos Araújo e desenhos de Eduardo Vetillo. O desenhista explicou que a escolha do azul para o traje do herói, dizendo que os dois personagens mais populares por aqueles tempos eram o Homem-Aranha e o Superman e ambos trajavam uniformes daquela cor. Por isso, decidiram pegar carona nesse detalhe para alavancar as vendas das edições.
Cada número contava com três histórias. Vez ou outra, a dupla adaptava algum episódio da série live-action, mas a grande maioria das aventuras era inédita. Com o cancelamento da exibição da série pela emissora, a revista perdeu seu principal impulso de vendas e os editores decidiram encerrar a publicação. Mesmo quando o seriado voltou a ser exibido na TV, a Bloch não quis retomar os quadrinhos, mantendo a publicação na memória dos fãs.
Atualmente existe uma versão mangá do personagem, mas esta não tem ligação alguma com o que foi produzido nos anos 80. Para quem colecionou e era fã por aqueles tempos, foi um título que deixou saudades e marcou uma geração, tornando-se extremamente raros e, como tudo que é raro, quando surgem edições à venda em sites especializados, os valores são exorbitantes por uma edição original.