Entrevista. Curador fala sobre a exposição das obras de Miró, em Florianópolis

Paulo Miyada, curador do Instituto Tomie Ohtake, estará nesta semana em Florianópolis em tratativas sobre a mostra “Joan Miró – A Força da Matéria”, prevista entre 10 de setembro e 14 de novembro, no Museu de Arte de Santa Catarina, em Florianópolis

Divulgação/ND

Caminhos da pintura. “Mulher na Noite”, de 1973, uma das obras que  o público encontrará na exposição no Masc

Por Néri Pedroso

* jornalista, membro da ABCA (Ass. Bras. de Críticos de Arte).

Paulo Miyada, curador do Instituto Tomie Ohtake, estará nesta semana em Florianópolis em tratativas sobre a mostra “Joan Miró – A Força da Matéria”, prevista entre 10 de setembro e 14 de novembro, no Museu de Arte de Santa Catarina, em Florianópolis. Organizada pelo Instituto Tomie Ohtake, em parceria com a Fundação Joan Miró de Barcelona, a maior exposição dedicada a Joan Miró (1893-1983) é composta de 41 pinturas, 22 esculturas, 20 desenhos, 26 gravuras, três objetos e fotos sobre a trajetória do pintor catalão. Nesta conversa, Miyada situa a importância do projeto e do artista. Para ele, Miró subverteu, reinventou estratégias de produção, privilegiou a “fluidez e a potência de seus gestos pictóricos”.

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Itinerância. Paulo Miyada: Masc foi escolhido pelo espaço físico e museológico

Notícias do Dia – O que é o mais relevante para a compreensão de Miró?

Paulo Miyada – Primeiro, claro, observar sua produção com atenção e em amplitude. Depois, se possível, atentar como uma ideia aparentemente simples: a de perseguir uma abordagem espontânea e antinormativa da pintura, converteu-se em um desafio monumental ao longo das muitas décadas de produção do artista, que precisou ampliar, subverter e reinventar suas estratégias de produção, sempre privilegiando a fluidez e potência de seus gestos pictóricos.

ND – Miró é um artista de simples compreensão ou a sua poética traz complexidades?

Paulo Miyada –  Ambos. Por desafiar qualquer regra herdada da pintura acadêmica, a obra construiu um lugar de ampla experimentação, aberto às mais variadas interpretações e percepções – ele mesmo procurava surpreender-se com cada um de seus trabalhos ao fazer coincidir fatura e percepção em um só instante. Trata-se, portanto, de um convite generoso ao olhar curioso e inquieto do público. Por outro lado, as relações do trabalho de Miró com a produção dos outros artistas modernistas são complexas e repletas de nuances, oferece muitas armadilhas para quem quiser resumir sua produção em conceitos, movimentos e ideias estanques. Trata-se, nesse sentido, de um desafio para críticos e historiadores.

ND – Quais são as singularidades de Miró nesta exposição? O que é mais importante na mostra, se é que se pode hierarquizar algo num projeto deste porte?

Paulo Miyada – Em primeiro lugar, é preciso destacar a presença de um conjunto significativo de pinturas, um corpo de 40 obras cuja vinda ao Brasil representa um fato inédito. Depois, o fato da mostra reunir muitas experiências pouco conhecidas do artista, em especial as pinturas e desenhos feitos sobre suportes inusuais, como fragmentos de madeira, papéis de embrulho, lona e até pintura vernaculares apropriadas pelo artista. Vale ainda ressaltar o conjunto de esculturas em bronze e de gravuras, que dá acesso aos vários caminhos que o artista percorreu a fim de manter-se desafiado mesmo após o reconhecimento do público e da crítica.

ND – Há obras inéditas? Quantas saíram do acervo da família?

Paulo Miyada – As obras presentes na exposição vieram das coleções da Fundació Juan Miró e da família do artista. Destas últimas, três nunca haviam sido emprestadas para serem exibidas ao público.

ND – Por que Florianópolis foi incluída no roteiro da exposição? O determino a escolha? De que modo foi costurada a parceria entre o Instituto Tomie Ohtake e o Museu de Arte de Santa Catarina?

Paulo Miyada – Em exposições desse porte e interesse público, faz parte da política do Instituto Tomie Ohtake promover itinerância que tornem mais abrangente o acesso e o debate sobre os artistas. Foi assim com as mostras de Salvador Dalí, Yayoi Kusama e Louise Bourgeois, por exemplo. Rio de Janeiro, Brasília e Buenos Aires receberam algumas dessas itinerâncias e foi visto com bons olhos a possibilidade de levar a mostra de Miró para outra cidade, no caso, Florianópolis. O Museu de Arte de Santa Catarina foi um parceiro natural para essa iniciativa devido a seu espaço físico e suas condições museológicas. Esperamos que a exposição e a parceria possam contribuir para o cumprimento da missão do museu e para o amplo contato do público catarinense com a obra Miró.

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Mostra, que já está aberta em São Paulo, será oportunidade para conhecer trabalhos de Miró além da pintura

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