#28 Conciliação com o passado?
Mais do que propor elucidações acerca da ancestralidade através da busca e manipulação de imagens de arquivo, Solmatalua parece encantar imagens como se manipulasse artefatos, produzindo também ritmo, ginga e swing. Isso porque desejar muito e apenas as imagens pode ser como olhar para o sol: ao fim se vê tanto que já não se enxerga mais nada. Por vezes convém mais olhar como quem estuda sutis contornos ao brilho da lua sabendo que ver tudo, o tempo todo, nem sempre é preciso. O novo curta de Rodrigo Ribeiro-Andrade faz parte da seleção oficial do 11º Olhar de Cinema – Festival Internacional e está na Sessão PGM 07 | Curtas, junto com Curupira e a Máquina do Destino, Manhã de Domingo, Não Vim no Mundo para Ser Pedra e Orixás Center. Quem não conseguir assistir presencialmente na capital paranaense, pode assistir também online no site do festival até 09/06. Rodrigo já tinha feito barulho em 2020 com o premiado A Morte Branca do Feiticeiro Negro, presente em diversas listas de melhores filmes do ano e com passagem por dezenas de festivais pelo mundo. Solmatalua mantém o nível cinematográfico lá em cima e faz de Rodrigo um novo expoente de potência do cinema brasileiro. Vejam o curta na maior tela possível e com o melhor equipamento de som.
A Feira do Livro no Pacaembu, que ocorre entre os dias 8 e 12 de junho na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu em São Paulo, é um evento inédito e de graça, organizado pela Associação Quatro Cinco Um e Maré Produções. Serão mais de 45 convidados e 120 editoras, livrarias e bancas. A revista Quatro Cinco Um desse mês traz entrevistas e resenhas com alguns dos convidados. A arte da capa é de Andrés Sandoval.
Um dos convidados da Feira do Livro é o escritor moçambicano Mia Couto, que fala sobre a necessidade do esquecimento e o papel da literatura na conciliação com o passado. A vida de escritor começou cravada na violência, o apelido vem da infância entre os gatos. As narrativas dos livros de Mia Couto contam histórias passadas, mesmo se considerando desmemoriado. É assim que o autor descreve a publicação de seu primeiro poema, explica a origem do seu apelido e traduz esquecimento e construção de memórias, temas que atravessam obras como o recém-lançado pela Companhia das Letras O mapeador de ausências. Em entrevista à Quatro Cinco Um, o escritor fala dos papéis sociais que a literatura cumpre e compartilha lembranças e esquecimentos de sua própria vida: Estou muito marcado pela minha própria pertença a Moçambique, em que o livro tem uma presença muito tênue na praça pública e não pública também. O livro faz ainda uma espécie de primeira guerrilha para existir. Este é um país que teve uma independência muito recente, e metade do tempo como país independente foi gasto em guerras que destruíram a capacidade básica de produzir aquilo que é essencial. O livro é essencial, mas foi sempre posto para um segundo plano. Agora, sim, está-se a construir bibliotecas, há já algumas poucas escolas apetrechadas com livros. Basicamente, o livro em Moçambique é o livro que circula nas escolas. Há talvez em todo o país cinco livrarias, meia dúzia. E elas existem em apenas duas, três cidades. Então, em Moçambique, há um grande esforço para fazer com que o livro circule por via de feiras, eventos e festivais. É uma das grandes portas de entrada do livro no país.
PCC: Poder Secreto, série documental original de quatro episódios, está disponível com exclusividade na HBO Max. Inspirada no livro Irmãos: Uma História do PCC, de Gabriel Feltran, e dirigida por Joel Zito Araújo, a obra conta a trajetória histórica da maior facção criminosa da América Latina, retrata os bastidores do ambiente prisional e destaca a cultura musical que reflete uma realidade ocultada pela sociedade. No fundo, a série de Joel Zito é sobre a ineficiência do Estado como provedor de uma sociedade sem desigualdades e injustiça. Cada episódio tem 45 minutos e apresenta um panorama inédito e cronológico do PCC, desde a fundação até os dias atuais. Com depoimentos de ex-agentes carcerários, ex-membros da facção, familiares, autoridades, entre outros, PCC: Poder Secreto narra a história a partir do ponto de vista dos próprios “irmãos”, que revelam suas lógicas internas, códigos de conduta e estruturas. Uma inversão radical da narrativa, quase sempre sob o olhar da polícia, que estamos acostumados a acompanhar no noticiário. A série documental é uma coprodução da Warner Bros., Discovery e Boutique Filmes e baseada em extensa investigação liderada por Daniel Veloso Hirata, William Alves Neves e Thais Nunes.
Ecoando a brilhante newsletter da Think Olga: Eu tenho suporte, eu suporto perder. Em um mundo que cobra perfeição e autossuficiência, Flaira Ferro e Chico César cantam que há potência em assumir vulnerabilidades e pedir ajuda. Autonomia emocional é sobre ser e oferecer suporte.
Em parceria com a Cinemateca da Embaixada da França no Brasil e o Institut Français, a Cinemateca Brasileira apresenta, até o dia 12 de junho, a Mostra 100 ANOS DE ALAIN RESNAIS, com a exibição de nove longas e sete curtas dirigidos pelo diretor francês. Além dos filmes, vai rolar uma palestra com o Professor da ECA-USP Cristian Borges. Resnais ficou conhecido por questionar os códigos da narrativa no cinema, explorando personagens e épocas diferentes em um mesmo lugar ou em um universo voluntariamente artificial e teatral. O trabalho dele faz uma reflexão sobre o lugar da humanidade no mundo moderno. É ao mesmo tempo um cineasta polêmico, desconcertante e, acima de tudo, humano. Todas as sessões serão na Sala Grande Otelo. A entrada é de graça e os ingressos serão distribuídos uma hora antes das sessões.