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Tel Aviv revela a face mais moderna de Israel

Às margens do Mediterrâneo, cidade atrai com praias animadas, arquitetura Bauhaus e História

A orla de Tel Aviv, em Israel
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Cristina Massari
A orla de Tel Aviv, em Israel Foto: / Cristina Massari

TEL AVIV - Com que cores se consegue descrever um país? Em Israel, o deserto da Judeia mescla tons de terracota, Jerusalém reflete o azul do céu nas pedras de suas muralhas, Tel Aviv contrasta a arquitetura branca em estilo Bauhaus com o brilho do sol nos tons do arco-íris, enquanto o Mar Morto revela seu verde cor de água. Nos mercados populares, a paleta é infinita. Às margens das estradas, o verde da agricultura deixa claro o uso da terra para fins produtivos. De tom em tom traça-se um retrato de um país, pintam-se capítulos de sua História. De cores marcantes, Israel não é um destino fácil embora fascinante pela riqueza de sua História. Num território em que se sucedem episódios de invasão, ocupação, disputas e conflitos e há tradições arraigadas — principalmente religiosas, seja qual for o credo — encara-se o presente com cidades que se modernizam e convidam os viajantes a conhecer suas novas cores.

Na cidade branca do Bauhaus, a orla tem as cores do arco-íris

Tel Aviv mostra o lado moderno de Israel. Na longa faixa de areia da orla, restaurantes e o calçadão com bancos e aparelhos de ginástica recebem todo tipo de frequentadores: surfistas, kitesurfistas, paddlers, banhistas, ciclistas, skatistas, pedestres com seus animais de estimação. O fim de tarde ensolarado sobre as ondas do Mediterrâneo dá cores especiais a essa cidade que acolhe também todos as tonalidades do arco-íris. O status de gay friendly , reconhecido mundialmente, confere um charme especial. E o que é melhor: muitos de seus melhores hotéis estão localizados de frente para o mar, concentrados entre a área do porto, mais ao norte, até o urbanizado Charles Clore Park, aos pés do imperdível e histórico Old Jaffa (Yafo, em hebreu, Yafa, em árabe).

A cidade que nasceu no século XX, ao norte de Old Jaffa, cresceu sob influência do estilo Bauhaus. A partir da década de 1930, arquitetos vindos da Europa, com formação na escola modernista criada em Berlim, vieram para Tel Aviv. Não por acaso, a cidade é reconhecida pela Unesco por guardar a maior concentração de prédios em estilo Bauhaus. Há, inclusive, um roteiro arquitetônico que pode ser percorrido a pé para os admiradores da escola minimalista, marcada por composições assimétricas e que dispensa elementos decorativos. Para quem passeia sem compromisso, butiques de grife, restaurantes e bares simpáticos pontilham a região que deu a Tel Aviv o apelido de Cidade Branca, formada pelo Rotschild Boulevard, o Dizengoff Circle e a Bialik Street, marcadas por fachadas Bauhaus. Ao longo do Rotschild, frequentado durante o dia por executivos do mercado financeiro, quiosques ocupam os canteiros centrais. E lá no fim está o Há’Bima Theater, sede do teatro nacional de Israel,numa área que reúne outros teatros. O Dizengoff tem shopping e mais teatros.

O Rotschild abriga bons restaurantes, entre eles o The Social Club, inspirado nos bistrôs modernos nova-iorquinos, com carta de drinques caprichados e cardápio assinado pelo chef Michael Grtofsky, que passou pela cozinha de Gordon Ramsay. Inaugurada em 2010, a casa está badalada, então, é bom reservar. O cardápio lista especialidades como filé de pargo dourado na manteiga com creme de alcachofra de Jerusalém, limão e alcaparras; pasta com pato e porcini etc.

Na orla, uma área claramente revitalizada é a do porto, ao norte dos hotéis e que tem grande movimento à noite, com estabelecimentos perfilados num imenso deque à beira-mar — o Mediterrâneo, nunca é demais lembrar. Mas nem tudo é só festa. Entre casas animadas, bares e restaurantes, você pode passar também por um ato público de mulheres ou de algum grupo político. Com grandes janelões de vidro e ambiente informal, o Boya Restaurant fica perto da foz do Rio Yakon e é uma opção simpática. O cardápio preza por ingredientes frescos: destaque para os pescados. Em Israel, prepare-se para comer, na maioria das vezes, peixe preparado e servido com sua pele e, principalmente, quando estiver mais perto do mar, lulas incrivelmente macias, de sabor memorável.

Da moderna Tel Aviv volta-se ao passado num passeio por Old Jaffa, que se acredita ser uma das cidades portuárias mais antigas do Mediterrâneo, cuja ocupação pode estar relacionada a uma citação ao filho de Noé (Jafé) ou ainda a Cassiopeia, na mitologia grega. Incorporada a Tel Aviv em 1950, a partir da criação do estado de Israel, sua história passa por ciclos de destruição e reconstrução desde o século VII, quando foi dominada por árabes e invadida por cruzados cinco séculos mais tarde. Otomanos, mamelucos e egípcios deixaram suas marcas, assim como Napoleão, que a invadiu no século XVIII. Britânicos chegaram no início do século XX. A partir da década de 1920 serviu de base para o movimento sionista. Suas antigas ruelas que abrigam casas ainda do período otomano hoje estão tomadas por ateliês, antiquários e galerias de arte. No museu Ilana Goor, a artista plástica e colecionadora exibe obras de variados estilos e autores, entre eles Diego Giacometti e Henry Moore em meio as suas próprias, numa antiga casa restaurada do século XVIII.

Com ruelas marcadas com placas com os signos do zodíaco, Old Jaffa compõe um cenário antigo muito procurado também para fotos de álbuns de casamento. Os signos se repetem em placas de bronze na Ponte dos Desejos que liga a parte mais antiga à praça onde fica o Mosteiro de São Pedro. Os visitantes dão uma parada em frente à placa de seu signo para contemplar o mar e fazer um pedido. A paradinha vale também para os céticos: o local rende ótimas fotos da vista para Tel Aviv.

Na descida de Old Jaffa, o caminho nos leva até o mercado de pulgas. Barraquinhas de quinquilharias dividem espaço com butiques em ruelas movimentadas. O mercado andou meio abandonado, até que recentemente as ruas e calçadas foram reformadas e agora lojas com vitrines de marca se avizinham ao movimento. Outro mercado, o de Carmel, chama atenção pelas cores das especiarias e das roupas de procedência duvidosa. Duas ruas acima, barracas vendem artesanatos interessantes, e na rua em frente, cruzando a Ben Yehuda Allenby, o Nahalat Binyamin reúne bares com mesinhas na calçada e lojas de grifes (muitas ocidentais, como Diesel). Vários prédios, com suas fachadas Bauhaus, estão sendo reformados. Cansou de ver lojas? Uma curta caminhada descendo a Ben Yehuda e virando à esquerda o levará à orla e seu simpático calçadão.

Dali, numa curta caminhada à beira-mar, chega-se à estação de trem desativada Há’tachana, reaberta em 2010 como centro de entretenimento com lojas, restaurantes e cafés. Bem ao lado fica Neve Tzedek, o primeiro bairro judeu de Tel Aviv fundado ainda no fim do século XIX, antes de Tel Aviv existir como uma cidade. Historicamente foi povoado por artistas e escritores e assim se manteve. Hoje abriga butiques de designers e simpáticos cafés em casas que conservam seu estilo arquitetônico. Para um mergulho mais profundo sobre arte e arquitetura, vale visitar o Bauhaus Center o Museu de Design em Holon.

Fora dos muros, a nova Jerusalém

Deixando o calor do Mar Morto, atravessando o Deserto da Judeia, chega-se a Jerusalém, cerca de 760 metros acima do nível do mar. A mudança de altitude é inversamente proporcional à diferença de temperatura. Do Monte das Oliveiras, o vento gelado dá mais impacto à impressionante vista. Muros, torres, cúpulas douradas, templos, mesquitas, sinagogas, igrejas — as construções milenares que formam a imagem clássica da cidade assumem suas cores e ganham relevo diante dos olhos. Mas é do lado de fora dos muros da Cidade Velha que Jerusalém se moderniza. Hotéis novos, galerias de lojas e museus imperdíveis fazem da Jerusalém extramuros uma cidade bem diferente daquela dos solos sagrados para judeus, muçulmanos e cristãos.

O ícone mais notável dessas mudanças é a ponte do trem metropolitano, ou ponte de cordas, de Santiago Calatrava. O arquiteto que marca seu estilo com pontes suspensas por cabo de aços, como em Buenos Aires, desenhou a de Jerusalém na entrada da porção ocidental da cidade, em forma de harpa — uma homenagem ao Rei Davi. Inaugurada em 2008, a ponte sustenta o metrô de superfície que começou a circular há um ano, após atrasos devido a descobertas arqueológicas durante as escavações e controvérsias pelo fato de seu percurso cortar territórios da Jerusalém oriental conquistados pela municipalidade na Guerra dos Seis Dias.

Com seus prédios predominantemente em cor areia (a legislação determina que todos os prédios tenham fachada revestida com a mesma pedra), Jerusalém ganha tonalidade especial sob a luz avermelhada do sol poente. Caminhar por ruas como a Ben Yehuda, de pedestres e de comércio, sentar para um café, observar um músico que toca por alguns trocados é um programa comum e agradável. Um pouco mais de sofisticação? Então o endereço é Mamilla Mall, aberto em 2007: galeria ao ar livre com grifes e lojas de design. Se você não passou na loja de cosméticos da fábrica da Ahava na ida ao Mar Morto, esta é a chance. E uma simpática filial da rede de lanchonetes Aroma serve comidas rápidas saudáveis. O Mamilla Mall fica ao lado do Portão de Jaffa, que dá acesso à cidade murada.

No Museu do Holocausto (Yad Vashem), o projeto de Moshe Safdie (o mesmo que assina o Mamilla Mall e o complexo Marina Bay Sands, em Cingapura) faz os visitantes percorrerem o acervo num um único sentido em fila. Ao final, um janelão com vista para a cidade sugere um momento de reflexão. Em outra área do museu, a seção dedicada às crianças é ainda mais tocante. Esculturas no jardim que homenageiam a memória dos pequenos já valem a visita, que pode terminar aí para os mais emotivos, porque a parte mais comovente da exposição está na ala coberta.

Já o Museu de Israel, que abriga um vasto e importante acervo, guarda um tesouro precioso: os manuscritos do Mar Morto, que foram encontrados em cavernas de Qumran. No Jardim de Arte, em meio a esculturas e uma maquete da cidade, será exibida, de 16 de agosto a 5 de setembro, a instalação "720", de filmes e videoarte de Ron Arad.

Serviço:

Tel Aviv

Boya: Aberto também para café da manhã e brunch nos fins de semana. Anexo 3, Port Street. boya.co.il

Social Club Modern Bistro: 45 Rothschild Blvd. yourway.co.il/social_club_restaurant

Old Jaffa: O centro de visitantes, na Kdumin Square (a praça principal, em frente à igreja dedicada a São Pedro), exibe a exposição multissensorial Jaffa Tales. oldjaffa.co.il

Museu Ilana Goor: Entrada: 38 NIS (R$ 19). 4 Mazal Dagim St., Old Jaffa. ilanagoor.com

Hatachama: Entre Neve Tzedek e a entrada de estacionamento Hamered Street. hatachana.co.il

Aluguel de bicicleta: Tel Aviv Yafo bike rentals. Uma hora: 5 NIS (R$ 2,50); um dia, 14 NIS (R$ 7).

Bauhaus Center: Tours guiados exposições. 99 Dizengoff St. bauhaus-center.com

Museu de Design: Funciona num prédio projetado por Ron Arad, em Holon, a dez quilômetros da Rotschild Blvd. Ingressos: 35 NIS (R$ 18). dmh.org.il

Jerusalém

Chakra: Pratos inventivos e cardápio com boas opções de carnes em ambiente bastante animado. 41 King George Street. chakra-rest.com

Museu de Israel: Ingressos a 50 NIS (R$ 25). Ruppin Boulevard. imjnet.org.il

Museu do Holocausto: Entrada gratuita. Aluguel de audioguia: 20 NIS (R$ 10). Não é permitida a entrada de crianças até 10 anos. Har Hazikaron. yadvashem.org

Mamilla Mall: Alrov Mamilla Avenue. alrovmamilla.com

Na internet

Informações turísticas: O site oficial de turismo de Israel ( goisrael.com.br ) foi reformulado recentemente e traz informações sobre roteiros e atrações turísticas. Para tours virtuais: itraveljerusalem.com

Cristina Massari viajou a convite do Ministério de Turismo de Israel