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Cara a cara com o imperador D. Pedro I

Museu Histórico Nacional inaugura exposição de impressão 3D de reconstituição forense do rosto do monarca

A reconstituição do rosto de Dom Pedro I no Museu Histórico Nacional: nariz levemente torto é fruto de informações passadas por integrantes da família imperial sobre acidente que resultou na sua quebra perto do fim da vida do monarca
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Antonio Scorza
A reconstituição do rosto de Dom Pedro I no Museu Histórico Nacional: nariz levemente torto é fruto de informações passadas por integrantes da família imperial sobre acidente que resultou na sua quebra perto do fim da vida do monarca Foto: / Antonio Scorza

RIO - O Museu Histórico Nacional (MHN) inaugurou nesta quarta-feira a exposição de uma reconstituição do rosto do imperador D. Pedro I impressa em 3D. Feita com base em fotografia do crânio do monarca capturada pelo fotógrafo Maurício de Paiva quando da exumação de seu corpo para pesquisa liderada pela historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel, da Universidade de São Paulo (USP), em 2012, a reconstituição apresenta ao público uma nova face de D. Pedro I, mais objetiva e menos idealizada, como costuma acontecer com as representações artísticas de líderes e personagens históricas, destaca Paulo Knauss, historiador e diretor do MHN.

- É uma imagem do fim da vida de D. Pedro I, enquanto a maior parte das imagens que a gente conhece dele são anteriores, mais jovem – diz. - Nestes tipos de imagens também existe sempre a concessão poética do pintor, escultor, e D. Pedro I não escapou desta diversidade de interpretações. O que temos aqui então é uma imagem menos imponente, que tenta representar D. Pedro I sem a solenidade tradicional, numa visão mais objetiva e menos dramática dele, do ponto de vista da antropologia forense, uma novidade de nosso tempo que sai do campo de medicina para o dos estudos históricos. Não é que ela seja melhor ou pior do que as outras, e sim mais uma versão possível dentro da plêiade de imagens que configuram esta extraordinária personagem, talvez uma das mais representadas de nossa História.

Responsável pela reconstituição do rosto de D. Pedro I e coordenador da impressão do busto, o designer Cícero Moraes, especializado em reconstrução facial forense, também ressaltou o caráter objetivo do trabalho: “Foi um processo estritamente científico, seguindo protocolos rigorosos”, afirmou em vídeo exibido na cerimônia de apresentação e doação do busto ao museu pelo advogado e hagiólogo José Luís Lira, patrocinador do projeto que adquiriu os direitos da foto do crânio de Maurício de Paiva.

Professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), no Ceará, Lira é conhecido pelos seus estudos sobre a biografia de santos católicos e já tinha trabalhado com Moraes na reconstituição facial de alguns deles, como Santa Maria Madalena, Santa Paulina, São Valentim e São Sidônio de Aix. Assim, Lira não hesitou em procurá-lo para fazer o mesmo com D. Pedro I, que apesar de seu histórico “pouco santo”, como o famoso caso extraconjugal com a Marquesa de Santos, despertou seu interesse por uma posição política que classifica como extremamente liberal para a época.

- Sempre admirei muito D. Pedro I não só como libertador do Brasil, mas principalmente por ele ser um constitucionalista – conta. - Se a gente for ver a Constituição de 1824, ela é muito mais liberal do que o projeto que se encaminhava na Assembleia Constituinte na época. Para se ter uma ideia, o projeto da Assembleia tinha seis pontos que tratavam de direitos fundamentais, e na Constituição dele são 37 pontos. Ela já se preocupava com a educação primária gratuita para todos, já tinha a questão do devido processo legal, coisas que para nós são rotineiras, mas que para aquela época fez da nossa Constituição liberalíssima.

Segundo Lira, mesmo sendo uma personagem histórica cuja imagem é de domínio público, ele também buscou obter autorização da família imperial para fazer a reconstituição, o que acabou se mostrando uma fonte de informações importantes para garantir sua fidelidade.

- Pedi autorização por uma questão de ética, já que a foto em que a reconstituição se baseia foi resultado da exumação do corpo de D. Pedro I – explica. - E isso acabou sendo importante pelas informações que eles deram que ajudaram na reconstituição.

Exemplo disso, diz Lira, é o nariz levemente torto do busto impresso, resultado de acidente que resultou em sua quebra perto do fim da vida de D. Pedro I.

- Perguntei delicadamente a D. Bertrand (de Orléans e Bragança, atual Príncipe Imperial do Brasil) sobre o nariz de D. Pedro, que tinha visto relatos de ser torto, e ele disse que era sim, resultado de uma queda que levou, de cavalo ou charrete – lembra. - Segundo ele, é uma história que todo mundo sabe dentro da família, mas que os livros de História não registram e quase ninguém sabe fora dela.