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Rara Declaração de Independência dos EUA é encontrada na Inglaterra

Documento é um dos dois únicos manuscritos em pergaminho conhecidos

Este é um dos dois únicos manuscritos da Declaração de Independência americana em pergaminho
Foto: Universidade Harvard
Este é um dos dois únicos manuscritos da Declaração de Independência americana em pergaminho Foto: Universidade Harvard

LONDRES — No dia 4 de julho de 1776, o Segundo Congresso Continental aprovou a independência das Treze Colônias, criando oficialmente os Estados Unidos da América. O original da Declaração de Independência foi perdido, mas os Arquivos Nacionais, em Washington, guardam a versão oficial, manuscrita em pergaminho, assinada pelos membros do congresso. Mais de dois séculos depois, uma outra versão do documento foi descoberta do outro lado do Atlântico, guardada nos arquivos empoeirados de um aristocrata britânico “radical” na pequena Chichester, no condado inglês de West Sussex.

O documento foi encontrado em 2015, mas sua autenticidade foi comprovada apenas agora, após anos de análises por especialistas da Universidade Harvard, em parceria com colegas do Arquivo de West Sussex, da Biblioteca Britânica, da Biblioteca do Congresso e da Universidade de York. A conclusão é que o documento de West Sussex é comparável apenas com o guardado em Washington.

“Existem outras declarações impressas em pergaminho, e outras manuscritas em papel. Mas essas duas são as únicas versões manuscritas em pergaminho”, diz a Universidade Harvard, em comunicado.

Análises com imagens multiespectrais revelaram uma data apagada no documento, que diz “4 de Julho, 178” ou “4 de Julho, 179”. Para os pesquisadores, trata-se da correção de um erro de quem produziu o documento, que escreveu o ano em que o pergaminho foi produzido, em vez de 1776, ano da declaração de independência. Com isso, a principal hipótese é que o documento tenha sido produzido ou nos anos 1780 ou 1790.

Vestígio de ferro em rasgos nas laterais sugerem que o pergaminho foi fixado em alguma superfície com pregos e exames de DNA indicam que o pergaminho foi produzido com pele de carneiro, na época mais barata que a pele de bezerro.


Louise Goldsmith teve o privilégio de ver de perto o raro documento
Foto: Conselho de West Sussex
Louise Goldsmith teve o privilégio de ver de perto o raro documento Foto: Conselho de West Sussex

— É difícil explicar a enorme sensação de história por ter tido o privilégio de ver o documento — comentou Louise Goldsmith, líder do conselho do condado de West Sussex. — É uma peça primorosa que foi escrita não sob a luz moderna, mas na luz do dia e na luz de velas, com uma pena e tinta. É difícil imaginar quanto tempo demorou.

Testes apontaram congruência na tintura, que foi a mesma em todo o documento. Isso indica que o documento foi produzido num espaço de tempo relativamente curto. Os pesquisadores acreditam que o escrivão era inexperiente ou estava com pressa, já que errou a data e, em algumas partes, o texto está desalinhado.

Aristocrata “radical”

Uma característica única do pergaminho de West Sussex é o tratamento dado aos signatários. Diferente de todas as outras cópias conhecidas da Declaração de Independência produzidas no século XXVIII, os nomes não são agrupados por estados. Para os pesquisadores, isso indica que o documento pode ter sido produzido a pedido do congressista James Wilson ou um de seus aliados, que defendia que a autoridade da declaração residia numa nação única, não numa federação de estados.

Não está claro como o documento foi parar na Inglaterra, mas, em algum momento, ele chegou nas mãos de Charles Lennox, o Terceiro Duque de Richmond, conhecido como o “duque radical”, por ter apoiado a causa independentista das colônias americanas e outras políticas controversas, como a reforma parlamentar e concessões à Irlanda.