Cansada de ouvir que deveria embranquecer sua pele quando criança, a estudante indiana Chandana Hiran simboliza a luta contra a obsessão da Ásia com a pele clara, um combate alimentado pelos protestos mundiais contra o racismo. Para a jovem, cuja petição online contra o creme clareador Fair & Lovely, da Unilever, foi assinada por dezenas de milhares de pessoas, a decisão da multinacional de mudar o nome de produtos cosméticos que usavam termos como "clara", "leve" e "branca" já é uma vitória.
Sob pressão do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, em português), as gigantes de cosméticos L'Oréal e Johnson & Johnson também anunciaram medidas semelhantes. Mas, muitos consideram que essas iniciativas não cortam o problema: preconceitos enraizados na sociedade. Na Índia, a pele pálida está associada à riqueza e à beleza, especialmente para as mulheres.
— As pessoas acreditam que se você tem pele escura, nada terá na vida — explica à agência de notícias AFP Chandana Hiran, 22 anos.
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Esse estereótipo é perpetuado nos filmes de Bollywood, em que as atrizes costumam ter pele clara, e na publicidade. Os jornais indianos estão cheios de anúncios de casamentos de conveniência que exigem candidatas com pele "branca leitosa".
Empregada doméstica de 29 anos em Nova Délhi, Seema aplica o creme Fair & Lovely desde os 14 anos. Todas as mulheres da família o usam, incluindo sua filha de 12 anos.
— Quando vejo publicidade sobre cremes para clareamento da pele, eles parecem um bom produto. Mostram que, quando as pessoas ficam mais brancas, encontram trabalho e recebem propostas de casamento.
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A colonização britânica na Índia reforça esses estereótipos, que já estavam estabelecidos no sistema tradicional de castas que estrutura a sociedade desse país de 1,3 bilhão de habitantes, segundo os pesquisadores.
— O preconceito é: as castas superiores têm pele mais clara que as castas inferiores — explica Suparna Kar, socióloga da Universidade Christ em Bangalore.
Essa preferência pela pele branca não é exclusiva da Índia e se espalha por todo o continente asiático. A indústria de produtos de branqueamento é um dos mercados mais dinâmicos do setor de cosméticos e representará 27,5 bilhões de euros até 2024, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar de alguns deles causarem sérios problemas de saúde.
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Na Tailândia, a publicidade para esses produtos está em todo lugar na capital Bangcoc. A blogueira Natthawadee "Suzie" Waikalo, de 25 anos, denuncia o racismo que permeia a sociedade tailandesa. Nascida de pai malinense e mãe tailandesa, ela sofreu muitos ataques devido à cor de sua pele. Chegou a ser demitida do emprego porque seu chefe achava que a pele negra "dava uma imagem ruim à empresa".
"É uma sensação horrível que você nunca esquece", relatou recentemente em uma conferência na Associação Tailandesa de Jornalistas Estrangeiros.
Também nas Filipinas, muitos homens e mulheres usam substâncias branqueadoras. Uma tez mais clara está associada a uma "personalidade agradável", diz Gideon Lasco, antropólogo da Universidade das Filipinas. A blogueira filipina Patricia Terrado, 26 anos, lançou uma campanha online para atrair seus concidadãos a preferir sua cor natural da pele.
— Você tem o poder de criar sua própria definição de beleza, independentemente da cor da sua pele.