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Cultura Artes visuais

Museu de Arte do Rio reabre com mostra sobre o muralista Paulo Werneck e suas obras pela cidade

Em cartaz a partir de quinta, exposição destaca pioneirismo na abstração e na técnica do mosaico
Mosaico de Paulo Werncek no Clube Monte Líbano, na Lagoa Foto: Fotos de Vicente de Mello/Divulgação
Mosaico de Paulo Werncek no Clube Monte Líbano, na Lagoa Foto: Fotos de Vicente de Mello/Divulgação

RIO — Ainda que o nome de Paulo Werneck (1907-1987) não seja familiar para grande parte dos cariocas, é possível que muitos deles tenham convivido durante toda a vida com suas obras, mesmo que de relance, pela janela do carro, do ônibus, ou em passos apressados pelas calçadas da cidade. Em uma caminhada pelo Centro, é possível cruzar com seus mosaicos no edifício do antigo Banco Boa Vista (hoje uma agência do Bradesco) próximo à Candelária; no interior do Edifício Marquês do Herval (que abriga a livraria Leonardo da Vinci); ou olhando a fachada do antigo Instituto de Resseguros do Brasil, na Avenida Marechal Câmara.

Seus painéis também estão no Clube Monte Líbano, na Lagoa; no interior do antigo prédio do Ministério da Fazenda (atualmente sede da Superintendência da Receita Federal), no Centro; dentro do estádio do Maracanã — as bilheterias também contavam com mosaicos de sua autoria, que se perderam nas sucessivas reformas do estádio.

Nome ligado à arquitetura moderna brasileira, sobretudo aos Irmãos Roberto, o muralista carioca tem sua obra revista na exposição “Paulo Werneck — Murais para o Rio”, que reabre para o público, a partir desta quinta-feira, o Museu de Arte do Rio, após quatro meses com poucas visitas agendadas mensais .

Cem pessoas por hora

O museu, que em janeiro passou a ser gerido pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) , ficará aberto de quinta a domingo, com limite de entrada de cem pessoas por hora. Assinada por Marcelo Campos, curador-chefe do MAR, e por Claudia Saldanha, ex-diretora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage e neta de Werneck, a mostra reúne 140 desenhos originais do artista, fotos e documentos, reforçando, além do caráter histórico, sua importância entre os pioneiros da abstração no país.

— Além de inovar na técnica do mosaico, o Paulo já começava a trabalhar, nos projetos dos anos 1940, uma abstração que ganharia força nas artes visuais brasileiras com os concretistas, na virada da década de 1950 — observa Campos. — E ele fazia isso no espaço público, enquanto no meio artístico ainda havia uma discussão grande em torno das abstrações, que muitos nomes consagrados consideravam algo alienante.

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Colega de escola dos futuros arquitetos Marcelo Roberto e Oscar Niemeyer, Werneck iniciou a carreira ilustrando jornais e livros juvenis, até começar a trabalhar no escritório MMM Roberto — o concurso para o prédio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), considerado o primeiro edifício modernista do Rio, foi vencido com perspectivas desenhadas por ele. Com Niemeyer, colaborou em mosaicos como os da lateral da Igreja da Pampulha (Belo Horizonte) e do Palácio Itamaraty (Brasília).

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— Ele foi, acima de tudo, um homem curioso, criativo, que inventava as próprias ferramentas. Também não tinha vaidades artísticas, o que lhe permitia transitar entre a abstração e o figurativo sem grandes questões — conta Claudia, que também selecionou para a mostra projetos não executados, como o painel para o aeroporto Santos Dumont. — Houve situações em que os clientes acharam seus desenhos “modernos demais”, e ele precisou refazer.

Parte do acervo integrou a mostra “Paulo Werneck — Muralista brasileiro”, organizada por Claudia no Rio (no Paço Imperial), em São Paulo, Brasília, Recife e Belo Horizonte, entre 2008 e 2014. Para a mostra no MAR, os curadores privilegiaram seu legado na cidade, criando uma relação com a coletiva “Casa carioca”, inaugurada em setembro . Além dos projetos, Claudia selecionou quatro mesas criadas pelo avô, da marcenaria ao mosaico do tampo.

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— Ele dava móveis para a família e os amigos. Também criava as próprias fantasias para desfilar na Portela — comenta a curadora. — Da mesma forma, gostava de trabalhar com a equipe em seus projetos, em cima do andaime. Numa carta que encontrei, ele conta que se mudou para o Recife por um ano para fazer a fachada do prédio do Banco do Brasil, e só voltou para o Rio quando achou que a equipe estava bem treinada.

Onde: MAR — Praça Mauá 5, Centro (3031-2741). Quando: Qui a dom, das 11h às 18h (limite de cem visitantes por hora). Até agosto. Quanto: R$ 20. Classificação: Livre.

Outros espaços abertos

Além do MAR, outros espaços culturais e museus já retomaram suas atividades, alguns apenas com visitas agendadas.

CCBB: O Centro Cultural Banco do Brasil apresenta duas mostras: “Alphonse Mucha: o legado da art nouveau” (até dia 28) , e “Linhas da vida” (até 19 de abril), da japonesa Chiharu Shiota . Rua Primeiro de Março 66 - 3808-2020). Qua a seg, das 9h às 17h. Grátis. Agendamento: www.eventim.com.br.

Casa Roberto Marinho: O espaço apresenta, até sexta, a mostra “Enquanto”, com 50 obras inéditas de Carlos Vergara, Luiz Aquila e Roberto Magalhães. Rua Cosme Velho 1.105 — 3298-9449. Ter a dom, do meio-dia às 18h. Sáb, dom e feriados, das 9h às 18h. Agendamento: casarobertomarinho.org.br. Grátis (qua) e R$ 10.

Museu de Arte Moderna: O museu exibe “Hélio Oiticica: a dança na minha experiência” e a coletiva “Realce”. Av. Infante Dom Henrique 85, Aterro — 3883-5600. Qui e sex, das 13h às 18h. Sáb e dom, das 10h às 18h. Contribuição voluntária.

Museu do Amanhã : A exposição permanente mostra o impacto do homem no planeta. Praça Mauá 1 — 3812-1800. Qui a dom, das 10h às 17h. R$ 26. Ingressos somente no site ingressorapido.com.br.