Artes visuais
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Por Nelson Gobbi


Vânia Mignone diante de obra sem título de 2009: exposição traz 81 trabalhos de várias fases — Foto: Divulgação/Filipe Berndt
Vânia Mignone diante de obra sem título de 2009: exposição traz 81 trabalhos de várias fases — Foto: Divulgação/Filipe Berndt

Primeira grande retrospectiva de Vânia Mignone, em cartaz até 4 de junho no Instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros, São Paulo, “De tudo se faz canção” toma seu título emprestado de um verso de “Clube da Esquina nº 2”, composta por Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges (lançada em versão instrumental no antológico álbum de 1972, a música teve sua letra gravada em 1979).

Companhia constante no ateliê da pintora campinense, a música não é a única referência de outras linguagens artísticas que ela traz para as 81 obras de diferentes momentos da carreira, selecionadas por Priscyla Gomes, curadora sênior do Tomie Ohtake. Cordel, cinema, circo e quadrinhos estão entre os múltiplos diálogos estabelecidos por Vânia com outras fontes de inspiração, que chegam aos olhos do público por meio de algumas de suas marcas registradas, como as telas de cores vibrantes, a integração entre personagens e fundo e o uso da palavra como um dos elementos centrais das obras.

— Minha relação com o cinema, a música e outras linguagens sempre foi muito mais forte do que com as artes visuais, propriamente. Moro em Campinas, que é uma cidade grande, relativamente perto de São Paulo, mas que nunca teve essa tradição de galerias, centros culturais. Bienal só fui ver quando já estava cursando Publicidade (na PUC de Campinas) — comenta a pintora. — Então, foi natural minha formação visual estar mais relacionada ao cinema, por exemplo, do que ao que eu poderia ver numa exposição, ou num museu, por exemplo.

Obra presente na retrospectiva 'De tudo se faz canção' — Foto: Divulgação
Obra presente na retrospectiva 'De tudo se faz canção' — Foto: Divulgação

A partir de conversas entre a pintora e a curadora, o verso de “Clube da Esquina nº 2” foi escolhido como título da mostra pela relação com o próprio processo vivido por Milton nos anos 1960, ao assistir a várias sessões seguidas de “Uma mulher para dois” (1962), de François Truffaut, no antigo Cine Tupi, de Belo Horizonte.

—Assim como o filme foi um disparador para a música do Clube da Esquina, a obra deles, entre outros artistas, também estava presente entre as referências da Vânia. Uma frase dela que me marcou muito foi o seu desejo de que os seus trabalhos tivessem um impacto tal qual a música em cada um de nós — destaca Priscyla. — Desse diálogo entre diferentes linguagens, também partimos para a relação entre as diferentes expressões que ela experimentou, em várias fases da carreira. E tentamos, nesse olhar retrospectivo, mostrar como os desenhos ou xilogravuras mais antigas ainda reverberam na sua produção mais recente.

Acrílica sobre MDF sem título, de 2013 — Foto: Divulgação/Edouard Fraipont
Acrílica sobre MDF sem título, de 2013 — Foto: Divulgação/Edouard Fraipont

Outra referência externa às artes visuais, a publicidade, cursada antes de Vânia entrar para a cadeira de artes plásticas na Unicamp, se mantém presente em alguns dos elementos de sua obra, como a relação entre palavra e imagem, em mensagens diretas, como a de placas e outdoors.

— Quando terminei o curso de publicidade já sabia que não queria trabalhar na área, nem imagino como seria tentar me adequar ao ritmo de uma agência — diverte-se a pintora. — Mas sempre gostei muito da forma de comunicação das placas de sinalização, que é imediata e objetiva, mas que acaba logo após passar a informação. Você não pensa numa placa de “vire à direita” após passar dela. Na minha produção, tenho a possibilidade de trabalhar com essas informações de fácil identificação, mas com uma “desorganização” de signos que vai fazer com que aquela imagem fique na sua cabeça depois, ao contrário da placa.

Em muitas das obras, de acrílica em MDF, suporte mais comum em sua produção mais recente, Vânia usa uma técnica mista, de colagem e pintura, sem tentar disfarçar as diferentes etapas do processo. A pintora aponta outra diferença para a publicidade, “onde o erro é visto como um problema, tudo é feito para parecer perfeito”.

— Gosto da colagem porque várias vezes fica a dobra do papel, com a tinta por cima, quero que as emendas das placas fiquem visíveis. São informações que você só percebe de perto — destaca Vânia. —Na minha casa tinha uma coleção tipo mestres da pintura, com fotos incríveis dos trabalhos, onde tudo parecia irretocável. Então, para mim, todos aqueles pintores estavam num altar inatingível. Só quando vi uma tela do Gauguin de perto no Masp que percebi que tinha áreas com mais tintas que outras, pinceladas mais grossas e partes mais aguadas. Aí vi aquele lado humano, que não conseguia perceber no livro, o que deixou tudo mais interessante.

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