RIO - O trabalho do artista plástico Milton Dacosta (1915-1988) sempre despertou a atenção da crítica. Ao longo de sua vida, escreveram sobre ele Mario Pedrosa, Antônio Bento, Ferreira Gullar, Roberto Pontual, entre outros. Esse interesse permanece mesmo após a morte do artista, e sua obra tem recebido análises de críticos como Ronaldo Brito, Paulo Venancio Filho e Maria Alice Milliet. Pela relevância que seus trabalhos suscitam, a Caixa Cultural abre nesta terça para o público a exposição "Milton Dacosta, a construção da forma", com um conjunto de 45 obras realizadas desde a década de 1930 até o fim de sua vida.
De acordo com a curadora Denise Mattar, a mostra não tem a pretensão de fazer uma retrospectiva da carreira de Dacosta, mas sim de traçar um "percurso poético" do artista:
— O espaço expositivo não me permite fazer uma retrospectiva, pois a mostra teria que ter muito mais obras. Mas pude dar uma pincelada de cada momento significativo da trajetória dele.
A exposição começa com as primeiras produções de Dacosta. Nessa parte, estão retratos e paisagens impressionistas nos quais já ficam evidentes, segundo Denise, certas características que o acompanhariam por toda a vida: o senso de construção formal, o desinteresse por temas regionais e a capacidade de captar a essência dos assuntos escolhidos.
Em seguida estão as obras da década de 1940, figuras de pescoço longo e cabeças ovaladas nas quais percebe-se a influência da escola de Paris, especialmente de Cézanne, Modigliani e De Chirico.
— Mesmo eu, que já era muito familiarizada com a obra do Milton, fiquei encantada ao ver todos esses trabalhos juntos. O fim da década de 1940 e o início dos anos 1950 foram muito importantes na obra dele e, dessa fase, pude trazer três obras da série "Pintura metafísica", que são belíssimas.
A pintura como abstração
Os três trabalhos, "Carrossel", "Ciclistas" e "Piscina", são da época em que Dacosta estava bastante influenciado pelo cubismo, com figuras de traços muito marcados.
Os anos 1950 estão representados por trabalhos construtivistas, considerados, segundo a curadora, os mais importantes de sua obra. Foi nesse período que Dacosta representou o Brasil na XXV Bienal de Veneza e recebeu o prêmio de melhor pintor na II Bienal de São Paulo com a obra "Construção".
A mostra segue reunindo os trabalhos da série seguinte, caracterizados pelo abstracionismo.
— É interessante, porque ele dizia que toda pintura era abstrata. Mesmo as figurativas ele dizia que eram abstrações da realidade — conta Denise.
Foi durante esse período que Dacosta produziu séries monocromáticas, como vermelho, roxo, azul, marrom e, por último, branco.
— Como o branco era, para Milton, o máximo a que se podia chegar, ele terminou a série e voltou para a pintura figurativa — lembra a curadora.
São desse momento — fim da década de 1960 até seus últimos anos — telas que evidenciam sensuais imagens de Vênus. A obra desse período foi, de acordo com Denise, um sucesso de vendas, mas completamente rejeitada pela crítica.
— A característica mais interessante de Milton Dacosta é que ele era uma pessoa com uma trajetória muito individual numa época em que todos os artistas seguiam um percurso parecido — reflete a curadora.