Cultura

Cine, Replace, Hevo 84 e Restart: Uma reação alegre e colorida à tristonha onda emo

A banda Restart Divulgação
A banda Restart Divulgação

RIO - Pois bem: a onda dos emos passou. Chega de choro; olá, sol. Hora de escolher um novo grupo. Que tal as "bandas coloridas"? Mas o que é isso? Uma, digamos, nova vertente de bandas de pop-rock adolescentes brasileiras que se caracterizam por se vestir de forma bem, ahn, colorida. Algumas delas até faziam parte da onda emo, foi só mudar a posição dos bonés e salpicar mais cor no vestuário para disfarçar. Os nomes mais relevantes? Cine, Replace, Hevo 84 e Restart, que tentam se desvencilhar de outras "das antigas" e mais populares como NXZero, Fresno, Gloria e Strike.

Muita gente reclama na internet de que não se pode chamar o som que essas bandas fazem de rock (por mais elástico que este gênero seja hoje em dia): o som delas estaria mais para um tipo de power pop dirigido ao público feminino, sobretudo adolescentes.

- Quem diz isso é quem está de fora do contexto, quem não vive esta onda. É claro que é rock, e o rock é jovem, sempre foi assim, desde Elvis e Beatles, que também eram criticados pelos mesmos aspectos - diz o produtor Rick Bonadio, que está por trás de bandas da nova onda como Replace e Hevo 84.

Ouça faixas do Restart

Ouça faixas do Replace

Ouça faixas da banda Cine

Ouça faixas da banda Hevo 84

Mas será que dá para comparar os cabelos alisados na chapinha dos integrantes desses grupos - muito parecidos com os dos emo, aliás - com as franjinhas dos primeiros anos dos Beatles? O que um jovem produtor de rock, como Rafael Ramos, da Deck, pensa dessa novidade?

- Não conheço muitas dessas bandas, ouvi um pedaço ou outro no rádio. Mas me soa uma coisa muito mais de imagem, uma moda de uma galera jovem. Então, deixa a juventude se divertir. Só não sei se isso se compensa na música, se tem algum talento ali. Mas não é o meu estilo de música, acho um pouquinho frouxo demais, não teria a manha de produzir porque sei que teria de abrir mão de muita coisa para fazer aquilo ser chamado de rock e ser também música popular - diz Rafael.

Dizer que essas bandas são pré-fabricadas também bate no vazio, já que a paulistana Restart, a mais famosa delas, lançou o seu primeiro álbum de forma independente, e redes sociais como Twitter, Facebook e MySpace (com mais de dois milhões de acessos) se encarregaram do resto. Depois, o grupo foi lapidado pelo experiente produtor Marcos Maynard, que, como Bonadio, é referência nesse tipo de produto no Brasil.

- O material deles é todo autoral, assim como os arranjos. Quando ouvimos a banda, achamos que havia algum arranjador ou maestro por trás, mas eles disseram que os próprios faziam os arranjos, já que os guitarristas PeLu e o Koba haviam estudado em conservatórios - diz Maynard.

PeLu também garante que não se trata de uma banda manipulada:

- Temos total controle de tudo o que acontece com a banda, junto com os nossos empresários - diz. - Desde o repertório do show até a cor da camiseta que vai ser vendida.

No caso da Restart, até as cores das calças dos integrantes são pensadas para combinar: tem verde, azul, vermelho e laranja. Os cabelos são penteados de modo a lembrar o visual dos personagens de desenhos japoneses, bem esticados, chapados e pontudos. Maynard conta que o conceito "banda colorida" foi criado pelo próprio Restart:

- A história da "banda colorida" surgiu porque o Koba, que é o designer de tudo da banda, começou a desenhar camisetas coloridas. Um dia o PeLanza apareceu com uma calça colorida, os outros gostaram e começaram a usar também, junto com as camisetas criadas pelo Koba. Foi absolutamente natural.

E, para quem acha que o nome Restart simboliza o recomeço de alguma coisa na música, PeLu explica:

- Veio de uma partida de videogame. Eu estava jogando com o PeLanza, e ele só perdia. Em algum momento, ele falou: "Pô, dá um restart aí." Achamos o nome bacana, e acabou ficando - conta.

E uma banda copia a outra, que copia a outra. Alguma coisa vem de similares anglo-saxãs, como McFly ou Hadouken, ou americanas, tipo Paramore e Cobra Starship. E entre eles mesmos rolam rivalidades, com uns chamando os outros de fake emos. Chega a ser divertido ler discussões na internet (onde o estilo é chamado de united douchebags of Benneton, algo como "imbecis unidos da Benneton"). Alguns alegam que estavam cansados de ouvir músicas tristes.

- Acho que cada um tem a sua concepção do que é rock, pop-rock ou seja lá como vão chamar. Nós somos uma banda de rock'n'roll, nos sentimos assim, é isso o que realmente nos importa. O ideal sempre é fazer o que se gosta, o que te faz bem, como vão chamar é detalhe - desabafa PeLu.

Seja como for, as bandas coloridas movimentam um imenso público adolescente, consumidores que têm na MTV a sua principal divulgadora, e nas revistas "Love Rock" e "Love Teen" (ambas publicadas por pequenas editoras paulistas) as suas fontes de informação. São menininhas histéricas, parecidas com as que corriam atrás dos Beatles, algo que, entra geração, sai geração, pouco muda. Leia a íntegra desta reportagem no GLOBO Digital (apenas para assinantes)