Cultura

Documentário de sete horas de duração conta história da franquia ‘Sexta-feira 13’

Diretor explica o motivo da longa duração e o que Hugh Jackman tem a ver com isso

Derek Mears como Jason Voorhees, no remake ‘Sexta-feira ‘3, de 2009
Foto: Reprodução
Derek Mears como Jason Voorhees, no remake ‘Sexta-feira ‘3, de 2009 Foto: Reprodução

NOVA YORK — Os fãs de Jason agora terão a oportunidade de encarar uma maratona que vai além dos 12 filmes já lançados pela série “Sexta-feira 13”. Nos EUA, acaba de ser lançado o filme “Crystal Lake memories”, um documentário de sete horas de duração sobre a franquia de terror. Batizado em homenagem ao campo onde jovens descontraídos enfrentam destinos sangrentos, o documentário traz entrevistas com cerca de 150 membros dos elencos e das equipes dos filmes e da série de TV exibida entre 1987 e 1990.

O primeiro “Sexta-feira 13”, dirigido por Sean Cunningham a um custo de US$ 550 mil, foi um sucesso surpresa quando chegou aos cinemas em 1980, arrecadando mais de US$ 39,7 milhões. A franquia acabou se tornando uma das maiores de Hollywood, graças ao “carisma” de seu vilão central, Jason Voorhees.

“Jason é um símbolo do mal que passou de geração a geração”, diz Daniel Farrands, roteirista e diretor de “Crystal Lake Memories.”

E a matança pode não ter chegado ao fim. Corey Feldman, narrador do documentário (e que atuou, ainda criança, em “Sexta-Feira 13 - O Capítulo Final”, de 1984), expressou interesse em desenvolver e estrelar um 13º filme. Em outra frente, Farrands está criando uma série de TV chamada “Crystal Lake Chronicles”.

Mas um documentário de sete horas? Farrands, de 44 anos, recentemente conversou com o New York Times sobre o motivo de ter dedicado tanto tempo à franquia, por que Jason jamais deveria ter ido ao espaço e como Hugh Jackman se encaixa em tudo isso.

Existem filmes muito longos e agora você fez um documentário de sete horas sobre “Sexta-feira 13”. Como teve a ideia de um filme tão longo?

Eu já trabalhei em outro filme sobre “Sexta-feira 13” chamado “His name was Jason”, mas esse durava apenas 90 minutos. Os fãs odiaram, porque é muito curto. Depois disso fiz com Thommy Hutson, um produtor amigo meu, “Never Sleep Again”, um documentário de quatro horas sobre “A hora do pesadelo”. Esse acabou se tornando um sucesso entre os fãs. Aí fui um dos financiadores e editor de um livro sobre “Sexta-feira 13” chamado “Crystal Lake Memories”, de 2005. Os filmes têm uma base de fãs muito leal, que não está interessada nos extras de DVDs.

O documentário são 12 mini-filmes em um, com’Sexta-feitr cada capítulo dedicado a um dos títulos da franquia. Cada um conta sua própria história. Você pode assistir numa maratona ou um por vez. Mesmo que não seja um fã de “Sexta-feira 13”, o que tentamos fazer é mostrar como é produzir filmes de baixo orçamento. Funciona como uma escola de cinema, amarrada em um documentário.

Porque você acha que o “Sexta-feira 13” original se tornou tão popular?

Não dá para definir o momento em que algo se torna um ícone pop. Mas Sean Cunningham pegou algo que estava se tornando popular, com “Halloween”, e apostou ainda mais alto. Ele levou o suspense, e o assassino misterioso que não pode ser detido, a um outro nível, jogando as imagens das mortes na sua cara. Isso ainda não havia sido feito em Hollywood. Ele convenceu a Paramount, um dos maiores estúdios, a fazer um grande lançamento.

Mesmo quem não gosta de filmes de terror já ouviu falar em Jason. Porque essa imagem se tornou tão conhecida?

Apesar de ter se tornado um bicho-papão, Jason era um nerd que sofreu abusos e foi abandonado. Ele sofreu um tragédia horrível e quando voltou à vida, não podia parar. Há uma realização de desejos para muitos garotos aí. Matando os mais populares, ele fala a todos que se sentem alienados. Não que você queria matar pessoas, mas é uma forma de algumas pessoas vivenciarem suas fantasias mais estranhas. Ele é um anti-herói. Acho que transcendeu os filmes de terror. Chegou aos quadrinhos, ganhou prêmios na MTV, apareceu nos “Simpsons”. Hugh Jackman disse que se tornou um ator porque queria interpretar Jason.

Quando o primeiro filme foi lançado, causou polêmica por causa da violência, especialmente contra mulheres. Mas isso não é mais uma questão hoje.

Na época os cineastas eram acusados de misoginia. Mas acho que os filmes na verdade exaltam as mulheres. Eles têm muitas fãs do sexo feminino. As atrizes que interpretam as personagens sobreviventes, que usam a inteligência para derrotar Jason, têm muitas fãs. Elas são as deslocados, que não se encaixam, mas sobrevivem. Vejo isso como uma metáfora para muitos dos desafios das adolescentes.

Muitos atores famosos apareceram na franquia antes de se tornarem astros: Kevin Bacon, Crispin Glover, Kelly Rowland. Mas não aparecem no seu filme. Você teve dificuldade em conseguir a participação de celebridades?

Todos que participaram dos filmes foram procurados. Kevin Bacon é uma grande estrela e ele que decide se quer ou não falar sobre o assunto. A resposta foi não, mas nada contra o assunto, ele estava trabalhando. Algumas pessoas simplesmente não querem voltar a viver isso, outras seguiram em frente.

Você tem um “Sexta-feira 13” favorito?

Os quatro primeiros chamaram a minha atenção quando eu estava crescendo. Com o tempo, foram ficando mais ridículos, com Jason no espaço ou indo para o inferno.

Qual o pior?

Com certeza “Jason X”, quando ele vai para o espaço. É a fronteira final, onde as franquias morrem.