“Itabira é apenas uma fotografia na parede”, escreveu Carlos Drummond de Andrade em “Confidência do Itabirano”, segundo poema do livro Sentimento do Mundo, lançado em 1940. Agora, o poeta é quem estampa um retrato na cidade onde nasceu. O grafiteiro e muralista Eduardo Kobra finalizou, esta semana, um painel de 32 metros em homenagem a Drummond, na lateral de um prédio no Centro do município.
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Com as cores e formas que marcam seu trabalho, Kobra retratou Drummond no rasgo de uma página em que está escrito o poema sobre Itabira. O rasgo tem o formato do mapa do município.
O projeto fez parte da primeira edição da Mostra de Arte Pública (Mapa) em Itabira, realizada entre os dias 9 e 15 de outubro. A ideia, segundo a prefeitura da cidade, era criar uma grande galeria ao ar livre. Além do mural, a artista Raquel Bolinho fez uma escultura permanente de 3,5 metros que representa o poeta ainda criança. A peça será instalada na praça de uma das principais escolas de Itabira.
Com mais de 3 mil obras espalhadas pelo mundo, o grafiteiro e muralista Eduardo Kobra é conhecido pela grandiosidade de seus trabalhos. Nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, ele alcançou o recorde de maior mural grafitado do mundo, com a obra ‘Etnias’, com 2,5 mil metros quadrados.
Em 2017, superou a própria marca com uma obra em homenagem ao chocolate, em um paredão de 5,7 mil metros quadrados, às margens da Rodovia Castello Branco, na Região Metropolitana de São Paulo.
Carlos Drummond de Andrade
Nascido na cidade de Itabira, em 1902, Drummond se mudou com a família, em 1916, para Belo Horizonte. Esse movimento se revelaria fundamental na trajetória do futuro poeta. Cinco anos depois, ele conheceu José Osvaldo de Araújo, diretor do “Diário de Minas”, onde publicou seus primeiros escritos. Em seguida, ganhou um concurso de contos da revista “Novela Mineira”. A partir daí, sua ligação com a imprensa jamais se romperia.
Drummond escreveu alguns dos mais conhecidos poemas da literatura do país. Sua expressão “E agora, José?” para um deles virou praticamente um bordão brasileiro para situações aparentemente sem solução. Mas era um otimista em relação ao ser humano: “Eu tenho esperança no homem. Espero que ele, racionalizando, sentindo melhor a responsabilidade de viver e respeitar a vida alheia — os seres, as plantas, a vida alheia —, com um pouquinho de boa vontade e paciência, consiga caminhar no sentido da paz”, escreveu.
Na década de 1960, colaborou no GLOBO, como colunista, publicando seus textos na coluna Porta de Livraria, editada por Antônio Olinto.
A passagem de Drummond pelo GLOBO deu-se na trajetória do poeta por alguns dos mais importantes jornais do país, numa relação com a imprensa tão intensa quanto sua produção literária, marcada pelo lançamento de essenciais livros de crônicas e poesias.
Morreu numa segunda-feira, 17 de agosto de 1987, doze dias após sua filha querida, Maria Julieta, ter falecido vítima de um câncer de mama. A morte dela foi um visível baque para o poeta, que mergulhou em profunda depressão. Ele teve um primeiro sinal de enfarte na sexta-feira de manhã, mas escondeu o ataque de que fora vítima, provavelmente para apressar a própria morte. À noite, com novas dores, foi atendido por um cardiologista, que recomendou sua internação numa clínica apropriada. O poeta deixou de respirar exatamente às 20h45 do dia 17.