Um filme que dimensiona a importância do Tablado e, claro, de sua criadora, Maria Clara Machado (1921-2001), é, por si só, motivo de comemoração. Creuza Gravina assumiu essa empreitada, entrelaçando depoimentos de artistas (a maioria das entrevistas foi realizada entre 2002 e 2007), leituras de trechos de peças de Maria Clara e imagens de arquivo (com fotos e cenas de espetáculos).
O Tablado é retratado não “apenas” como curso por onde passaram alguns dos mais prestigiados atores brasileiros, mas como espaço familiar e afetivo. Questões fundamentais são trazidas à tona, como a determinação de Maria Clara em não profissionalizar o grupo — mantendo-o, portanto, como iniciativa amadora, o que não significa menos seriedade na abordagem do ofício artístico junto aos alunos. “Maria Clara nunca quis perder o aspecto artesanal, de fundo de quintal, do Tablado”, assinala o ator e professor João Brandão.
Creuza Gravina, porém, poderia ter valorizado mais a história do Tablado. Num dos poucos momentos em que isso acontece, Eddy Rezende Nunes, uma das fundadoras, lembra do período anterior ao surgimento, em 1951, do Tablado — nos anos em que Maria Clara pertenceu ao movimento bandeirante, trabalhou no Patronato da Gávea, começou a fazer teatro de bonecos e ganhou uma bolsa para estudar na França.
Em outro (breve) instante de evocação do passado, Zeli de Oliveira mostra partes de cenários e figurinos que constituem o acervo do Tablado. E o ator Lucio Mauro Filho destaca uma figura bem relevante que marcou época: o ator e professor Carlos Wilson, conhecido como Damião, que se dedicou a espetáculos destinados à plateia adolescente, faixa esquecida dentro da programação teatral.
Mas há lacunas significativas. Faltam informações sobre a fase inicial do Tablado, voltada para a apresentação de montagens ao público adulto, antes de Maria Clara dar vazão à sua produção dramatúrgica infanto-juvenil e aos cursos de improvisação. Como expressão cinematográfica, o resultado evidencia certas limitações. Gravina investe numa estrutura de documentário tradicional e numa concepção estética previsível na alternância entre cor (na disposição dos depoimentos) e preto e branco (no plano das leituras das peças).
Seja como for, o filme presta uma oportuna homenagem ao Tablado, instituição que vem priorizando a prática sem abandonar completamente a teoria (a julgar pelos Cadernos de Teatro), e a Maria Clara, que ainda “revive” por meio de interpretações de pedaços de seus memoráveis textos.