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O Gráfico Amador tem sua trajetória contada em livro

Editora artesanal pernambucana marcou o design livreiro no país nos anos 1950
Ilustração de Aloisio Magalhães para 'Ode', de Ariano Suassuna, em 1955 Foto: Verso Brasil Editora/Divulgação
Ilustração de Aloisio Magalhães para 'Ode', de Ariano Suassuna, em 1955 Foto: Verso Brasil Editora/Divulgação

RIO - Quem for nesta quinta-feira à rua Amélia 415, em Recife, vai dar de cara com um posto de gasolina. Mas não foi sempre assim. No ilustre endereço funcionou, de 1954 a 1961, O Gráfico Amador, uma editora artesanal que marcou o design gráfico brasileiro — e cujos livros hoje têm status de raridade. Sua história é contada no livro "O Gráfico Amador — As origens da moderna tipografia brasileira", pesquisa do designer Guilherme Cunha Lima, que volta agora às livrarias em edição revisada e em cores, pela editora Verso Brasil. A obra será lançada nesta quinta-feira, às 19h, na Livraria da Travessa de Ipanema.

— Ouvi falar do Gráfico pela primeira vez nos anos 1970, e os livros já tinham status de raridade. Ele se insere no contexto do livro experimental, que foi alvo de outras experiências pelo Brasil. Seu legado é fundamental — diz Guilherme Cunha Lima.

A nova edição da pesquisa traz os 27 livros, três volantes, dois boletins e um programa de teatro produzidos pelo Gráfico Amador. Para reunir essas imagens, foi feita uma pesquisa em acervos públicos e privados para encontrar as obras.

Durante um período de sete anos, O Gráfico Amador, cuja sede da rua Amélia servia também de polo de agitação cultural, editou nomes como Ariano Suassuna ("Ode 1" e "Ode 2"), Carlos Drummond de Andrade ("Ciclo") e João Cabral de Melo Neto ("Aniki bobó"), entre outros autores.

Fundado por Aloísio Magalhães, Orlando da Costa Ferreira, José Laurenio de Melo e Gastão de Holanda, O Gráfico Amador mantinha-se de pé graças a seus 30 associados, entre eles o bibliófilo José Mindlin, porque os gráficos não tinham o lucro por objetivo. Amantes da prensa manual, eles tentaram se profissionalizar, mas não conseguiram.

Uma das fotos da reedição mostra Ariano Suassuna deitado numa espreguiçadeira, na sede do Gráfico. Ele costumava brincar que sua contribuição era aquela. Os gráficos eram divididos em dois grupos: os mãos limpas, que escreviam os livros ou davam outra forma de contribuição, e os mãos sujas, apelido vindo do fato de lidarem diretamente com a prensa manual.

Durante sua existência, O Gráfico Amador teve duas impressoras tipográficas e uma litográfica. Hoje, elas pertencem à Universidade Federal de Pernambuco, onde estudantes cuidam para que elas sigam dedicadas à velha arte de Gutenberg.

Serviço:

"O gráfico amador"

Autor: Guilherme Cunha Lima

Editora: Verso Brasil

Onde: Livraria da Travessa de Ipanema (Rua Visconde de Pirajá 572)

Quando: Nesta quinta-feira, às 19h

Quanto: R$ 117,50