Cultura

Mostra revê a pintura abstrata de Antonio Bandeira

Centro Cultural Correios expõe 70 trabalhos do artista que conciliou liberdade e formalismo

“Paisagem em azul”, tríptico de 1966, é um dos ícones da produção de Bandeira ao unir ordem e liberdade
Foto: Divulgação/Raquel Silva
“Paisagem em azul”, tríptico de 1966, é um dos ícones da produção de Bandeira ao unir ordem e liberdade Foto: Divulgação/Raquel Silva

RIO - No contexto dos anos 1950 em que produziam Alfredo Volpi, José Pancetti, Aldo Bonadei e outros grandes da pintura brasileira, Antonio Bandeira buscava um espírito construtivo dentro da abstração. Construiu, assim, uma obra singular e de prestígio que, agora, é revista na mostra “Antonio Bandeira — da razão à sensibilidade”, que o Centro Cultural Correios abre ao público nesta quinta-feira.

O curador da exposição, Marcus de Lontra Costa, dispôs 70 obras do artista em três salas para comprovar sua tese, a de que Bandeira foi o pintor de uma espécie de “abstração conciliatória”, em que o resultado das telas ainda é abstrato, mas há alguma preocupação formal em sua criação.

No primeiro ambiente da exposição, estão obras dos anos 1940, em que já se vê uma pitada de construtivismo em trabalhos figurativos e de gestual forte. Algumas, como diz o curador, lembram obras do uruguaio Joaquín Torres Garcia (1874-1949). Lá, estão também uma linha do tempo do artista cearense, que nasceu em 1922 e morreu em 1967, e um vídeo em que ele próprio discorre sobre suas criações.

Já na segunda sala, a maior delas, ficam pinturas mais maduras, dos anos 1950 e 1960, período em que Bandeira se firma “não como um informalista, mas como o grande pintor abstrato do Brasil”, nas palavras do curador.

— Bandeira não é um Jackson Pollock, porque o tempo todo tem controle sobre sua pintura. Ele não tem medo de dar um passo atrás no abstracionismo para pensar no futuro — defende Costa.

É na terceira sala, porém, que está a principal tela da exposição. Trata-se de “Paisagem em azul”, de 1966, que, especula-se, foi negociada no mercado por R$ 5 milhões. Oficialmente, o que se sabe é que Bandeira teve a tela “Sol sobre paisagem”, também de 1966, vendida por R$ 3,5 milhões em 2010, valor recorde para um artista brasileiro.

O cearense, portanto, supera os mais recentes recordes de Adriana Varejão e de Beatriz Milhazes, que se revezam no posto de artista brasileiro vivo mais caro do país. “Sol sobre paisagem”, no entanto, não está na exposição, mas a mostra tem “Paisagem em azul”, tríptico em grandes dimensões que deixa ver que o artista conseguiu unir, na pintura, ordem, geometria e liberdade.