Cultura
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Por Télio Navega

O italiano Andrea Pazienza (1956-1988) definia seu personagem Zanardi como aquele antigo colega de escola que nos humilhava de mil maneiras. A pessoa que mais odiávamos e também aquela que gostaríamos de ser. Zanna, como era chamado por seus colegas, Sergio e Colas, é uma criatura das HQs que parece real tamanha sua torpeza.

Os três tipos detestáveis são jovens entediados e hedonistas, que usam drogas e praticam crimes, doa a quem doer. O trio encheria de orgulho a gangue do Alex de “Laranja mecânica”. E suas aventuras, publicadas por Pazienza na revista “Frigidaire”, na década de 1980, acabam de sair no Brasil pela primeira vez em edição integral pela Comix Zone, com posfácio de Oscar Glioti, da Coconino Press, editora que publica o artista na Itália.

— A “Frigidaire” mudou para sempre a percepção dos quadrinhos na Itália —explica Glioti. — A “Linus” já o havia feito, em 1965, transformando a HQ em algo que não poderia mais ser associado apenas ao público infantil. Mas a “Frigidaire”, com suas reportagens, entrevistas e histórias, acrescentou a essa abordagem uma forte conexão com a atualidade, a política, o mundo da arte e, em geral, com o espírito da época.

Andrea Pazienza e Marina Comandini passeiam  em Anavilhanas, na Amazônia, em 1988 — Foto: Divulgação
Andrea Pazienza e Marina Comandini passeiam em Anavilhanas, na Amazônia, em 1988 — Foto: Divulgação

A publicação italiana fez história ao apresentar quadrinistas como Filippo Scòzzari, Massimo Mattioli (da série “Squeak the mouse”) e a dupla Stefano Tamburini e Tanino Liberatore (pais do androide Ranxerox, gerado a partir de uma fotocopiadora). Mas, segundo Glioti, Pazienza era o mais querido e versátil, praticamente um astro do rock:

— Ele mudou os quadrinhos para sempre ao inserir em suas histórias, pela primeira vez, a vida real, desenhada e colorida como nunca antes havia sido desenhada e colorida.

Cancelamento

Glioti garante que, 35 anos após a morte de Pazienza — em decorrência de uma overdose de heroína, aos 32 anos —, o quadrinista não foi cancelado em seu país pelas histórias de Zanna. Pelo menos ainda não.

— Felizmente procuramos pensar os artistas no contexto dos anos em que eles trabalharam — afirma o editor. —E em parte porque a “incorreção” de Andrea era, antes de tudo, contra ele mesmo, e não fazia prisioneiros.

Glioti diz que Pazienza tinha uma forma bastante pessoal de contar suas histórias ao colocar as “entranhas na mesa”, sem censura:

— Seu estilo podia transitar da crueza à poesia, do humor ao trágico. Hoje, ele não daria a mínima para qualquer conservadorismo, mantendo, creio eu, certo respeito por aqueles que, em meio a mil erros e vergonhosos pelourinhos midiáticos, se empenham em buscar as bases para uma sociedade mais justa

Zanardi reflete, segundo Glioti, a alma animalesca de Pazienza, o bandido que cada um de nós carrega dentro de si e com quem devemos chegar a um acordo de vez em quando.

Os personagens Zanna, Sergio e Colas, da HQ de Andrea Pazienza — Foto: Divulgação
Os personagens Zanna, Sergio e Colas, da HQ de Andrea Pazienza — Foto: Divulgação

Opinião que parece estar alinhada com a da viúva do artista, Marina Comandini, que garante que seu companheiro só contava em seus quadrinhos o que ele via em seu entorno.

— Isso não significa que ele apoiava essas coisas — afirma ela. — Quando perguntavam por que Zanardi era assim tão malvado, Andrea dizia que ele era tão malvado quanto podia ser uma antena transmissora da RAI.

Marina diz que Pazienza já era famoso quando o conheceu e que, apesar de já ter lido um livro dele na época, ainda não era sua fã:

— Eu estudava ilustração numa escola em Roma e tínhamos amigos em comum. Um dia, um deles o levou para almoçar em minha casa, e desde então não nos separamos mais. Não decidimos morar juntos, mas aconteceu naturalmente.

Viagem ao brasil

Foi na companhia de Marina, que havia feito uma viagem ao Brasil aos 18 anos, que Pazienza conheceu o país, em 1988. Fascinado pelas histórias que Marina lhe contava, ele aproveitou a oportunidade de obter uma passagem para qualquer lugar do mundo em troca de um relato de viagem.

— A gente começou no Rio, depois viajamos para Búzios, onde morava minha prima, e fomos para Recife, Olinda, Salvador... mas o lugar que mais nos encantou foi o Amazonas. De Manaus, navegamos uma semana até as ilhas Anavilhanas.

Segundo ela, a experiência da viagem pelo Brasil foi tão incrível que Pazienza produziu duas HQs.

— Uma divertida, que falava de Salvador, e a outra muito poética e um pouco triste, sobre a natureza do Rio Negro e o destino daquela terra incrível —lembra-se Marina. — No ano de 2005, o Festival de Quadrinhos de Belo Horizonte homenageou o trabalho e a viagem de Andrea no Brasil mostrando ao público os desenhos dessas duas histórias.

Pazienza morreria poucos meses após a viagem, em 16 de junho de 1988, em Montepulciano, Itália. Os brasileiros seriam apresentados a ele somente no ano seguinte, a partir da publicação de algumas de suas histórias na revista “Animal”. Foi assim que o escritor Joca Reiners Terron — que acaba de lançar o romance “Onde pastam os minotauros” (Todavia) — descobriu o trabalho do italiano, que chegou a fazer capas de discos e cartazes de filmes, como o de “Cidade das mulheres” (1980), de Fellini. Para Terron, Pazienza seguia o exemplo do cineasta Pasolini:

— Em contraponto à geração anterior, simbolizada por Moebius e a revista “Metal Hurlant”, que soava bela mas um tanto vazia, Pazienza esticou os limites da correção mo- ral ao limite do odiável.

Já Alexandre Linck, professor e editor do canal de vídeos “Quadrinhos na sarjeta”, acredita que o impacto de Pazienza está em sua poesia sórdida e no desamparo niilista

— Mesmo quando há humor, ele é nervoso, sujo e desumanizador. Se houve alguém capaz de captar os sentimentos mais sombrios dos anos 1980 foi ele, Pazienza.

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