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Haikyuu: entenda como animação japonesa criou novos fãs de vôlei no Brasil

Seleção masculina estreia nesta sexta-feira contra a Tunísia, horário de Brasília
Capa da edição brasileira de Haikyuu Foto: Editora JBC / Shueisha Inc.
Capa da edição brasileira de Haikyuu Foto: Editora JBC / Shueisha Inc.

BRASÍLIA —Saque flutuante, bloqueio reativo, tempos de ataque. Expressões técnicas que muitas vezes são restritas aos mais fanáticos pelo vôlei. Mas, quando o Brasil entrar em quadra nesta sexta-feira pela estreia nas Olimpíadas de Tóquio, um grupo considerável de brasileiros vai prestar atenção nos detalhes do jogo como nunca antes: os fãs de Haikyuu!!, história em quadrinhos (ou mangá, como são conhecidos), criado por Haruichi Furudate em 2012 e que alcançou uma legião mundial de fãs após ser adaptado para uma animação.

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A história que gira em torno de um estudante japonês, Shoyo Hinata, que apesar da baixa estatura é apaixonado por vôlei. No seu primeiro e único jogo oficial, é derrotado por um prodígio do esporte, Tobio Kageyama. Os dois desafetos, entretanto, terminam no mesmo colégio no Ensino Médio, o Karusuno, e ajudam a reerguer o clube de vôlei da escola. A história alcançou grande sucesso comercial: até novembro de 2020, eram mais de 50 milhões de cópias do mangá em circulação. A animação também é considerada uma das melhores da última década. A série tem fãs até mesmo dentro da time masculino de vôlei: o oposto Alan Souza já afirmou em suas redes sociais que é fã da série.

— O anime mostra exatamente como é na vida real. Desde o início da carreira, quando o Hinata ainda não sabe jogar e vai aprendendo e se tornando melhor, passando pelas amizades que ele cria, as rivalidades que ele faz, a vontade dele de ganhar, a frustração ao perder um jogo, até a emoção de ganhar um campeonato grande. O anime mostra tudo isso e muito mais, e é sim tudo muito próximo do que acontece na nossa vida, na carreira de um atleta profissional — afirmou Alan ao GLOBO.

O oposto brasileiro é fã do protagonista da série, Shoyou Hinata, e de um dos coadjuvantes, Ryunosuke Tanaka, um dos personagens mais animados do mangá.

No Brasil, outros animes esportivos já fizeram sucesso, como “Super Campeões”, transmitida no país na década de 1990 e que seguia um time de futebol comandado pelo craque Tsubasa, ou Oliver como ficou conhecido em algumas traduções.

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Não por acaso, assim como no futebol, o impacto do Brasil aparece bastante em Haikyuu: há citação a frases do ex-técnico Bernardinho em episódios da animação e também a jogadas aperfeiçoadas pela Seleção Brasileira. Em 2019, Haruichi Furudate veio ao Brasil e entrevistou duas duplas de vôlei de praia para ajudar na construção dos personagens: Bárbara Seixas e Fernanda Berti, além de Bruno Schmidt e Evandor receberam Furudate e sua equipe para uma conversa.

Fã do anime e leitora dos mangás da série, a jornalista Isabela Borrelli, de 27 anos, está ansiosa pelo início dos jogos graças a Haikyuu. Ela conheceu a saga de Hinata em janeiro e se apaixonou pelos personagens.

O que destaca Haikyuu, segundo os fãs, é o seu apreço pelo aspecto técnico do jogo: em outras palavras, a história não foge da realidade e explica conteúdos razoavelmente avançados para os fãs, como as diferentes passadas que os atacantes podem dar antes de uma cortada.

— Assistia aos jogos, mas não entendia, só que quando a bola caía nochão era ponto. Eu já iria ver de qualquer forma, mas depois de de ver Haikyuu eu estou mais animada porque eu sinto que eu vou ter muito mais noção da dificuldade dos passes, que tem o saque flutuante, que existe o levantador, qual a importância de quem finge que vai dar uma cortada — afirma.

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O entusiasmo com as partidas se reflete nas redes sociais. É comum ver pessoas comentando sobre a ansiedade para o início dos jogos. É a turma dos que se dizem “formados por quatro temporadas de Haikyuu”. O crescimento nos últimos meses fez com que a Editora JBC anunciasse a tradução do mangá para o português e sua publicação no país. Atualmente, o primeiro volume da série, ainda em pré-venda, é o mais vendido nas lojas virtuais em que foi colocada à disposição, segundo a editora.

— Houve uma imensa quantidade de pedidos para que publicássemos Haikyuul. A gente tem canais de contato direto dos leitores para que eles possam pedir e a gente vai contabilizando qual título, gênero e demografias são os mais pedidos. No último, Haikyuu estava muito na frente — afirma Marcelo Del Greco, gerente de conteúdo da JBC.

O mangá teve seu último capítulo publicado no Japão em 2020. No Brasil, a JBC planeja lançar as edições no tamanho "big", com até 400 páginas. Segundo Del Greco, houve o interesse da editora japonesa Shueisha em fazer uma edição especial para o Brasil, o que é incomum, em razão do interesse pelo mangá e pelo anime no país.

— Todos os personagens do time têm histórias muito convincentes e um crescimento muito legal. Eles têm suas próprias batalhas e quem lê ou assiste se identifca e se afeiçoa a todos eles, mesmo aos times adversários. Todos acabam gostando dos outros adversários, porque não tem um vilão, uma pessoa má. São garotos que querem jogar vôlei. É uma parte que eu gosto muito — diz Isabela Borrelli.

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Fãs de Haikyuu ou não, todos os torcedores do Brasil irão acompanhar a estreia do time masculino nesta sexta às 23 horas, contra a Tunísia. A equipe comandada por Renan Dal Zotto está no mesmo grupo que Argentina, Estados Unidos, França e Rússia, além do adversário desta sexta. Para a tristeza dos fãs do anime, o Brasil só terá um confronto com a equipe japonesa se ambos avançarem para a segunda fase do torneio.

O Brasil é um dos favoritos à medalha de ouro após o titulo na Liga das Nações sobre a Polônia em junho.