"Do mar ou do ar, nunca se repete uma foto. Seu ponto de observação está sempre em movimento". A afirmação é do experiente fotógrafo Custódio Coimbra, que em 41 anos de carreira reuniu um enorme acervo de imagens registradas a partir de sobrevoos e navegações. Neste domingo, véspera do Dia de São Sebastião, padroeiro do Rio, o jornal e o site do GLOBO
publicaram um ensaio realizado na última quarta-feira
, quando ele embarcou numa traineira para clicar a cidade a partir do mar.
- O que mais me impressiona no Rio observado do mar é, em primeiro lugar, a geografia de seus morros. Depois, os costões que pontuam a orla do Pão de Açúcar ao Pontal. E, claro, a arquitetura de uma cidade que se formou entre montanhas e praias - afirma Coimbra, que zarpou do Quadrado da Urca, às 4h40.
Parte das fotografias publicadas neste domingo foram feitas na Baía de Guanabara, um lugar com o qual ele mantém uma longa relação. Muito jovem, Coimbra costumava frequentar a Praia de Mauá, em Magé, quando as águas de lá ainda eram próprias para o banho. Já na vida profissional, foram dezenas as missões para registrar diferentes situações nessa reentrância da costa do Estado do Rio. Mas foi o
trágico vazamento de petróleo em janeiro de 2000
que despertou o vínculo definitivo entre Coimbra e a Guanabara.
- Quanto mais íntimo você se sente de algo, mais amor e carinho você tem. Naquele derramamento de óleo, percebi que a baía estava dentro de mim. E que era um símbolo do avanço da degradação ambiental em todo o Rio. Passei, então, a fotografá-la com mais frequência. Seu cotidiano, as pessoas que circulam por lá, os navios fantasmas... - conta o jornalista, que trabalha há 30 anos no GLOBO.
A conexão de Coimbra com a baía já resultou em exposições e até num livro, "Guanabara - Espelho do Rio", lançado em 2016, com fotos dele e texto da jornalista Cristina Chacel. A mesma relação também rendeu ao fotógrafo um de seus principais troféus. Em 2015, ele venceu o Prêmio Petrobras de Fotojornalismo com
o flagrante de um saco plástico preso no rabo de um boto-cinza
que nadava na baía. A imagem foi publicada numa reportagem da Revista O GLOBO.
Para conseguir a foto premiada, foram três dias no mar. O resultado revela persistência, olhar atento e faro para a notícia. Estas características estão sempre presentes na forma como Coimbra trabalha, seja diante das belezas ou das mazelas que surgem a sua frente.
- É fácil andar com a máquina pendurada no ombro. Difícil é apertar o botão na hora em que tem que ser apertado. É um ato de coragem.