Rio Bairros Bairros

Arte urbana, cada vez mais presente em Niterói, revitaliza a paisagem cinzenta

Grafites ricos em detalhes e mensagens contundentes dão leveza ao cotidiano
No Ingá, grafite do nova-iorquino Justin Phame e da niteroiense Andréa Paula Stelling chama a atenção pela quantidade de cores
Foto: Gustavo Stephan / Agência O Globo
No Ingá, grafite do nova-iorquino Justin Phame e da niteroiense Andréa Paula Stelling chama a atenção pela quantidade de cores Foto: Gustavo Stephan / Agência O Globo

NITERÓI - Na correria do dia a dia, com a cabeça cheia de compromissos e o vaivém de carros e pessoas, a cidade em geral é vista como um cenário cinzento e sem graça. Mas uma parada no sinal, no congestionamento ou até uma caminhada mais atenta podem revelar agradáveis e coloridas surpresas, sobretudo para os amantes da arte.

VEJA: Grafites espalhados por Niterói

Cada vez mais desvinculados do vandalismo, grafites se espalham pelas ruas, conquistam espaço nas galerias e vêm se firmando como elemento vital da composição urbana de Niterói. O movimento deu origem a uma lei municipal, em vigor desde outubro do ano passado, que libera a prática em viadutos e obriga a Secretaria de Cultura a disponibilizar áreas específicas para os grafiteiros.

O Centro e a Zona Sul são as regiões mais grafitadas, concentram trabalhos ricos em detalhes, com mensagens contundentes e até, às vezes, bem-humoradas. Nas proximidades dos acessos à Ponte Rio-Niterói, os pilares dos viadutos estão cada vez mais coloridos. Próximo dali, na Rua José Figueiredo, um painel com cerca de dez metros, feito pelo grafiteiro Davi Baltar, é um exemplar que carrega todos esses componentes. Na imagem, um catador puxa sua carroça repleta de bugigangas das mais variadas, com uma composição repleta de minúcias.

Na mesma parede, o grafiteiro nova-iorquino Tito, no Brasil desde 2001, pintou mais uma situação vivida pelo seu personagem Zé Ninguém, que está sempre à procura de Ana pelas ruas do Rio. O artista, que faz trabalhos com o personagem em sequências, como uma história em quadrinhos pelas ruas, está produzindo um livro com imagens da série.


Na ponte da Boa Viagem, temáticada pinturatraz conexão com o local
Foto: Gustavo Stephan / Agência O Globo
Na ponte da Boa Viagem, temáticada pinturatraz conexão com o local Foto: Gustavo Stephan / Agência O Globo

Há poucos meses, as escadas que ligam o calçadão à areia na orla do Ingá receberam intervenções de Justin Phame — também nova-iorquino que veio morar em Icaraí há um ano e meio para aprender português e grafitar — e da niteroiense Andréa Paula Stelling. Na coluna da ponte da Boa viagem, bem perto dali, a pintura de Sara, com um polvo abraçando uma garrafa que traz a imagem de uma mulher, integra-se de forma lúdica ao ambiente à beira-mar.

No quesito tamanho, o painel do grupo de grafiteiros Máfia 44 — formado por Flavio Bata, Davi, Julio Dee, Daniel Goaboy, Álvaro Mutant, Gustavo Gut, Pakato, Glauber Gal, Ratão Diniz, Joelma Capozzi e MC Mamut — na Rua Ataíde Parreiras, no Bairro de Fátima, se destaca. Em frente ao Hospital Municipal Carlos Tortelly, a parede lateral da contenção de uma ladeira foi transformada pelos artistas numa enorme tela urbana.

BATALHA POR ESPAÇO

Foi no muro aos fundos de um galpão no acesso à Avenida do Contorno, sentido São Gonçalo, que a Máfia 44 travou uma irreverente batalha com a propaganda do “Trago a pessoa amada de volta”. Depois de terem um mural apagado pelo anúncio, os artistas resolveram intervir na propaganda e puseram a mensagem “Trago o graffiti de volta”. A partir daí, uma série de sobreposições se deu. Atualmente, um grafite de Pakato decora o local.

Uma prova da ascensão do grafite no circuito da arte são as exposições que têm ocupado o Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, anexo ao Campo de São Bento. A mostra “Os homenzinhos azuis”, do grafiteiro Felipe Blunt, em cartaz desde o último dia 4, aborda o cenário urbano por meio de telas, fotografias e latinhas de spray com imagens de homens em tom azul, vivenciando o mundo do skate, do hip hop e da rua. A exposição fica no espaço até dia 31. No mês passado, quem ocupou o local foi o grafiteiro Mutant com a esposição “Mutant, o verdadeiro dono da vaca”.