A ocupação de Barra de Guaratiba teve início em 1579, mas até hoje o bairro é pouco explorado pelos cariocas, mesmo por aqueles que já conhecem seus pontos mais populares: os restaurantes, o Sítio Roberto Burle Marx — patrimônio mundial — e a Pedra do Telégrafo. O bairro, a pouco mais de 20 quilômetros da Barra da Tijuca, tem um enorme potencial turístico e esportivo a ser descoberto. Num cenário onde os prédios tem no máximo cinco andares, a natureza é protagonista, com mar, manguezal e ilhas paradisíacas cheios de atrações para quem busca um refúgio sem precisar sair da cidade grande.
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— Guaratiba é um lugar preservado, onde se encontram as características de uma cidade do interior. A diversidade de fauna e flora aqui é enorme, mas o turismo ainda trabalha esses produtos do ecossistema de forma muito básica — avalia Arthur Campos da Paz, sócio da pousada Epic House Marambaia (@epichouserio). — Sem falar que é um dos raros locais em que o sol se põe na água, e essa vista será eterna, por causa da Restinga da Marambaia.
Barra de Guaratiba fica numa área de preservação ambiental, e parte de seu território está dentro do Parque Estadual da Pedra Branca. Tem diversas vias de escalada e de rapel e cinco praias selvagens: Búzios, Perigoso, Meio, Funda e Inferno. Para acessá-las, somente por trilha ou barco. E, para visitar todas, é preciso estar disposto a fazer uma caminhada de mais de sete horas.
— O turismo aqui ainda precisa de incentivos, principalmente o naútico. A oferta é mais focada em trilhas e praias. Há táxi boats e moradores que levam os visitantes para fazer passeios de barco, mas de maneira informal. Vislumbramos esse potencial há dois anos — explica Alexandre Costa, sócio da Guaratiba Experience (@guaratiba_experience), agência especializada em turismo náutico.
Conheça as belezas naturais de Guaratiba
O profissional de educação e influenciador digital Felipe Zeid frequenta Barra de Guaratiba desde pequeno, mas só conhecia a Ilha das Palmas. Este ano, contratou a agência para voltar ao local e conhecer a Ilha do Frade:
— A água nas ilhas é cristalina, e elas são muito bonitas. As piscinas naturais são uma delícia. Guaratiba tem uma diversidade gigantesca, a união da praia com a restinga, trilhas e mirantes com vista incríveis do nascer e do pôr do sol. É um local pouco explorado tanto pelos moradores da cidade como pelos turistas, que costumam ficar pela Zona Sul. Há mais passeios que quero fazer; com certeza há muito mais para conhecer.
Ilhas do Frade e das Palmas são propícias para esportes náuticos
Barra de Guaratiba abriga as ilhas do Frade, das Palmas e do Farol, em mar aberto. Para chegar até elas só é possível ir de barco ou de stand up paddle — caso o visitante seja um remador muito experiente. Mergulho e pesca submarina estão entre as atividades possíveis para quem chega até lá.
— O mais legal é que o passeio pode ser feito por todos. Já levei uma criança de 1 ano e uma senhora de 85 anos. Um dos nossos roteiros leva para as cinco praias selvagens (R$ 125 por pessoa); e outro, às ilhas (R$ 155 por pessoa) — diz Alexandre Costa, da Guaratiba Experience, cujas embarcações têm capacidade para 12 passageiros.
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A Ilha das Palmas é também conhecida por ser um santuário de aves marinhas. De lá, além de ter vista panorâmica de Barra de Guaratiba, é possível avistar de um outro ângulo as praias selvagens e ainda Grumari, Macumba, Prainha e Praia do Recreio, além da Pedra do Pontal e da Pedra da Gávea.
— As pessoas se encantam porque dá para descer do barco e aproveitar a piscina natural e uma pequena praia com areia formada pelas conchas, além da riqueza da vida marinha. E a ilha tem ainda o ouriço roxo, que chama muita atenção — conta Costa.
Já na Ilha do Frade a piscina natural é um pouco maior e permite saltos de pedras bem altas. Outro destaque é uma gruta que se forma dentro da ilha e permite um mergulho diferente. O ideal é aproveitar quando a maré está baixa. Na Ilha do Farol, o barato é caminhar e ver o farol hoje desativado, onde os turistas costumam tirar fotos. No mar, não é difícil encontrar peixes, tartarugas e arraias. De maio a agosto, dá para observar ainda baleias jubarte e golfinhos.
Chef de cozinha, Marcelo Bonfim resolveu unir sua paixão pelo mar e pela gastronomia em seu barco, o Imua (@imua_rj), com capacidade para sete passageiros. Ele leva os visitantes para a Ilha das Palmas, a do Frade, ou a alguma das praias selvagens, e no local oferece um almoço, pelo preço de R$ 200 por pessoa. O passeio tem quatro horas de duração.
— Dependendo do grupo, eu faço a pesca submarina na ilha e depois preparo o peixe para a refeição. Quando isso não é possível, levo um pescado fresco. Além da parada na ilha, o passeio conta com passagem pelos pontos de interesse da região — conta Bonfim, cuja família é dona do tradicional restaurante Gugut, em Vargem Grande.
No cardápio do chef estão ceviche, de entrada, peixe assado com legumes como prato principal e banana na brasa com chocolate derretido de sobremesa. Há uma opção vegana, com ceviche de banana-da-terra, legumes na brasa e banana na brasa com canela.
— O chocolate é bom porque no fim do dia todo mundo está cansado do passeio e dá um levantada. Busco fazer um trabalho diferenciado e gosto de oferecer um passeio que não é usual — diz o chef.
Manguezal, um espetáculo à parte
Além das ilhas, praias selvagens e trilhas, há muito ainda a ser explorado em Barra de Guaratiba. O manguezal reúne também uma grande diversidade de animais: além de caranguejos-goiamum e aratus-vermelhos, há garças, colhereiros, gaivotas. Em um dos pontos, o mangue forma uma espécie de túnel verde. O local pode ser visitado de barco até onde a maré permite, de stand up paddle (SUP) ou de caiaque. Escolas costumam levar seus alunos para aulas de campo no manguezal.
— Barra de Guaratiba é o lugar ideal para quem gosta de remar ou quer aprender. O passeio pelo manguezal é uma delícia, e recomendamos esse trajeto para quem está começando porque não tem onda, vento ou corrente. Dá para ir de caiaque também. Temos inclusive um guia que pode acompanhar o passeio para falar sobre a fauna e flora e sobre a importância da preservação do meio ambiente — explica Viviane Dandolini, gestora da Casa do Remo. — Também promovemos mutirões de limpeza no mangue para garantir que permaneça intacto.
Na Casa do Remo, uma hora de aluguel custa R$ 50 para o SUP, R$ 60 para o caiaque e R$ 90 para o caiaque duplo. O serviço de guia custa R$ 150, para grupos de até dez pessoas. A empresa também oferece aula de SUP por R$ 100 e passeios de barco para cinco pessoas por R$ 250.
— Nossos instrutores são da região e checam a maré para indicar o melhor passeio. Quem quiser também pode se arriscar até a Ilha do Frade, mas recomendamos que já seja remador. Guaratiba tem muito a crescer no turismo e a ser explorado. É o meu refúgio, um lugar para quem busca um estilo de vida onde menos é mais— diz Viviane.
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Sempre que podem, a publicitária Dayane Oliveira e a estudante Ana Isabele Coimbra aproveitam as paisagens naturais do bairro, incluindo o manguezal.
— O lugar é maravilhoso, o passeio é muito gostoso. Vale muito viver essa experiência — diz Ana Isabele.
O manguezal também está no roteiro da Guaratiba Experience, que tem ainda o passeio Amazônia Carioca.
— Neste, vamos até onde é permitido na Restinga da Marambaia, e dá para contemplar suas dunas — explica Alexandre Costa.
Para quem deseja aproveitar mais do que um dia em Barra de Gauratiba, são muitas as opções de pousadas e aluguel de casas. A Epic House Marambaia tem sete quartos e suítes, inclusive para famílias, com diárias a partir de R$ 450 com café da manhã.
— Atualmente, 80% do meu faturamento vem de moradores do Rio, mas acho que isso ainda se dá pela falta de conhecimento da galera de fora — diz o sócio Arthur Campos da Paz.
Ele conta que foi um dos empresários da região selecionados pelo Sebrae para participar de um projeto de revitalização e exploração da Zona Oeste:
— Somos convidados para as reuniões do Sebrae e para eventos de turismo para defender Barra de Guaratiba como rota de turismo. Eles selecionam pessoas engajadas para atrair investimentos para a nossa região.
No hotel boutique Le Relais de Marambaia (@lerelaisdemarambaia) os cliente são principalmente empresários do perfil bleisure, união de business e leisure (lazer e negócios), sendo a maioria da Zona Sul. Entre os estrangeiros, franceses, israelenses, alemães e nova-ioquirnos têm sido os mais frequentes. São apenas sete suítes, todas com vista e diárias a partir de R$ 750. O day use sai por R$ 380. Há ainda opção de day spa, cujo preço varia de acordo com o tratamento escolhido.
— Alguns hotéis da Zona Sul também nos indicam para os hóspedes que buscam maior contato com a natureza. Muitos quando chegam aqui não acreditam que esse lugar existe e é no Rio — conta a gestora, Renata Afonso.
O hotel em breve terá um novo chef e incrementará sua programação em torno da gastronomia. Além de passeios de barco, jet ski, SUP, ultraleve e para mergulho, oferece talassoterapia e uma sala onde se faz massagem observando as tartarugas que passam nadando sob uma claraboia de vidro instalada no piso.