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Grafite leva cor e ânimo a áreas degradadas do Rio

Projeto de revitalização começa em duas comunidades de Santa Teresa e será estendido para outras cidades. Trinta e sete artistas foram escalados para promover a ressignificação dos espaços

Marcelo Ment diz que sua obra abordará o respeito à vida
Foto:
Divulgação/Márcio Schimidt
Marcelo Ment diz que sua obra abordará o respeito à vida Foto: Divulgação/Márcio Schimidt

RIO - Uma seleção de 37 artistas está nas ruas para tornar o Rio mais colorido na pandemia, estimulando moradores e artistas prejudicados nesse período de isolamento. Os trabalhos começam hoje pela quadra esportiva da Chácara, comunidade de Santa Teresa, e se estenderão a um muro de 60 metros na Rua Almirante Alexandrino, na entrada para o Morro dos Prazeres. É ali que mora o artista Márcio SWK, que toca o Revitaliza Graffiti com a DaLua Produções.

— O projeto é a continuação de ações anteriores que faço aqui, como o Caminho do Graffiti, em que foram revitalizadas mais de cem casas e o grafite era a cereja do bolo. Estamos sempre preocupados em manter esse projeto vivo, recuperndo diversas outras partes. Existem muitos pontos do Morro dos Prazeres que eu queria que fossem grafitados. Já tivemos a parte um e dois, tem também um grande mural na entrada, e agora partimos para lugares próximos, como a quadra da Chácara, que estava bem degradada. Graças a Deus, com esse projeto incluído na Lei Aldir Blanc, vamos conseguir fazer junto a renovação da entrada do morro. É um projeto vivo, e espero não parar com isso nunca — afirma Márcio SWK.

Artista visual. Nascido e criado em Santa Teresa, Márcio SWK é o idealizador do projeto Revitaliza Graffiti com a DaLua Produções Foto: Divulgação
Artista visual. Nascido e criado em Santa Teresa, Márcio SWK é o idealizador do projeto Revitaliza Graffiti com a DaLua Produções Foto: Divulgação

Nascido e criado em Santa Teresa e um dos precursores do grafite no bairro, SWK destaca a importância da arte para reduzir o impacto da violência em áreas carentes. Autodidata, ele grafitou em mais de 20 países e também para grandes marcas. O artista visual vai comandar a intervenção na quadra da Chácara ao lado de Juliana Fervo, Lorena Deluiz, Blopa, Criz Silva, DaRa, Duim, Iogs, Kalache, Mika, Pandro, Lolly, PNG e Vinícius Carvas. O objetivo é transformar o espaço de lazer das crianças com novas cores, letras e formas.

— Apesar de Santa Teresa ser um bairro de diversos artistas e ter um movimento cultural forte, temos muitas comunidades aqui que são carentes em relação à cultura, e a cultura muda tudo. Quem dera se todos pudessem ter oportunidade e se o governo se empenhasse mais para isso. Seria uma grande arma contra a violência. Temos histórias de pessoas que estavam querendo se envolver em certas loucuras e acabaram trocando tudo pela arte. Dar um banho de cores só faz bem — destaca.

Depois de colorir o Rio, o projeto segue para um intercâmbio com outros municípios, como Macaé e Cabo Frio. Trechos do processo de revitalização serão exibidos ao vivo no Instagram @revitalizagrafitti. Além disso, oficinais on-line de grafite com SWK e os artistas convidados Marcelo Ment, Bruno BR e Smael estarão disponíveis com inscrições gratuitas via Sympla. Ao final do projeto será lançada uma exposição virtual das obras realizadas e um webdoc mostrando o processo de pintura.

— Precisamos de mais incentivos a projetos como esse. O Rio anda abandonado. O governo que saiu apagou muita coisa e preferiu a cidade mais cinza, mas acreditamos que a nova administração há de incentivar mais. Esse é um movimento que não pode parar. Na quarentena, a arte salvou as pessoas isoladas. Que nós, artistas, possamos realizar nossos projetos, fortalecer a cultura e colorir cada vez mais — diz SWK.

Muro de 60 metros será pintado no Morro dos Prazeres

Além da revitalização da quadra da Chácara, um muro com mais de 60 metros de comprimento será pintado na Rua Almirante Alexandrino, na entrada para o Morro dos Prazeres, em Santa Teresa. A área costuma ser um destino para admirar cartões-postais da cidade, como Pão de Açúcar e Corcovado. A iniciativa tem como proposta inverter essa ideia, valorizando por meio da arte urbana as particularidades do próprio local.

Participam do projeto os grafiteiros Marcelo Ment, Bruno BR, Bruno Big, Tarm, Dolores Esos, Lya Alves, Renata Edaz, Akuma, Bruno Lyfe, Does, Guilherme Memi, Bobi, Snek, Bart, AP Stelling, BiLi Gebara, Di Couto, Fins e Duim.

Para o painel, Marcelo Ment adianta que vai falar sobre respeito à vida.

— É uma frase que está sempre na minha cabeça, intuitivamente, me dando força para seguir em frente nesse período difícil. Um sonho seria ver mais murais sendo realizados por artistas de diferentes gerações e segmentos pela cidade. A arte urbana é uma das responsáveis pela democratização da arte — diz.


Dolores Elso representa a força das mulheres do grafite
Foto: Divulgação/Douglas/Dobby
Dolores Elso representa a força das mulheres do grafite Foto: Divulgação/Douglas/Dobby

Representando a força das mulheres do grafite, Dolores Esos conta que, para respeitar o isolamento, passou a pintar mais quadros.

—Isso mudou um pouco a poética do que tenho pintado, mas ajudou a descobrir uma nova linha de pensamento, novas técnicas. Nesse muro, pretendo produzir essa nova poética, que são as mãos e o peixe. O peixe tem a ver com a questão da imersão, a intensidade e profundidade — explica a artista.

Duim participa dos dois projetos em Santa Teresa.

— Na quadra, pretendo fazer jovens soltando pipa. Sempre gostei de soltar pipa e de retratar nas minhas obras a molecada brincando. Nos Prazeres, estou elaborando uma ideia um pouco diferente, mas sempre me inspirando no dia a dia das crianças do morro.

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