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Manuel Messias: livro corrige ‘apagamento’ sofrido por artista negro

Obra reúne imagens do trabalho do artista sergipano, que viveu nas ruas do Rio
“Nossa dor te ama”: xilogravura sobre tecido, sem data, está no livro Foto: Jaime Acioli
“Nossa dor te ama”: xilogravura sobre tecido, sem data, está no livro Foto: Jaime Acioli

RIO —  Negro e de família muito pobre, Manuel Messias veio de Sergipe para o Rio, aos 7 anos, acompanhando uma tia e a avó. Tempos depois, a mãe chegou à cidade e foi trabalhar na casa de Leonídio Ribeiro, então diretor do Museu de Arte Moderna, que abriria as portas do mundo das artes para Messias. No início dos anos 60, ao ver que o menino desenhava, Ribeiro concedeu a ele bolsa de estudos com Ivan Serpa, que o estimulou a fazer xilogravura. Messias estudou ainda com o pintor, gravador e desenhista Abelardo Zaluar.

Hoje, na Danielian Galeria (Rua Major Rubens Vaz 414, Gávea), das 16h às 20h, será lançado um livro que conta a história e busca fazer um resgate da importância desse artista. A publicação “Manuel Messias – Do tamanho do Brasil”, que tem 248 páginas bilíngues (português/inglês), conta com textos de Ademar Britto Junior, Guilherme Gutman, Lilia Schwarcz, Marcus Lontra e Rafael Peixoto, além de cronologia do artista assinada por Izabel Ferreira.

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Em seu texto, a antropóloga Lilia Schwarcz traça um paralelo entre Manuel Messias e outros artistas negros e pobres no Brasil, como Lima Barreto e Arthur Bispo do Rosário.

— Não que exista qualquer determinismo histórico a implicar mutuamente as vidas de artistas negros e negras, jovens e pobres. Mas, vamos combinar, essas são experiências em diálogo, por conta das trajetórias semelhantes que encerram loucura, pobreza, exclusão social e racismo — afirma.

“Não sabem o que fazem”. Xilogravura do artista, do período vivido nas ruas
Foto: Jaime Acioli
“Não sabem o que fazem”. Xilogravura do artista, do período vivido nas ruas Foto: Jaime Acioli

O livro é a segunda etapa de um grande projeto realizado pela Danielian Galeria, dos irmãos Ludwig Danielian e Luiz Danielian. Coordenado pelos curadores Marcus Lontra e Rafael Peixoto, ele busca preencher a lacuna existente a respeito de Manuel Messias dos Santos (1945-2001), que sofreu um processo de “apagamento” da história da arte brasileira. Nos últimos dez anos de vida, Messias, que sofria com problemas psiquiátricos, viveu nas ruas do Rio.

Apesar das dificuldades que enfrentou, ele teve participação ativa na cena artística nacional durante 30 anos, com exposições no Brasil e no exterior, sendo premiado diversas vezes.

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