RIO — Cartão-postal do Rio, o Parque Nacional da Tijuca completa 60 anos em 2021. A área verde de 39,5 km² encanta não apenas pelo patrimônio natural como também por abrigar pontos turísticos que são marcas registradas da cidade, como Cristo Redentor, Vista Chinesa e Pedra Bonita. Em 2020, os acessos foram fechados por mais de três meses por conta da pandemia de Covid-19, mas com toda a segurança e protocolos as atividades foram retomadas em julho. No total, 1,3 milhões de pessoas visitaram o espaço no último ano e há quem tenha aproveitado o período de isolamento social para frequentar mais o local. É o caso do operador de equipamentos Leandro Nascimento, de 28 anos, que viu no Parque uma forma de fugir de aglomerações e se divertir ao ar livre.
— Eu já frequentava a área, mas passei a ir mais durante a pandemia. Como nos dias de folga eu gostava muito de ir ao cinema e jogar futebol, precisei encontrar alternativas. Vi ali uma maneira de continuar me movimentando, saindo de casa, mas com segurança, em um ambiente aberto e sem aglomeração — ressalta.
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Morador do Vidigal, na Zona Sul do Rio, Leandro acabou se tornando um 'trilheiro' de carteirinha e virou referência entre os amigos quando o assunto é aproveitar passeios em meio à natureza.
— Para mim, as trilhas e cachoeiras são o que há de melhor. O percurso que mais faço é o da Pedra Bonita. A vista é linda e a subida não é difícil. Agora há sempre amigos pedindo para fazer a trilha comigo e vou revezando a cada vez que decido repetir o passeio — conta.
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O publicitário Lucas Moura, de 24 anos, conta que também voltou a visitar o Parque neste ano. Na semana passada, ele aproveitou a área verde para passear com a avó, Dioneia, de 78 anos.
— É um local que lembra muito a infância. Nós vamos crescendo e às vezes esquecemos de um espaço impressionante como esse perto de casa. É de fácil acesso, um passeio muito democrático. Estamos no meio da cidade, mas num ambiente completamente diferente.
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Preservação
Para o chefe do Parque, Carlos Tavares, a passagem de seis décadas é momento de celebrar, mas também de reforçar a importância de proteger o local. Ele destaca que a criação oficial do espaço em 1961 trouxe ferramentas de proteção, desenvolvimento e manutenção do que a Mata Atlântica já havia construído.
— O Parque Nacional da Tijuca tem algumas características únicas no país, pois está localizado bem no meio da segunda maior cidade do Brasil. A cidade se desenvolveu e cercou completamente o Parque, criando um oásis para a população. Diferente dos limites territoriais de outros parques, os nossos muitas vezes terminam próximo de casas, escolas e empresas. A conexão é direta com o espaço urbano. Por isso, os desafios envolvem sempre a manutenção do equilíbrio nessa convivência, diariamente — ressalta.
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Segundo Tavares, o número menor de visitantes fez com que os animais que vivem na região ficassem mais à vontade para explorar áreas que antes evitavam e hoje em dia quem passeia pelo espaço consegue apreciar a fauna mais de perto. Garantir a presença desses ilustres moradores é um dos objetivos do projeto Refauna, que há dez anos atua no local para evitar o fenômeno de 'floresta vazia'.
O ano de 2021 começou com a soltura de 12 jabutis , ação que deve se repetir em julho. Segundo o biólogo da UFRJ Marcelo Lopes Rheingantz, um dos coordenadores do projeto, o manejo de cotias e bugios precisou ser adiado por conta de restrições impostas pela Covid-19. Também há planos para realizar no futuro o reforço populacional de pássaros trinca-ferro e araras.
— A Floresta da Tijuca é como uma ilha no meio de uma megalópole que é o Rio. Naturalmente, os animais não chegam lá. Dado o histórico de desmatamento, plantio e de caça no local, há também espécies que já não ocorrem mais na área. A falta desses animais gera um efeito a logo prazo na Floresta, porque ela precisa deles para se regenerar. É aí que o projeto entra. É como montar um quebra-cabeça para garantir a sobrevivência desse ecossistema — explica.