Rio
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Por e — Rio de Janeiro

É aos poucos. De porta em porta, a cultura promete dar nova vida ao coração histórico do Rio. Iniciativas ligadas a teatro, música e fotografia, entre outras formas de expressão contempladas no programa Reviver Centro Cultural, ganharão um empurrão para se instalar em sobrados e casarões antigos da região. Funciona assim: imóveis vazios encontram projetos interessados em ocupá-los com o apoio do poder público, além da liberação de verbas do cofre municipal para obras de restauração e aluguel. Os primeiros 17 contratos com a prefeitura foram assinados ontem. Outro edital deve ser aberto para 22 imóveis ainda disponíveis. Um dos endereços que já ganharam morador fica na Travessa do Comércio, número 16. A construção do século XIX vai abrigar um espaço de produção de arte queer (de minorias sexuais e de gênero).

— A gente está muito feliz. É um sonho se tornando realidade. Somos duas artistas, casadas há seis anos, e trabalhamos com a temática queer, que fala sobre famílias homoafetivas. Um espaço de parceria e criação aberto a todos — conta Laura Castro, que, ao lado da esposa, Cristina Flores, idealizou o QueeRIOca, voltado para peças, shows, exposições, oficinas e residência para artistas da comunidade LGBTQIA+.

No andar de cima do sobrado vai funcionar o bistrô Angela Ro Ro, um bar com música ao vivo. O subsolo abrigará um teatro que também poderá ser usado como cinema. A parceria com o Slam das Minas, grupo de competição de poesia falada, é uma aposta das duas para atrair o público. Depois das obras e da decoração, a previsão é inaugurar o espaço em 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

Preservação de patrimônio

O QueeRIOca será vizinho de marcos históricos da cidade, como o Arco do Teles e a Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, ambos do século XVIII. Na mesma via, no número 19, um imóvel em más condições sofreu desabamento parcial em outubro do ano passado. O Reviver Centro Cultural é uma tentativa de preservar o patrimônio local e evitar desastres como esse. No total, 84 projetos foram credenciados no programa lançado em janeiro de 2023. Foram adotados critérios de sustentabilidade financeira, forma de ocupação, nível de interação com o espaço público e capacidade de operar em horários alternativos (à noite e nos fins de semana).

Antes, o município abriu o cadastramento para proprietários de imóveis, e 39 endereços foram registrados. A área priorizada fica entre as avenidas Presidente Vargas e Rio Branco e as ruas Primeiro de Março e da Assembleia, além de um trecho da Orla Conde. Abertas as inscrições para projetos artísticos e culturais, foram escolhidos 84 dos 132 candidatos. Os que são habilitados ficam responsáveis pela negociação do aluguel dos imóveis e pela apresentação do contrato de locação junto à prefeitura.

Após a assinatura do contrato, a prefeitura vai pagar reformas de até R$ 192 mil (mil reais por metro quadrado) e até R$ 14,4 mil mensais (R$ 75 por metro quadrado) para cobrir despesas como aluguel e conta de energia elétrica por, no máximo, quatro anos. Uma contrapartida é ficar pelo menos 30 meses no imóvel — tempo padrão para contratos de aluguel.

— Os primeiros projetos do Reviver Cultural começam a sair do papel. Vamos ver em breve muito movimento e cultura no Centro, com apoio da prefeitura. Isso vai significar desenvolvimento econômico da região e da cidade, e mais opções de lazer — afirma Chicão Bulhões, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico.

Ainda na Travessa do Comércio, no número 11, vai funcionar o Centro Carioca de Fotografia, ideia concebida pela fotógrafa Renata Xavier há mais de 20 anos. Além de exposições com visitas guiadas, o espaço abrigará escola de fotografia e estúdio.

— O Rio é uma das cidades mais fotogênicas e mais fotografadas do mundo, mas com poucos espaços dedicados exclusivamente à fotografia. Fiquei muito feliz que o projeto tenha sido aceito. A ideia é trazer para o Rio um espaço para integrar o ensino de fotografia, exposições e a história da fotografia da cidade. Quero dar espaço para os cronistas visuais cariocas e expor o cotidiano de várias regiões — diz Renata Xavier, que espera iniciar as obras no prédio de 1920 depois do carnaval, e fazer a inauguração em maio.

— Fazer reviver os centros das cidades históricas, através da cultura, foi eficaz em vários países. Acho que estamos indo por um caminho certo — observa a fotógrafa.

Perto dos centros culturais Banco do Brasil, dos Correios e da Justiça Eleitoral, o Museu da Caricatura Brasileira vai ganhar vida nos três andares do número 22 da Rua Primeiro de Março. O lugar receberá a coleção particular do historiador e caricaturista Luciano Magno, autor do livro “História da caricatura brasileira”. A proposta é exibir o acervo, com mais de cem mil itens, em exposições e pela internet. Magno reuniu obras de cartunistas importantes das primeiras décadas do século XX, como J. Carlos, Calixto Cordeiro, Raul Pederneiras, Luiz Peixoto e Nair de Teffé.

— Esperei este momento por 20 anos. O museu já nasce grande! É o único do país com essa temática. Será da mais alta importância para a revitalização do centro do Rio, e me sinto honrado de conseguir levar o projeto adiante — afirma o colecionador, que espera abrir o museu ao público daqui a três meses.

Um projeto na Rua do Rosário trará para o Rio um pouco da Amazônia. A Casa Tucum promoverá atividades e valorização da cultura indígena, com galeria de arte e venda de produtos da região.

— É um espaço para as pessoas se aproximarem da realidade e da cultura dos povos indígenas — resume Amanda Santana, sócia da casa.

Carnaval o ano inteiro

Bem perto da Tucum, ficará a Casa Carnaval, ambiente interativo que, na Rua do Mercado, 37, promete oferecer aos visitantes uma experiência única de imersão na maior festa popular do Brasil. Exposições, cursos e apresentações aprofundarão o mergulho no universo da folia. A iniciativa é de Fabiana Amorim e Bruno Tenório, profissionais da área de comunicação com passagens pelas escolas Unidos da Tijuca (por mais de uma década), Mangueira e Portela, e, atualmente, na Estácio de Sá.

— É um sonho que estamos tirando do papel. Queremos que a Casa Carnaval seja um polo de revitalização, preservação e ressignificação do carnaval, que é tão fundamental o ano inteiro. Vamos homenagear todas as escolas, trazer a história do carnaval — conta Bruno Tenório.

A maioria das construções do Reviver Cultural Centro é do período entre o século XIX e o início do século XX.

— As pessoas vão sentir o Rio mudando em um relance. Esse imóvel do projeto QueeRIOca, por exemplo, é histórico, estava há dez anos vazio. Como ele, há vários outros — afirma Claudio Castro, diretor da Sergio Castro Imóveis, que administra pelo menos 15 das propriedades cadastradas.

Conheça os projetos

1. Arrecife Rio

O Arrecife Rio, a ser instalado na Rua do Rosário, número 61, loja A, é um espaço que reúne um ateliê para artistas, exposições, intervenções artísticas, cursos de longa e curta duração, workshops e eventos sociais e culturais.

2. Centro Carioca de Fotografia

O espaço será uma galeria de arte voltada para a fotografia, tendo a cidade do Rio como temática principal. O espaço funcionará na Travessa do Comércio, número 11, e abrigará exposições rotativas, estúdio e escola de fotografia, além de promover passeios, festivais externos, dentre outras atividades.

Futuras instalações do Centro Carioca de Fotografia — Foto: Divulgação
Futuras instalações do Centro Carioca de Fotografia — Foto: Divulgação

3. Museu da Caricatura Brasileira

O Museu da Caricatura Brasileira se instalará na Rua Primeiro de Março, 22, com um acervo montado a partir da coleção particular de Luciano Magno, caricaturista, historiador e autor da obra “História da Caricatura Brasileira”, com o objetivo de resgatar, preservar e divulgar a memória da caricatura brasileira. A proposta é mostrar o acerto de forma itinerante, em exposições, e por meios como a internet.

4. QueeRIOca

A "QueeRIOca" promete ser um espaço na Travessa do Comércio, 16, para residência e produção de arte queer (termo da língua inglesa usado para definir minorias sexuais e de gênero), no Rio, realizando curadoria de artistas que farão residência na casa com peças teatrais, shows musicais, exposições, batalha de Slam (competições de poesia falada), leituras, performances, palestras, oficinas, debates e seminários.

5. Diário do Rio de Cultura

Também na Travessa do Comércio, 2 a 6, o projeto Diário do Rio de Cultura realizará oficinas de cultura digital e exposição permanente da história da região central da cidade, com visitas guiadas e atendimento ao público geral, assim como também a alunos (as) da rede pública de ensino. Haverá ainda atividades como vernissages, e atividades artístico-culturais.

6. Casa Proeza

A Casa Proeza pretende instalar na Rua do Ouvidor, 26, um centro de estímulo a discussões culturais em seu espaço multifuncional: o casarão abrigará uma galeria de arte voltada à fotografia, além de redação da revista virtual do projeto e estúdio da Proeza Design.

7. Instituto Vida em Equilíbrio

A ocupação promoverá espetáculos teatrais, com atores se apresentando na calçada em frente ao imóvel, e exposição de artes visuais, música e dança, na Rua da Quitanda, 87. Além disso, haverá passeios culturais, com visitas guiadas a pontos turísticos do Centro, voltados para estudantes de escolas públicas (estaduais e municipais) e particulares, a princípio às sextas-feiras, e para turistas e alunos graduandos em cursos como turismo e hotelaria, aos fins de semana.

8. Casa Tucum

Localizada na Rua do Rosário 30, a Casa Tucum traz a cultura indígena através de uma loja conceito, galeria de arte, empório gastronômico e empreendedorismo indígena, gerando o encontro entre as diversas culturas indígenas e a sociedade, a fim de expandir o imaginário comum sobre a cultura.

9. Galeria Refresco

A galeria Refresco traz à Rua do Rosário 26/28 residências artísticas, exposições, atividades pedagógicas, principalmente voltadas para artistas que já circulam pelo centro da cidade. A ideia é auxiliar os artistas no desenvolvimento e aprimoramento de suas carreiras, bem como explorar possibilidades comerciais, além de buscar parcerias com projetos similares.

10. Teatro do Mar

O projeto pretende construir a sede do Espaço Teatro do Mar, reunindo aulas de teatro, cenografia, figurino, música, produção e gravação de produções audiovisuais, podcasts, eventos artísticos e uma sala de apresentações teatrais na Rua Sete de Setembro, 63.

11. MetaGallery Dao

Na Rua da Assembleia, 40, a Meta Gallery instalará espaços imersivos com exposições de arte em NFT, divulgação de artes digitais e um display LCD de alta definição em sua fachada, expondo formas de arte digital. Além disso, pretende oferecer oficinas, palestras, debates e eventos sobre blockchains, NFT, arte digital e tecnologias emergentes.

12. Casa Carnaval

A Casa Carnaval trará à Rua do Mercado, 37, uma experiência da maior festa popular do Brasil para além de fevereiro. O espaço terá exposições, cursos, apresentações e produções de conteúdo sobre a indústria carnavalesca. Voltado ao público carioca e turistas, o projeto promete valorizar a arte do carnaval, com manifestações sobre o presente, o passado e o futuro desse movimento artístico vivo.

13. Cará

O projeto, localizado na Rua sete de setembro, 43 Loja A, dialoga com o Centro de Pesquisa Avançada do Novo Samba Tradicional Onde o Coro Come - IBORU. A proposta é uma residência artística capitaneada por artistas plásticos brasileiros visando a uma troca de experiências com projetos já consagrados, possibilitando diálogos e vivências.

Centro de Pesquisa Avançada do Novo Samba Tradicional Onde o Coro Come - IBORU — Foto: Caiano Midam
Centro de Pesquisa Avançada do Novo Samba Tradicional Onde o Coro Come - IBORU — Foto: Caiano Midam

14. Escola da Diversão - Casa Criativa Rio

A proposta de um espaço de criatividade será localizado na Rua dos Mercadores, 8-A. Tem como características oferecer capacitação para habilidades artísticas e acompanhamento de projetos culturais.

15. Ginga Tropical

A Casa Ginga Tropical oferecerá atividades atreladas à preservação do folclore e da cultura popular brasileira por meio de apresentações de dança, cursos e eventos de rua. Terá atividades fixas de rodas de dança e capoeira na Rua da Alfândega, 19.

16. Museu do Café

O espaço, que ficará na Rua do Ouvidor, 28, é para os amantes de café. E vai usar ferramentas multimídia para contar a história do café, bem como exposições culturais e um ambiente de degustação, com processo de torra no local.

17. Casa de Cultura Volta do Mundo

A cultura afro-brasileira, notadamente a capoeira, é a peça central da proposta do projeto. Espaço de economia criativa, a Casa de Cultura que ficará na Rua do Rosário, 24, promoverá eventos ligados à democratização artística carioca e oferecerá cursos para promoção da cultura afro-brasileira.

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