Rio Rio 450

Obra de Debret, que retratou cotidiano da cidade no século XIX, será tema de mostra

Mais de 500 aquarelas que o artista francês jamais mostrou enquanto esteve no Brasil serão expostas no Centro

RIO — Andar pela Praça Quinze, no Centro, próximo ao chafariz do Mestre Valentim, não é a única forma de apreciar um cenário já retratado pelo francês Jean-Baptiste Debret. Entre os dias 4 de março e 3 maio, obras do artista estarão na mostra “O Rio de Janeiro de Debret”, da coleção Castro Maya. A exposição, que comemora os 450 anos do Rio, festejados no próximo domingo, será realizada no Centro Cultural dos Correios e contará com 120 pinturas do mestre.

Nos idos do século XIX, a mesma Praça Quinze, com o chafariz, retratada por Jean-Baptiste Debret Foto: Reprodução
Nos idos do século XIX, a mesma Praça Quinze, com o chafariz, retratada por Jean-Baptiste Debret Foto: Reprodução

A Praça Quinze hoje: chafariz do Mestre Valentim é um testemunho do passado
Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
A Praça Quinze hoje: chafariz do Mestre Valentim é um testemunho do passado Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

A convite de dom João VI, em 1816, Debret fez parte da chamada Missão Francesa, encarregada de formar uma academia de belas artes na capital do novo reino. Ele ficou 15 anos no Rio. Após a volta de dom Pedro I para Portugal, Debret retornou à França.

Vera de Alencar, diretora do Museu Castro Maya, destaca que a obra do artista francês tem grande valor para a história da Cidade Maravilhosa.

— É o único registro visual da sociedade carioca da primeira metade do século XIX. Além disso, através da publicação, em Paris, dos três volumes da “Viagem pitoresca e histórica ao Brasil’, a obra de Debret divulgou para o público europeu um verdadeiro Rio de novidades: as particularidades da vida nesse lugar novo, distante, quente e exótico.

Especialista na obra de Debret, o francês Jacques Leenhardt lembra que o pintor fez um trabalho de desenho com aquarela nas ruas e nas casas do Rio. No total, são mais de 500 aquarelas que o artista jamais mostrou enquanto esteve no Brasil.

— É uma visão extremamente precisa da vida cotidiana das diversas populações da cidade: escravos, mestiços e portugueses da Igreja e da corte. À diferença dos viajantes, Debret ficou 15 anos observando os trabalhos e os comportamentos desses personagens, comentando, com detalhes, cada imagem reproduzida nas 152 pranchas de seu livro. Essas descrições constituem um testemunho único sobre a vida do Rio, enfatizando, sobretudo, o papel dos escravos, por serem eles, como bem disse Debret, os únicos que trabalhavam.

Produtos vindos do Espírito Santo para alimentar prisioneiros Foto: Reprodução
Produtos vindos do Espírito Santo para alimentar prisioneiros Foto: Reprodução

Se o francês estivesse no Rio hoje, segundo Jacques, vários elementos da paisagem urbana chamariam a sua atenção. Um deles seria o Museu de Arte do Rio (MAR), na Praça Mauá.

— Ali ele poderia ver a transformação da cidade que conheceu. E, caminhando na região, descobriria as escavações arqueológicas do Cais do Valongo, onde registrou a brutalidade do comércio escravista — diz.