A DC Comics tem planos de adotar a tecnologia NFT (“non-fungible tokens” ou “tokens não fungíveis”), a fim de assegurar artes digitais relacionadas às suas propriedades intelectuais e gerar uma nova via de faturamento vinda dos personagens de seus quadrinhos. A notícia complica a vida de artistas a serviço ou que já estiveram a serviço da empresa, que já vinham utilizando o recurso para vender suas criações não usadas oficialmente e ganhar um dinheiro extra.

A confirmação vem por meio de uma carta vazada, assinada por um alto executivo da editora, alertando que artistas que forem descobertos vendendo artes via NFT serão processados pela companhia, além de terem seus contratos e benefícios revogados caso ainda sejam funcionários.

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Imagem da série "Heroines: Weight of the World", criada por José Delbo e vendida por meio da tecnologia de tokens não fungíveis. Imagem: José Delbo/Acervo pessoal
Imagem da série “Heroines: Weight of the World”, criada por José Delbo e vendida por meio da tecnologia de tokens não fungíveis. Imagem: José Delbo/Acervo pessoal

Mas o que são os tokens não fungíveis?

Basicamente, a tecnologia NFT segue os mesmos preceitos de blockchain e segurança vistos nas criptomoedas, mas a finalidade, porém, é outra. Pense no seguinte exemplo: um artista de quadrinhos tem uma série de desenhos “B” – ou seja, versões rascunhadas que nunca foram oficialmente utilizadas – e decide vendê-los por conta própria na internet. Você, um comprador em potencial, paga o valor a ele, que por sua vez, lhe garante um token não fungível. Este token não pode ser trocado ou adulterado, e funciona como um certificado que comprova que o desenho que você adquiriu é autêntico e original – consequentemente, um item de colecionador.

Na carta assinada pela DC Comics, o vice-presidente sênior de assuntos jurídicos da empresa, Jay Krogan, ressaltou que a empresa planeja adotar os tokens não fungíveis para seus próprios ganhos, efetivamente proibindo artistas de comercializarem suas artes caso elas tenham relação com a propriedade intelectual da empresa.

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A situação tem uma correspondência decente: o quadrinista argentino José Delbo, ex-funcionário da DC Comics na década de 1970, vendeu alguns rascunhos da Mulher-Maravilha que ele criou. Nessa transação, ele conseguiu quase US$ 2 milhões (R$ 10,98 milhões, na conversão direta) por 914 NFTs relacionados a diversas imagens das muitas heroínas desenhadas por ele para a DC.

Ainda não se sabe se a empresa pode tomar algum tipo de ação contra Delbo – ou mesmo se ela tentou avaliar essa opção -, mas no intuito de preservar uma possível nova via de faturamento, a DC emitiu a carta internamente, mas o documento acabou vazado para o site Bleeding Cool. Nós traduzimos o documento na íntegra, logo abaixo:

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Uma arte do Homem-Aranha, exclusivamente criada para venda via NFT, foi comercializada pela Marvel por US$ 25 mil. Imagem: Marvel/Divulgação

“Os tokens não fungíveis (NFTs) estão se tornando uma nova forma de artigos colecionáveis e têm gerado burburinho no ambiente digital. A DC está explorando oportunidades de entrar no mercado para a distribuição e venda de artes originais da empresa com NFTs, incluindo criações novas, desenhadas especificamente para este setor, e também artes renderizadas das publicações em quadrinhos da DC.

À medida que a DC examina as complexidades do mercado de NFTs, e trabalhamos em uma solução justa para todas as partes envolvidas, incluindo fãs e colecionadores, é importante ressaltar que a oferta de venda de qualquer imagem digital apresentando a propriedade intelectual da DC – com ou sem NFTs -, sejam elas renderizações das publicações da empresa ou criadas fora do escopo do contrato estipulado de um indivíduo com a DC, não é permitida. Se você for abordado por alguém interessado em incluir a sua arte em qualquer programa de NFT, por favor sinalize a situação para Lawrence Ganem, vice-presidente de serviços de talentos da DC.

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Nós esperamos que a participação dos artistas freelancers da DC seja um componente integral do programa de NFT que a empresa implementar. Vamos oferecer informações mais detalhadas assim que elas ficarem disponíveis, e nós agradecemos a sua cooperação e parceria.”

No caso de Delbo, todos os valores obtidos foram direcionados a organizações de auxílio a grupos marginalizados – especificamente, a entidade “Girls Can Code”, direcionada ao engajamento e ampliação da mulher no mercado de carreiras tecnológicas.

Vale citar que a Marvel já conta com um programa de NFT, onde a empresa já vendeu uma arte exclusiva do Homem-Aranha por US$ 25 mil (R$ 136,95 mil) em fevereiro deste ano. As informações não foram confirmadas, mas parece que a iniciativa partiu de criadores independentes, mas obteve uma chancela oficial por parte da empresa de propriedade da Disney.

A DC não comentou o vazamento.

Fonte: Bleeding Cool / Coin Telegraph