Um clone de macaco sobreviveu por mais de dois anos, informou uma equipe da Academia Chinesa de Ciências (CAS). Pode parecer pouco, mas esse seria o período mais longo que qualquer macaco-rhesus (Macaca mulatta) clonado sobreviveu até hoje.

Para quem tem pressa:

  • Cientistas da Academia Chinesa de Ciências (CAS) informaram que um macaco-rhesus clonado sobreviveu por mais de dois anos, marcando o período mais longo de sobrevivência para um clone dessa espécie;
  • A pesquisa revelou que quase metade dos embriões clonados implantados em úteros morreram por volta do 60º dia de gestação – a maioria devido a problemas de expressão gênica no desenvolvimento. Outros clones sobreviveram apenas por horas, dias, semanas ou meses após o nascimento;
  • O estudo, publicado na Nature Communications, utilizou um novo método que melhora o desenvolvimento da placenta de embriões clonados. A pesquisa focou na expressão genética correta da placenta em diferentes estágios do crescimento fetal;
  • Para resolver obstáculos do processo, os cientistas criaram um embrião híbrido, com massa celular interna de um embrião clonado e trofoblasto de um embrião não clonado. Este método melhorou significativamente as taxas de sobrevivência dos animais clonados;
  • Apesar do sucesso na melhoria das taxas de sobrevivência e expectativa de vida dos macacos clonados, a prática da clonagem continua a gerar debates. Enquanto alguns defendem seu valor, outros levantam preocupações sobre o bem-estar animal e as implicações éticas.

De todos os embriões de macaco clonado implantados num útero, quase a metade morreu por volta do 60º dia de gestação. Enquanto alguns clones supostamente viveram por semanas ou meses, outros que conseguiram sair do útero sobreviveram por apenas por horas ou dias. Grande parte das mortes ocorreram por problemas de expressão gênica no desenvolvimento.

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Clones de macacos

Dois macacos da espécie macaco-rhesus em galho de árvore
(Imagem: Tareq Uddin Ahmed/Shutterstock)

O macaco clonado de dois anos é uma exceção que dá esperança aos cientistas. Os pesquisadores chineses usaram um novo método, projetado para melhorar os resultados do desenvolvimento da placenta de um embrião clonado. O estudo foi publicado na revista científica Nature Communications.

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À medida que um feto cresce e muda, os perfis de expressão genética de sua placenta devem mudar com ele. No entanto, a placenta nem sempre parece expressar os perfis genéticos corretos no momento certo entre fetos clonados.

O problema deriva das células somáticas do embrião clonado. As células da camada trofoblástica externa do embrião fornecem nutrientes ao embrião em desenvolvimento e depois formam grande parte da placenta após a implantação. Essa parte se mostrou disfuncionais ou defeituosas na placenta mais adiante no processo.

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Avanços

Macaco-rhesus correndo em mureta
(Imagem: PhotocechCZ/Shutterstock)

Agora, a equipe de cientistas encontrou uma maneira de melhorar os resultados de sobrevivência para seus modelos animais. Para combater esses defeitos, os pesquisadores embutiram as camadas internas do embrião clonado no trofoblasto de um não clonado antes de implantar esse embrião híbrido. Assim, “resgataram” seu desenvolvimento.

Esse método funciona assim: os cientistas injetam a massa celular interna de um embrião clonado num segundo embrião não clonado, formado in vitro. Isso dá ao embrião “híbrido” um trofoblasto que pertence a um não clonado. O embrião clonado inicial foi feito por transferência nuclear de célula somática (SCNT), que substitui o núcleo de uma célula de óvulo pelo somático (corpo) e DNA de outro indivíduo.

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Para servir de referência: é o mesmo método que criou o primeiro animal clonado em 1996, a ovelha Dolly. Embora tenha sido bem-sucedido entre porcos, cães, camundongos, gado e coelhos, é muito mais difícil de realizar com um primata. Cientistas da CAS só conseguiram criar Zhong Zhong e Hua Hua, dois clones de um macaco-do-velho-mundo (Macaca fascicularis), usando SCNT em 2018.

“Esta estratégia tem grande promessa para melhorar as taxas de sucesso ao abordar questões especificamente relacionadas ao trophectoderma, que desempenha um papel crucial no desenvolvimento embrionário inicial e na implantação”, escreve a equipe no artigo publicado na Nature.

Discussões

Embora as taxas de sucesso e a expectativa de vida de macacos clonados tenham melhorado ao longo dos anos, eles raramente vivem muito. Além disso, a mera existência dos clones levou a discussões em torno de todo o campo de pesquisa em nível internacional.

Os defensores da clonagem de primatas argumentam que a possibilidade de estudos com gêmeos entre parentes humanos próximos seria altamente valiosa como modelo de doença. Os céticos argumentam que tais resultados não são garantidos e que os perigos para o bem-estar animal são muito altos.

Os cientistas da CAS afirmam estar seguindo as diretrizes éticas internacionais. E sua pesquisa, que é totalmente legal na China, tem continuado ininterrupta desde 2018.