Erinlé

 

ERÍNLÈ

Eníbúmbú, olódò-odò, olómi-omi 
O culto de Erínlè nasce no Odu de Òkànràn Ogbè. Seu culto está 
centrado ao redor do rio Erínlè, um rio tributário do rio Òsun, que 
atravessa a cidade de Ìlobùú (Ilú Òbú ou cidade de Òbú), localizada 
ao sul da Nigéria Ocidental, na estrada de Ogbomoso para Osogbo (está 
situada aproximadamente dez milhas a oeste de Osogbo). Ele é a 
divindade patrona de Ìlobùú. Ìlobùú é um centro de comércio para o 
inhame, milho, mandioca, óleo de dendê, abóbora, feijão, quiabo e 
está em uma área de savana habitada principalmente pelos Yoruba. Òbú 
é um tipo de giz nativo (efun) e é comestível. É usado para temperar 
comida e era um dos temperos principais, muito antes do sal, da mesma 
forma que o aró-àbàje (uma tintura azul comestível) é usado para 
temperar comidas como o ekuru aró. 

Tido como filho de Ainá, Erínlè é considerado por muitos como filho 
mítico de Yemoja e de Olokun. É um Òrìsà caçador, pescador e um 
médico, por conta do seu grande conhecimento da floresta e da flora. 
Este Òrìsà, enquanto médico dominou, antes que Osányìn, o poder da 
botânica. Não é incomum para os sacerdotes de Erínlè carregarem um 
cajado (òsù) semelhante ao que carregam os sacerdotes de Osányìn e de 
Ifá devido a importância deles como curandeiros medicinais. 

Sabe-se que ele conhece o poder curativo do Eja aro. Essa medicina 
nasce em Òkànràn Òfún. O peixe seco (eja aro) é conhecido em Nupeland 
e isso é revelado pelo caminho de Òkànrànsodè descrito abaixo e na 
conexão entre Erínlè e o exilado rei da Nupeland.

Há muitas variações no nome pelo qual Erínlè é conhecido. Assim, ele 
é comumente conhecido como Erínlè dentro de Egbado, Erínlè em Ìlobùú, 
Enlè em Okuku. Em Cuba e Trinidad ele é conhecido como Inlè ou 
Erínlè “Ajaja”. Ajaja é um título honorífico que significa “Ele que 
come cachorro”, “o que é feroz”. No Brasil, no Candomblé Ketu, ele é 
conhecido como Inlè e Òsóòsì Ibualama. Erínlè quer dizer elefante 
(Erin) em-o-terra (ilè) ou terra-elefante. 

Erínlè é considerado por alguns como uma divindade hermafrodita, mas 
ele é adorado principalmente como uma divindade masculina em 
Yorùbáland. Ele é pensado por alguns estudiosos como sendo o aspecto 
masculino de Yemoja Mojelewu. O que parece consenso é que Erínlè mora 
na floresta com os irmãos Osányìn, Ògún e Òsóòsì, no cultivo com 
Òrìsà Oko, nas águas com Yemoja, Otin e Òsun. A residência verdadeira 
dele seria o ponto onde o rio encontra o oceano, onde docemente se 
misturam as águas doce e salgada. 

No Candomblé Ketu é considerado que Erínlè tem dois caminhos ou 
aspectos. Um aspecto é considerado um velho caçador, Òsóòsì Ibualama. 
O outro caminho é mais jovem e mais delicado e bonito, normalmente 
chamado Inlè.

Na tradição Lukumi, Erínlè é acompanhado por Ibojuto e Abátàn. Abátàn 
(ou Abàtà = pântano) é a divindade da baixada. Abátàn normalmente é 
considerado como a companheira feminina de Erínlè mas alguns 
reconhecem Abátàn como masculino. Quando Erínlè é assentado dentro da 
cerimônia de iniciação, Abátàn também é assentada. Ela tem canções e 
oríkì separados. Abátàn come com Erínlè e participa de todas as suas 
oferendas e sacrifícios. 

Erínlè seria acompanhado por Abátàn, sua contraparte feminina. Duas 
divindades que se unem como um, embora distintos, eles funcionam 
juntos, como uma unidade. Há um equilíbrio, dando uma visão 
instantânea do caráter de Erínlè, uma mistura perfeita de energias 
masculina e feminina.

Além disso, na tradição Lukumi, considera-se que a familia de Erínlè 
se compõe de: Abátàn – sua esposa, Boyuto – guardião de Erínlè e 
Abátàn, Otin – filha de Erínlè e Abátàn, Jobia – filho de Asipelu, 
ajudante de Erínlè, Olóògùn Èdè (Lògùn Èdè), o “senhor” (dono) do 
medicamento (medicina) de Èdè – filho de Erínlè com Osun, e, por 
último, Asao – duplo de Erínlè. Na Nigéria, Erínlè tem muitas 
manifestações ou caminhos, conhecidos como ibú: Ojútù, Álamo, Owáálá, 
Abátàn, Ìyámòkín, Àánú. É o oríkì de cada ibú que distingue entre os 
caminhos diferentes ou manifestações de Erínlè, como um se 
apresentando na sua coragem, outro como um caçador, outro ainda no 
poder presente na profundidade do rio. São cantados oríkì individuais 
a Erínlè no seu festival anual da mesma forma como também são 
invocados coletivamente.

O awo – ota – Erínlè ou otun Erínlè, é o nome dos recipientes usados 
dentro do culto de Erínlè (em Okeho é adicionalmente conhecido como 
aawe – Erínlè, onde tem uma forma totalmente diferente das 
encontradas em Ìlobùú e na maior parte da Yorùbáland). Potes fechados 
que guardam pedras e água são predominantemente associadas com 
divindades fluviais femininas, como aqueles encontrados nos cultos de 
Yemoja e Òsun. O awo – ota – Erínlè é o recipiente tradicional para 
guardar os ota de Erínlè. Sacerdotes de Erínlè dançam em procissão 
como parte do festival anual de Erínlè em muitas partes de Nigéria. 
Para o festival, sacerdotes trazem com eles o próprio awo – ota – 
Erínlè para o festival no rio de Ìlobùú. Quando a possessão acontece, 
Erínlè dança com o awo – ota – Erínlè colocado no alto da cabeça.

O òpá òrèrè (osu/cajado com o pássaro de ferro) de Erínlè é a 
representação para os seus seguidores da importância de Erínlè como 
curandeiro. A divindade mais amplamente conhecida com o mesmo símbolo 
é Osányìn. O cajado é feito de ferro. Sempre é mantido em pé. 
Pássaros de ferro empoleiram-se no topo. A maioria dos exemplos 
mostra um grande pássaro central cercado por pássaros menores. Não há 
diferenças significativas entre os cajados de Erínlè e de Osányìn 
encontrados na Nigéria, cada cajado é uma peça autorizada e única e 
assim os estilos variam imensamente. Porém há dois desenhos comuns do 
cajado de Osányìn feitos dentro da perspectiva dos awo em Yorùbáland. 
É comum se ver um cajado relativamente curto com um grande pássaro em 
seu topo e com 16 pássaros menores, em um arranjo circular, que olham 
para o pássaro mais alto, central. Lá também pode ser encontrado um 
òpá/osu Osányìn alto, com um só e único pássaro e quatro cones de 
metal invertidos, as aberturas deles coberta por disco de metal para 
guardar medicamentos; seguro levemente na parte mais baixa do cajado 
(este cajado também é encontrado na tradição Lukumi, sua 
especificação é considerada um requisito de Odù).

Deve ser acentuado que os cajados de Erínlè e Osányìn nas terras 
Yorùbá são encontrados em muitas variações no número de pássaros, 
formas e estilos. Foi sugerido que os 16 pássaros menores representam 
a divindade Odù e os Olódù de adivinhação. As curvas graciosas destes 
pássaros estáticos também podem ser confundidas com um agrupamento 
permanente de folhas de metal. Tais folhas, que não morrem, são uma 
lembrança visual forte para Osányìn e os medicamentos de Erínlè! 

O pássaro de coroamento é, segundo muitos, um símbolo do poder 
sobre/pacto de Osányìn e Erínlè com as Ìyáàmi. São os medicamentos 
herbários de Erínlè e Osányìn que podem neutralizar ou contrapor-se 
aos ataques pelos aspectos negativos de Ìyáàmi. Eleye 
significa “mulheres que possuem e são pássaros”, sendo os pássaros os 
mensageiros de Àjé/Ìyáàmi. Estes mensageiros também podem ser vistos 
em muito da estatuária religiosa e do simbolismo real, como por 
exemplo, no alto da coroa dos Oba. Ìyáàmi é em essência o àse/awo 
feminino primordial, que pode ser potencialmente benéfico ou maléfico 
(em condições judiciosas). Os símbolos de pássaro lembram aos líderes 
e congregações que ninguém está acima das forças invisíveis que 
precisam ser apaziguadas. As Ìyáàmi representam a gênese, as guardiãs 
e as doadoras do àse na terra.

Boyuto ou Ibojuto é encontrado em todos os santuários Lukumi para 
Erínlè. É descendente do òpá Erínlè encontrado entre os Yorùbá. 
Boyuto leva seu nome de uma das qualidades ou caminhos de Erínlè. 
Esta qualidade de Erínlè está ligada a profundidade impressiva do rio 
Erínlè. É dito que nesta profundidade é encontrado o reino mítico de 
Erínlè, chamado Ode Kobaye. “Esta profundidade escura do redemoinho é 
chamado Ojuto. Acredita-se assim, profundamente, que as duas casas 
históricas (ilé pètésì) teriam sido tragadas para cima (emergido) 
dentro das correntes coloridas de índigo. Do fundo do ibu Ojuto, 
assim é acreditado, bandos (escoltas) de pombos voam para acima das 
águas e desaparecem no ar.” (Baba Erinlè de Ílobúù falando com R. F. 
Thompson no local de rio Erínlè, em Ílodúù, 1994). Boyuto ou Ibojuto 
é também conhecido comumente com osu de Erínlè.

Òkànràn Ogbè – O nascimento do culto de Erínlè

Um Itan do Odu Ònkànràn Ogbè conta a história de um homem Nùpe (Tápà) 
com o nome de Àyònù que veio para a região de Ílobùú. Ele era o 
herdeiro da coroa em sua terra natal porém devido a algumas manobras 
políticas o título lhe foi usurpado e ele foi forçado a fugir da 
cidade – ele teria sido morto para destruir a possibilidade de 
qualquer reivindicação futura à coroa.

Àyònù veio para Ìlobùú para caçar e ajudar a um caçador nativo que 
tinha uma estranha aparência. O amigo percebeu que Àyònù, embora 
mostrando-se apto nas habilidades da caça e agudo em aprender todos 
os segredos possíveis, não vivia sua vida conforme um caçador. Àyònù 
contou sua história para o amigo caçador. O amigo era Erínlè mas ele 
não o conhecia pelo nome porque os caçadores não mencionam nomes no 
mato para não serem afetados por nenhum dos espíritos animais. 
Caçadores referem-se uns aos outros simplesmente como Àwé. Erínlè, 
por seu turno, contou para Àyònù sobre sua casa, um palácio que ele 
tinha embaixo da terra. Ele golpeou o chão com a palma de sua mão, a 
terra abriu-se e os dois desceram para o palácio subterrâneo. 

Erínlè tinha estado caçando por um longo tempo e, assim, ele decidiu 
fazer um pacto com Àyònù. Erínlè prometeu para Àyònù um nova coroa 
para recompensá-lo pelo título que ele havia perdido em sua terra 
natal. Ele disse para Àyònù que, por tanto tempo quanto ele 
continuasse a lhe trazer comida de caça, ele o compensaria com um 
título novo. Erínlè também prometeu que a guerra nunca afetaria o 
reino dele. Erínlè e Àyònù consolidaram seu pacto e Erínlè retirou-se 
para seu palácio na terra. Ele disse para Àyònù que se ele precisasse 
dele novamente deveria chamá-lo golpeando a terra com a palma da sua 
mão. Àyònù nunca mais viu seu amigo novamente.

Àyònù construiu sua casa lá e logo outros caçadores vieram viver com 
ele, seguidos por fazendeiros. Uma cidade tinha sido estabelecida e 
eles consultaram Ifá. Os adivinhos lançaram Òkànràn Ogbè e Òrúnmìlà 
disse: ire! Desde esta época a cidade de Ìlobùú nunca foi invadida ou 
afligida por guerra, mesmo durante o tumultuoso século dezenove, 
marcado por muitos anos de conflitos civis na Yorùbáland. 

Àwá ti Erínlè fi sodi o
Nós cultuamos Erínlè dentro de nossa fortaleza,
o Àwá ti Erínlè fi sodi
Nós cultuamos Erínlè dentro de nossa fortaleza,
o Ogun ò jà jà
A guerra não pode nos atacar,
Kógun ó jà¹loòbú
A guerra não pode nos atacar e afetar Loòbú.
Àwá ti Erínlè fi sodi
Nós cultuamos Erínlè dentro de nossa fortaleza, o.
Porque a guerra e a escravização tiveram pouco efeito sobre o povo de 
Ìlobùú a fama de Erínlè espalhou-se através da Yorùbáland e o seu 
culto foi a partir daí estabelecido, expandindo-se além de sua região 
de origem. 

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Awo Ifá Bowale

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