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VIPs

VIPs
6/10
(2011, BRA) de Toniko Melo

É importante frisar que o filme “VIPs” apesar de ser baseado no livro que conta a história do estelionatário Marcelo Nascimento da Rocha, apenas se baseia nos pontos chaves de sua trajetória, de participante de uma quadrilha de tráfico de drogas na região de fronteira com Paraguai a intérprete de Henrique Constantino, filho do dono da Gol. De resto, a trama distorce bastante coisa, seja do início da carreira dele, até as motivações que o levaram.
Se realmente ficar no história fato por fato leva a tragédias como que acometeram “Bruna Surfistinha”, “Vips” cai em outro filão o de tentar racionalizar a trama com motivos psicológicos, quase sempre (como neste caso) ligado à infância. Aqui, Marcelo sofre bullying na escola, sendo chamado pelos colegas de “Bizarro” – uma coincidência divertida com “Bruna Surfistinha” -, e por tentar desmentir para a mãe – e para o mundo – que não está fadado a ser um “Zé ninguem” acaba seguindo os rumos do pai, a quem sente imensa falta e decide virar piloto de avião.
O filme segue uma linha incrivelmente automática na primeira metade, em que mostra a trajetória de Marcelo no tráfico, e enquanto ele aprende a pilotar. Tudo serve muito claramente de escada para a parte mais famosa, interessante e que interessa ao diretor, quando Marcelo encarna Constantino e vai para o Recifefolia. Também ficam mais óbvias as diferenças entre a história verdadeira e a produzida pelo filme: Enquanto Marcelo, bem mais gordinho, chegou com celulares ultrapassados, relógio de plástico, câmera a tira-colo para registrar seus momentos de fama, Wagner Moura interpreta o protótipo do galã global bem arrumado (quase como o seu Olavo de “Paraíso Tropical”).
Durante o carnaval fora de época, comandado por um empresário chamado Eike (Batista?), ele paquera (e fica com) atrizes famosas, corteja uma mulher mais velha e rica, com problemas psicológicos e conjugais e forma uma parceria com Renato Jacques, um famoso galã de novelas (Renato Gobeth que realmente lembra Ricardo Macchi, inspiração do personagem). Aqui Toniko Melo aproveita para fazer de seu filme uma comédia sobre a fama e os personagens da high society brasileira, que se estapeiam para estar ao lado dele e participar de suas aventuras, culminando com uma cena absurdamente cômica no aeroporto.
O grande mérito do filme é conseguir, talvez como nenhuma obra de ficção tenha feito antes, destrinchar esse meio artístico-social brasileiro. Em uma cena de perigo, o galã Renato Jacques acaba aceitando interpretar uma personagem para salvar o amigo mas ao se dar conta da situação exclama “Mas eu não sei o que fazer, sou só um ator”, remetendo de imediato a “Trovão Tropical”, talvez a melhor comédia americana da década passada. Amaury Jr. em especial aceita rir de si mesmo, reprisando o seu papel na história, como o apresentador que expôs a fraude de Marcelo ao vivo para todo o Brasil.
Wagner Moura, é importante frisar, está genial, imprimindo um carisma enorme e conseguindo fazer bem as transições de seu personagem. Mas é importante esqueçer a pseudopsicologia implementada pelo filme e as cenas de indulgência (como quando ele explica algo que já era absolutamente claro).

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