o que é esperado por cada idade?

O desenvolvimento da criança é uma preocupação de mães e pais. Para entender o que não está de acordo com o esperado, é preciso entender primeiro o que é comum no desenvolvimento.

Os marcos desenvolvimentais são parâmetros que indicam por idade o desenvolvimento de crianças típicas, ou seja, sem alterações, Mas “cada criança tem o seu tempo”, certo?! Cuidado com essa afirmação! O ritmo individual de cada criança influencia na forma que ela desenvolve a linguagem. Porém, existe uma idade adequada no desenvolvimento típico (os marcos do desenvolvimento) que esperamos que a criança já consiga ter certas habilidades comunicativas.

Quando observado que a criança não atingiu essas expectativas, ela precisa ser avaliada, pois é um indicativo que ela pode apresentar algum atraso ou transtorno de linguagem! Quanto antes começar a intervenção melhor! Em caso de qualquer dúvida sobre a comunicação não espere para procurar um fonoaudiólogo1.

Abaixo estamos apresentando alguns marcos do desenvolvimento da linguagem oral, de acordo com a literatura consultada2-4.

0 a 6 meses
  • Quando recém nascido o bebê chora como consequência de dor e fome, ele se acalma com a voz da mãe e se assusta com sons altos.
  • Por volta dos 2 e 3 meses o choro do bebê se torna diferenciado, sendo assim, a partir do choro é possível perceber quando ele está com fome, dor ou até mesmo fazendo birra. Surgem vocalizações e sorrisos demonstrando prazer.
  • As vocalizações variam em tom, volume e duração.
  • Os bebês aos 3 meses já procuram de onde vêm os sons e prestam atenção a eles, respondendo quando alguém fala com ele através do olhar, sorriso e vocalizações e manifesta suas vontades apontando para os objetos e procura o olhar do cuidador, também já identificam a voz dos pais.
  • Antes dos 6 meses o bebê balbucia repetindo sílabas iguais (papapa), após essa idade o balbucio ocorre com a junção de sílabas diferentes (padama).
  • Em torno dos 6 meses de idade, é possível observar que a criança presta mais atenção às pessoas do que a objetos ou brinquedos.
  • Ao brincar, a criança explora o objeto agarrando ele com a mão, o sacudindo, jogando e batendo.
7 a 12 meses
  • O bebê participa mais ativamente da comunicação por meio de movimentos corporais, risos e expressões faciais.
  • Já é capaz de imitar certos sons realizados pelos adultos.
  • Aponta para objetos para expressar suas vontades.
  • A partir dos 9 meses os comportamentos comunicativos são intencionais. O bebê atende ordens como “da tchau”, “bate palma” e “joga beijo”, dirige-se ao outro e participa de diálogos emitindo sons semelhantes ao de uma conversa, porém, sem significado.
  • A criança, nessa faixa etária, começa a atender quando chamada pelo nome.
1 a 2 anos
  • Aproximadamente com um ano é esperado que surjam as primeiras palavras.
  • Por volta de 1 ano e 6 meses, espera-se que a criança comece a produzir frases com dois ou três elementos sem que esses tenham conectivos entre si (por exemplo: o(s), a(s), de, em, para, por, com e etc), como na frase “dá bola”.
  • Compreende ordens simples e reconhece figuras e/ou objetos quando nomeados, por exemplo, quando perguntamos “Cadê o cachorro” ela aponta corretamente para o animal.
  • Na brincadeira, ela usa os brinquedos de acordo com a função verdadeira dele, por exemplo, ao brincar com um carrinho, atribuirá a ele a função de carro, mas ainda não consegue criar histórias mais elaboradas que envolva o carrinho e nem vai usá-lo para desempenhar outra função, por exemplo, fingir que ele é uma nave espacial, ou um carro voador vindo do futuro. Além disso, ela gosta de explorar e descobrir novas coisas, como cheiros, texturas, sons e movimentos dos objetos.
2 anos e 1 mês a 3 anos
  • A criança com essa idade forma frases simples com 3 ou 4 palavras e usa corretamente os pronomes eu, você, ele, ela, esse e meu.
  • A criança produz frases negativas e interrogativas com “que” e “onde”.
  • No que diz respeito a brincar, a criança já tem imaginação para criar histórias e usar objetos conforme a sua imaginação, por exemplo, ao brincar finge que um sapato é um carro. Ela brinca também imitando os adultos, como nas brincadeiras de casinha, professor e médico.
  • Consegue narrar situações concretas com o auxílio de perguntas feitas por adultos e mantém conversas curtas.
3 anos e 1 mês a 4 anos
  • Nessa idade a criança produz frases com 6 palavras.
  • Faz perguntas com “quem” e “qual”.
  • Usa corretamente os tempos verbais presente, passado e futuro composto (vai brincar), podendo ainda haver erros que serão superados gradativamente.
  • Utiliza o artigo fazendo a concordância correta (o/os/a/as). Ex: A menina / as bonecas/ o biscoito/ os carrinhos.
  • Sua capacidade de compreensão é maior do que a de expressão, assim ela compreende quase tudo que o adulto fala e ao falar se faz entender.
  • Compreende duas ordens que não estão relacionadas entre si, por exemplo, “escove os dentes e bote o casaco”.
  • Conta histórias com início meio e fim de forma reduzida, podem incluir na narrativa fatos não verdadeiros.
  • Faz frases negativas corretamente.
  • Gosta de cantar e brincar com palavras e sons.
4 anos e 1 mês a 5 anos
  • A criança desta idade consegue formar frases com estruturas mais complexas que expressam condições e circunstâncias como: “se fizer sol eu vou brincar”, “eu vou brincar quando chegar em casa”
  • Seguem até 3 comandos diferentes, por exemplo, “escove o dente, calce o tênis e pegue a mochila”.
  • Em sua fala já estão presentes quase todos os sons da fala, porém, o /r/ fraco de “cara”, é adquirido em média com 4 anos e 2 meses, então é normal que as crianças cometam erros ao produzir palavras com esse som, por exemplo, ao falar “chora” podem produzir “chola” ou “choa”.
  • Até aos 5 anos as crianças adquirem palavras com encontros consonantais, por exemplo, “branco” e “plano”.
  • Fala corretamente, mas pode errar ainda alguns verbos irregulares pouco utilizados, como “ouço”, eu “ouvo” bem.
  • Narram histórias e recontam narrações de forma mais global, na ordem correta dos acontecimentos.
  • Gostam de brincar em grupo, de imitar personagens e brincar de faz-de-conta.
5 anos e 1 mês a 6 anos
  • As crianças, nesta idade, formam frases complexas e possuem todos os sons da língua, portanto não é esperado mais trocas de sons na sua fala.
  • A criança tem fala fluente e coerente, assim, as histórias contadas ficam mais elaboradas e detalhadas.
  • Nessa idade, é esperado que identifiquem as letras do próprio nome e conheçam os números. Ao se relacionar com adultos ou outras crianças, mantém diálogos mais extensos e conversa com mais de uma pessoa ao mesmo tempo.
6 a 9 anos
  • Adquirem a partir dos 6 anos estruturas de piadas e adivinhações, porém, ainda é difícil para elas entender o significado implícito das frases, como as metáforas.
  • Aos 6 anos o processo de aquisição se estabiliza, o aprendizado de novas palavras depende do ambiente em que ela está inserida. Dessa forma, a criança está pronta para ser alfabetizada.
  • A criança conversa respeitando a hora adequada de falar, consegue mudar de assunto, e se autocorrigir e reestruturar a fala para se fazer entender.
  • São capazes de produzir frases na voz passiva, por exemplo, “o carteiro foi mordido pelo cachorro”.
  • Usa a linguagem dependendo do contexto e com quem está falando.

Ordem de aquisição dos sons do português brasileiro

No desenvolvimento típico da linguagem é esperado que crianças cometam alguns erros, como omitir e trocar sons, que são superados aos poucos conforme a idade aumenta. Isso acontece porque os sons da fala são adquiridos de forma gradual até por volta dos 5 anos de idade, quando a criança já possui e usa corretamente todos os sons da língua.

No entanto, nem todas as trocas de sons são esperadas e mesmo as que são comuns de acontecerem não comprometem que a criança se comunique de forma a ser compreendida por todos à sua volta5.

Assim, em caso de dúvida ou suspeita sobre a aquisição dos sons ou da linguagem de forma geral é importante que um fonoaudiólogo seja procurado. Não existe idade mínima para a procura por esse profissional e quanto antes começar a intervenção melhor o prognóstico.

Abaixo, segue a ordem de aquisição dos sons no português brasileiros5 de forma simplificada e resumida.

 

Uma sugestão importante que possibilita a obtenção de informações sobre o desenvolvimento da criança, não somente da linguagem e marcos no desenvolvimento, mas sobre aspectos gerais do desenvolvimento, aleitamento materno, cuidados com a criança, aspectos relacionados à nutrição, saúde bucal e de forma geral, é a utilização da caderneta da criança, elaborada pelo Ministério da Saúde em 2020. Esta caderneta é um documento importante que também devem ficar registradas as informações sobre atendimento às crianças nos serviços de saúde, educação para o acompanhamento de crianças do nascimento aos 9 anos de idade.

Acesse as Cadernetas da Criança:

🡥 Para Meninos: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menino_passaporte_cidadania_3ed.pdf

🡥 Para Meninas: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_crianca_menina_passaporte_cidadania_3ed.pdf

REFERÊNCIAS

1 – Panes, ACS; Corrêa, CC; Maximino, LP. Checklist para identificação de crianças de risco para alterações de linguagem oral: nova proposta. Distúrb Comun, São Paulo 2018; 30(2): 278-287,

2 – Mousinho R, Schimid, E; Mesquita, F; Santos, Gladis. Brincando com a linguagem: da língua oral à língua escrita desenvolvimento dos 03 aos 06 anos para pais e professores. Instituto ABC; 2018. p. 9-13.

3 – Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA). Brasília: Editora MS; 2014.

4 – Zorzi JL, Hage SRV. PROC – Protocolo de observação comportamental: avaliação de linguagem e aspectos cognitivos infantis. 1a ed. São José dos Campos (SP): Pulso Editorial, 2004.

5 – Ceron M et al.Ocorrência do desvio fonológico e de processos fonológicos em aquisição fonológica típica e atípica. CoDAS 2017;29(3):e20150306

6 – Lamprecht RR. et al. Aquisição fonológica do Português: perfil de desenvolvimento e subsídio para terapia. Porto Alegre: ARTMED, 2004.

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