Ela jura que foi uma daquelas crianças que se enfiava debaixo da mesa na hora do ‘Parabéns pra você’. Os amigos têm dúvidas. “Sou um poço de timidez e tornar-me extrovertida foi uma superação”, assegura. Seus leitores têm certeza que ela é a mais empoderada das mulheres. A cartunista Pryscila Vieira, curitibana, 37 anos, é a mãe da Amely, a primeira boneca inflável feminista do mundo.
Formada em Desenho Industrial pela PUC, Pryscila sempre gostou de desenhar. O rompimento com um namorado machista, em 2005, a levou para a prancheta, onde afogou as mágoas no nanquim. Nascia a impagável personagem que deu voz à recém-solteira Pryscila e a toda uma geração de brasileiras. “Os desabafos da Amely são universais”, explica para a fama da boneca que rapidamente foi parar nas páginas da Folha de S. Paulo.
“Criei a Amely despretensiosamente, publicando no meu blog pessoal, para dar vazão aos meus sentimentos”, conta. Apesar da matriz ser autobiográfica, a boneca inflável carrega um discurso comum a mulheres contemporâneas do Ocidente. O movimento a favor da igualdade de gêneros levou criatura e criadora a exposições e eventos que tratavam do direito da mulher em diversas cidades do planeta. O jornal Metro internacional a contratou e sua carreira decolou.
A personalidade da desenhista colabora. Com jeito de menina e uma perspicácia ímpar, ela reúne com a maior leveza todos os predicados da feminista moderna. “É da minha natureza sintetizar as tragédias em forma de comédia”, comenta.
Ano passado, a convite da Editora Contenido, topou fazer uma edição comemorativa dos 10 anos da Amely – à venda no amely.com O livro capa dura comentado vem numa caixa, com almofada e pop up. Para alegria da autora, tem prefácio de seu ídolo Ziraldo, ilustre fã da protagonista da obra.
A caixa de e-mails de Pryscila vive abarrotada de mensagens com questões existenciais, sexuais, amorosas, sentimentais, pedidos de dicas, orientações e soluções. A matéria-prima para seu novo projeto – ueba! – uma coluna intitulada “Conselhos humorosos de Amely” e roteiro para uma peça de teatro.
Você ainda está na Amely?
A matriz autobiográfica é inegável. Todo autor leva um pouco do universo particular para o consciente de suas personagens. Mas, na maior parte do tempo, Amely assume sua personalidade e eu só empresto o nanquim e a mão direita.
Como os homens lidam com a personagem?
Muitos perguntam quando vou lançar a boneca inflável da Amely… claro que nunca vou fazer isso. Sei que é brincadeira e, na verdade acredito que entendem sua bandeira feminista pela ‘desobjetificação’ da mulher.
Como você vê o cartum nos dias atuais?
Precisamos de leveza para encarar o mundo pesado como está. Acho que só o humor salva.