Cultura
Gisele Mendes, José França e Leandra Oliveira - Arte por Michelle MKO

ALUZ de Santa Luzia

Entre saraus, intervenções artísticas e participações em bienais e feiras literárias, a ALUZ segue levando seu legado de amor pela literatura e pelas artes em todas as suas acepções.  

Por Michelle MKO

Santa Luzia, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte tem 329 anos de boas histórias para contar. Cortada pelo imponente Rio das Velhas, a região teve seu interesse desperto por bandeirantes de Borba Gato que perceberam o potencial de garimpo de aluvião. Sim, havia muito ouro por estas bandas e o garimpo logo fez brilhar os olhos de muitos exploradores. Apesar do grande apelo da mineralogia, o comércio e a religiosidade foram se fortalecendo e deixando marcas que ainda perduram. De rica cultura, a cidade foi, ao longo dos anos, se expandindo e hoje tem, no distrito de São Benedito, seu maior contingente populacional. O último censo do IBGE de 2018 levantou 258.147 habitantes. Com um legado tão antigo e rico culturalmente, Santa Luzia, apesar de apreciar a literatura e as artes de um modo geral, não tinha em uma organização ou instituição que cuidasse desta área.

França inspira

José França – Arte por Michelle MKO

Foi aí que a ideia de criar uma Academia de Letras e Artes começou a ser fomentada pelo seu atual presidente, o professor de literatura José Rodrigues de França e de alguns de seus alunos, dentre eles, Leandra Araújo de Oliveira Alves. Leandra compartilhava seus poemas com o professor juntamente com um grupo de alunos que eram amantes da escrita e da literatura, além de música, dança e teatro. Aliás, o França inspirou muitos de seus alunos, inclusive a mim mesma, que mostrava minhas poesias e textos para ele e muitas vezes o deixava envergonhado com meus profanos escritos entre 1995 e 1997. O desejo de criar a Academia era intenso, mas a falta de incentivo e de investimentos por parte do poder público fez com que este sonho fosse se concretizar somente depois de alguns anos.

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A primeira coletânea da ALUZ – Arte por Michelle MKO

Em abril de 2016 houve o lançamento da Pedra Fundamental, mas apenas em 16 de julho deste mesmo ano é que ocorreu a Assembleia de Fundação da ALUZ. Em outubro já fizeram um evento recheado de arte e magia na cidade e em dezembro lançaram a primeira coletânea literária. A obra, intitulada O Sagrado e o Profano, reuniu poesias e prosas reflexivas de 19 membros da ALUZ sobre a temática. Olhares singulares e ao mesmo tempo plurais discutiram filosófica e poeticamente sobre as pulsões e os sentires da alma e da psique. O lançamento foi em grande estilo, mas, como a ALUZ não tinha e nem tem ainda sede própria, aconteceu em dois momentos, no primeiro, na Escola SESI/SENAI de Santa Luzia e, depois, na Biblioteca Pública Luiz de Bessa em Belo Horizonte. Depois vieram outras coletâneas, como em 2019 a Meio Ambiente aos Olhos d’Aluz, no qual é possível refletir sobre a relação da sociedade contemporânea com o meio ambiente e os impactos da destruição nas nossas vidas. O senso de responsabilização é proposto com maestria em verso e prosa. Em 2020, veio a coletânea Vinte e um Olhares Sobre a Humanidade, mais uma obra reflexiva e filosófica. Seu prefácio, escrito pela acadêmica Beth Bretas diz: “Como fios que se entrelaçam, a coletânea vai tecendo reflexões sobre os caminhos do amor e desamor que formam a teia que protocola as demandas humanitárias”. Lembram da Leandra que idealizou a ALUZ junto com o professor José França? Ela escreveu a seguinte orelha: “Falar de humanidade é deixar o simples ser visto. Como explicar o óbvio, o essencial? As coisas entre o céu e a terra? Ser humano é descobrir o que temos de mais sagrado”. Entre saraus, intervenções artísticas e participações em bienais e feiras literárias, a ALUZ segue levando seu legado de amor pela literatura e pelas artes em todas as suas acepções.

ALUZ A(l)tiva

Missão e valores da ALUZ – Arte por Michelle MKO

Outro ponto alto da ALUZ é o apoio e o incentivo a ações sociais que auxiliam grupos vulneráveis ou minoritários. Dentre tais eventos, há bingos, corridas e arrecadações de suprimentos para vítimas de chuvas ou idosos de abrigos, bem como cursos voltados para a preparação para o mercado de trabalho com preços acessíveis e aulas temáticas para exames como o Enem. Em 2020 o mundo todo se viu atônito com uma pandemia que afetou drasticamente a vida de muitos brasileiros. A ALUZ, munida de amorosidade e empatia, passou a contribuir com dicas de cuidados, momentos de poesia e doações de alimentos aos mais necessitados. Na Páscoa, contribuíram com chocolates para crianças carentes levado um pouco de doçura para os dias amargos da pandemia. O maratonista Luiz Trequim correu 18 horas na esteira em um desafio de 300km para arrecadar recursos e fraldas para o Lar dos Velhinhos em Santa Luzia e a ALUZ foi peça fundamental dessa engrenagem de solidariedade. Em agosto deste ano, em comemoração aos cinco anos da ALUZ, o grupo promoveu o Bingo Beneficente em prol do Lar dos Velhinhos de Santa Luzia. O evento foi on-line, inclusive nós do Portal Gama fizemos a divulgação. Dentre os brindes havia uma colcha confeccionada para o evento e a ação arrecadou R$1320,00 para a instituição geriátrica. Atualmente a ALUZ está apoiando a campanha de arrecadação de leite promovida pelo Movimento de Mães de Autistas de Santa Luzia. Como um dos valores da Academia é a Inclusão, ações como essas são apoiadas, bem como a participação de pessoas especiais em seus trabalhos artísticos e literários. Com o mote “Eles não incomodam, mas nós incomodaremos”, o Movimento dá sua resposta ao Ministro do Educação e aqueles que pensam da mesma forma. É por estes motivos todos que a ALUZ se faz necessária e imprescindível à memória literária e cultural da cidade de Santa Luzia. Com valores e atuações que, tais como as artes, inspiram para além das fronteiras geográficas, a ALUZ vai levando luz às sombras da humanidade.

 

Leandra, uma das idealizadoras da ALUZ – Arte por Michelle MKO
Regina da Silva, acadêmica da ALUZ – Arte por Michelle MKO

 

Foto

Michelle MKO

44 anos, mulher, professora, artista, chargista, projeto de escritora, pisciana , portanto sonhadora e chorona, lésbica e mãe, adoradora de gatos e detestadora de injustiças sociais.

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