Os anos 2000 são os novos anos 80?

Vamos refletir sobre o poder que a música tem de nos prender ao passado

Por que velho só ouve música velha?

Hoje eu sei a resposta. Diferente do que os velhos normalmente respondem (e eu me incluo nesse público), as músicas dos anos 80 não são melhores que as de hoje. As músicas dos anos 70 também não. Nem as dos 60.

A verdade é a seguinte: a melhor música é a que nos transporta para bons momentos.

A música nos permite viajar no tempo fazendo o resgate dos sentimentos. Ao ouvirmos uma música dos anos 80, somos capazes de sentir um flash dos mesmos sentimentos que sentíamos na época em que conhecemos a música.

Essa bateu né?

Quem viveu momentos inesquecíveis nos anos 80 vai dizer que as músicas dos anos 80 eram melhores. São as músicas dos anos 80 que fazem essas pessoas resgatarem bons sentimentos.

Arrisco dizer que o contrário também é verdadeiro. A música pode resgatar sentimentos ruins também.

Quem teve uma boa infância nos anos 90 vai adorar as músicas dos anos 90. Quem não teve uma boa infância nos anos 90, dificilmente vai gostar das músicas dessa década.

Todos os nossos 5 sentidos tem o poder de mexer com a nossa memória afetiva. Cheiro de café sendo torrado me faz lembrar da casa da minha avó. Se eu fecho os olhos me transporto pra lá.

Acontece que a música oferece esse serviço de teletransporte com muita facilidade.

É só digitar: “música dos anos 80”. Dar o play. Pronto, já está lá.

Quer lembrar dá época da faculdade? Escolha uma música que tocava na época e pronto, está lá. A experiência com os outros sentidos é um pouco mais difícil de surgir assim, “on demand”.

Estética anos 80
Se fosse pra escolher um item da estética dessa foto pra usar hoje ficaria com esse cabelo.

As músicas dos anos 2000 já são tão velhas quanto as dos anos 80

Todo esse arrodeio que dei, você vai usar para compreender essa afirmação: a música distorce o tempo.

Por causa da capacidade que a música tem de nos transportar para diferente momentos da nossa história, o nosso cérebro tem um pouco de dificuldade de compreender a passagem do tempo quando se trata de música. Quer ver só?

Você já parou para pensar que as músicas dos anos 2000 já são tão velhas quanto as músicas dos anos 80 quando a gente estava nos anos 2000?

Isso quer dizer que os primeiros lançamentos da Pitty, como “Na Sua Estante”, são tão velhos quanto “Pais E Filhos” de Renato Russo quando estávamos nos anos 2000. A Pitty de hoje é o Renato Russo quando a gente vivia os anos 2000! Deu pra entender?

Mas parece que nos anos 2000, Renato Russo era um artista antigo, preto e branco, mas Pitty é contemporânea, colorida.

A gente pode dizer que Britney Spears agora é o equivalente a Cyndi Lauper quando a gente estava nos anos 2000 ou que o Stevie Wonder é tipo o John Mayer agora. Avril Lavigne é tipo Roxette quando a gente estava em 2000.

Beyonce está para os anos 2000 assim como Tina Turner está para os anos 80. A Beyonce é a nossa Tina Turner agora.

Mas pra quem viveu intensamente os anos 2000, essa década nunca vai passar. Estamos presos aos anos 2000, assim como quem viveu intensamente os anos 80 estará preso lá pra sempre.

Será que isso nos atrapalha de alguma forma? Será que isso nos tira a capacidade de admirar o presente? Porque pra muita gente a música de “hoje” não presta. Mas garanto que não é nada contra a música de hoje. Pra essas pessoas, a música do presente não presta porque estão presas ao passado.

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Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Toca Raul, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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