Onde estão as mulheres no trabalho escravo contemporâneo?

A subnotificação do trabalho escravo feminino aprofunda ainda mais as desigualdades de gênero.

Segundo a ONU, mulheres estão vulneráveis ao trabalho escravo contemporâneo. Você sabe por quê as mulheres representam 6% do total de pessoas resgatadas da escravidão contemporânea no Brasil? O estudo realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirma que mulheres e crianças são as mais vulneráveis ao trabalho escravo. “1 em cada 130 mulheres e meninas está sujeita a formas contemporâneas de escravidão, como casamento infantil e forçado, servidão doméstica, trabalho forçado e servidão por dívida.”

Veja a publicação completa aqui

Contudo, entre 2003 e 2022, pelo menos 2.325 mulheres foram resgatadas de trabalho análogo à escravidão (somente 6% do total de pessoas resgatadas), de acordo com dados levantados pelo jornalista Leonardo Sakamoto com base nas informações divulgadas pela Divisão de Fiscalização para a Erradicação do Trabalho Escravo do Ministério do Trabalho e Previdência. O que acontece? 

Veja também o estudo da Repórter Brasil: “Trabalho escravo e gênero: quem são as trabalhadoras escravizadas no Brasil?”

Ainda de acordo com os especialistas responsáveis pelo levantamento divulgado pela ONU, a exploração é causada por formas cruzadas de discriminação, como raça, status social, idade, deficiência, orientação sexual, condição migratória, entre outros. 

“Altos níveis de exploração também prevalecem nas cadeias de abastecimento globais, que muitas vezes dependem e reforçam a exploração do trabalho e aprofundam a desigualdade de gênero”, afirma Tomoya Obokata, um dos relatores do levantamento. 

 

Dados sobre as mulheres resgatadas da escravidão contemporânea

No dia 8 de março deste ano, o jornalista Leonardo Sakamoto publicou um levantamento sobre as mulheres resgatadas do trabalho escravo contemporâneo no site de notícias Uol. Confira os principais dados:

     

      • 2.488 mulheres foram resgatadas de trabalho escravo de 2003 a 2022. Isso representa 6% das pessoas resgatadas do período.

       

        • 37% das trabalhadoras resgatadas têm origem na região Nordeste. Os estados com maior número são Maranhão e Minas Gerais (15%); Bahia (12%); Pará e São Paulo (10%).

         

          • 31% delas residiam na região Sudeste.

           

            • Mais da metade delas (55%) têm entre 30 e 59 anos. 40% têm entre 18 e 29 anos.

             

              • 64% delas se declaram negras (pretas e pardas), 22% brancas, 11% amarelas e 3% indígenas.

            Leia a reportagem completa aqui.

            As áreas com trabalho escravo feminino são ocupações que reproduzem a desigualdade de gênero já enraizadas na sociedade. Muitas vezes elas estão no trabalho doméstico ou sexual, que são atividades invisibilizadas. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, “quase quatro em cada cinco vítimas de exploração sexual comercial forçada são mulheres ou meninas”.

             

            Foto: © Simon Lister/UNICEF

            A divisão sexual do trabalho e a desvalorização do trabalho feito por mulheres gera uma naturalização do trabalho escravo feminino e a subnotificação nos dados oficiais.

            As estatísticas internacionais também consideram a exploração sexual e o casamento forçado como escravidão contemporânea. Atualmente, estima-se que 22 milhões de pessoas no mundo viviam em casamento forçado em 2021. 

            Apesar de ser um dos países com o maior número de casamentos de adolescentes do mundo, o Brasil não define o casamento forçado ou servil como crime.

            Leia a publicação “Dados da UNICEF apontam que o Brasil ocupa o 4 lugar em casamentos infantis do mundo”.

            A invisibilidade e desvalorização do trabalho feito por mulheres é estrutural no Brasil e no mundo. Essa condição traz a falsa ideia de que elas não são vitimadas pelo trabalho escravo contemporâneo. A subnotificação do trabalho escravo feminino aprofunda ainda mais as desigualdades de gênero.

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