Donald: O herdeiro do tio Patinhas
Bem, como estávamos falando...
Donald Fauntleroy Duck estreou nas HQs com a quadrinização do curtametragem The Wise Little Hen, em 1934.
Mas é sabido que em 1931 — três anos antes de seu nascimento oficial, portanto — o nome Donald Duck já havia batizado um personagem do livrinho The Adventures of Mickey Mouse, publicado por David McKay.
E em 1932, saiu em Mickey Mouse Annual #3 uma adaptação desse livrinho, agora em verso e ilustrada à moda das (então) futuras Good Housekeeping. E lá estava Donald Duck. Bem diferente daquele que surgiria no curta-metragem, dois anos depois.
Acima e abaixo, imagens do livro Mickey And The Gang, da Gemstone
Todo mundo sabe um pouco da vida do Donald: é sobrinho do Tio Patinhas, neto da Vovó Donalda (que lhe deu a roupinha de marinheiro), namora a Margarida e cria os três sobrinhos gêmeos, Huguinho, Zezinho e Luisinho, filhos de sua irmã (gêmea, também) Dumbela.
Não tem inimigos declarados, mas há duas pedras incômodas em seu sapato — opa! ele não usa sapatos. Seja como for, as pragas são seu primo Gastão, sempre usando sua afamada sorte para passá-lo para trás, inclusive para tentar roubar-lhe a namorada, e Silva, seu vizinho, um verdadeiro chato de galochas que arruma confusão por qualquer coisa — e que curiosamente se parece com um monte de gente que conhecemos.
Aliás, por falar no Silva, os quadrinistas brasileiros não pouparam o pobre pato. Na história O Álbum de Família, publicada em Almanaque Disney # 106 (1980), é mostrado que eles se conheceram ainda no berçário! — numa HQ escrita por Gérson L. B. Teixeira e desenhada por Irineu Soares Rodrigues e Verci de Mello.
Donald nasceu, segundo HQs, cartoons, e pelo menos uma enciclopédia oficial, no dia 13 de março. Uma sexta-feira. A data é tão difundida em sua vida que até seu adorável carrinho a registra, em sua própria placa. Está lá: 313 (ou 3-13; 13 de março, para os americanos). E Donald mora na Rua das Flores nº 13. Seria Donald tão azarado por causa de tantos 13 em sua vida?
Com tantos autores e com tantas histórias já contadas, era mesmo de se esperar controvérsias e contradições também quanto à data de nascimento do nosso querido pato. Há quadrinhos que mostram que ele nasceu no mesmo dia da estreia de seu primeiro cartoon — em 9 de julho, portanto —, como na HQ publicada no gibi Pato Donald #2372 (jul/09).
Já Don Rosa, que desenha os patos numa Patópolis das décadas de 1950 e 60, respeitando a cronologia deixada por Carl Barks, fez umas contas e determinou que Donald nascera em 1920. Bem, acontece que o dia 13 de março não caiu numa sexta-feira naquele ano!
Uma versão clássica para o nascimento de Donald, lançada por ocasião de seu cinquentenário de criação, foi contada por Marco Rota: numa bela noite, no meio da estrada, a Vovó Donalda e o Tio Patinhas encontram um patinho ainda amarelo que acabara de sair do ovo. A paixão da vovó por ele é imediata, e então leva-o para criar. A trama não demonstra a relação de parentesco que haveria entre Donalda e Patinhas. Para quem não sabe, em algumas HQs europeias mais antigas, Patinhas é irmão de Donalda (ver Pato Donald Especial, 1984. Acima, pintura de Carl Barks.)
Classicamente, digamos, os quadrinhos mostram que Donald foi, de fato, criado pela Vovó Donalda. É quase uma unanimidade. Até as HQs produzidas atualmente na Itália, mostrando um Donald garotinho (Paperino Paperoto), são ambientadas no sítio. Mas existem HQs brasileiras mostrando um Donald ainda menino vivendo em Patópolis. E falando nisso... o que teria acontecido com a sua mãe, Hortência? Aguardem esse post. Teremos surpresas...
No quadrinho acima, vemos o pato adolescente na década de 1930 dando trabalho aos Metralhas na fantástica A História de Patópolis, capítulo O Poderoso Metralhão, escrito por Ivan Saidenberg e desenhado por Irineu Soares Rodrigues — em Mickey #361 (1982).
Já Don Rosa nunca mostrou detalhes de sua infância, se ele foi criado pela mãe ou avó, por exemplo. Mas deixou um quadrinho histórico e inesquecível, presente na Saga: o famoso chute no traseiro do Tio Patinhas.
Ficou chocado com a falta de respeito do pirralho? Não precisa: teve revide algumas páginas adiante (vide capítulos 11 e 12 da Saga do Tio Patinhas, por Don Rosa.)
Das mãos de Alfred Tagliaferro, Donald ganhou seus sobrinhos, Huguinho, Zezinho e Luisinho, em 1937. Começava assim uma nova era, com desenhos animados e quadrinhos com temas familiares. Antes, o pato sempre dividia suas histórias com a turma do Mickey, sendo comum contracenar com Bafo-de-Onça, hoje algo que pareceria muito estranho.
A velha piada: por que o pato não usa calças, mas quando sai do banho se enrola numa toalha?
Foi Barks quem mostrou o Donald aventureiro, em HQs memoráveis como De Volta a Quadradópolis, O Xerife do Vale Balaço, O Felizardo do Polo Norte, dentre tantas outras. Depois, o Homem dos Patos preferiu unir a família, incluindo Donald nas aventuras do tio muquirana. Aliás, somente o gosto pela aventura é que pode explicar o porquê do Donald aceitar, numa boa, míseros 30 centavos por hora para se embrenhar em lugares inóspitos e perigosos, em fantásticas buscas por tesouros!
Na verdade, cada país que o retrata carrega-lhe um pouco com tintas locais. Podem ser diferenças mais ou menos sutis. Mas sua marca registrada está sempre lá: o pavio curto. Para sobreviver, vários empregos e várias profissões: repórter do jornal A Patada, empregado de fábrica de margarina, carteiro, cozinheiro, vidraceiro, ator, pintor, vendedor... e polidor das moedas de seu tio, quando nada mais lhe resta!
E foi pelas mãos dos italianos, que tanto amam quadrinhos Disney, que Donald encontrou sua eventual redenção. Foi na Itália que nasceu seu alterego, o Superpato. Cultuado tanto lá como aqui, o super-herói surgirá num post só dele em breve.
No Brasil, é difícil precisar quando Donald foi publicado pela primeira vez. Mas no site Esquiloscans, no artigo Arqueopatologia, podemos encontrar muitas informações sobre os primórdios dos quadrinhos Disney por aqui, muito antes da Abril ou das Seleções Coloridas da Ebal.
No dia 12 de julho, o gibi Pato Donald completará 59 anos de circulação ininterrupta no Brasil. Só uma ou duas revistas brasileiras batem esse recorde. Nenhum gibi brasileiro nunca chegou perto disso. E esperamos que, a despeito das dificuldades encontradas pelo mercado de quadrinhos — os tempos são definitivamente outros, todos sabemos —, que seu gibi continue a nos divertir. Que venham os 60 anos e muitos outros mais.
Essa é A Segunda parte Do Pato Donald Que Retirei Do Site planeta Gibi Parte que Cuida mais dos Quadrinhos
Depois retirarei De outros Personagens