A 4a. Revolução Industrial: do início da era industrial à era da informação (Parte II)

A 4a. Revolução Industrial: do início da era industrial à era da informação (Parte II)

Disrupção Industrial

Após termos contato com as principais características da 4a. Revolução Industrial e seus impactos, tanto na sociedade, como no mundo do trabalho, achei importante realizar um breve percurso histórico que nos ajude a entender algumas questões.

Primeiro: O que é uma revolução? Segundo: que caminhos percorremos para chegar até aqui?

Há 10.000 anos, a humanidade era nômade e só se alimentava do que encontrasse pela frente ou conseguisse caçar. Assim, a primeira grande revolução foi a agrícola: saber plantar e cultivar o próprio alimento, aprender a criar animais e se alimentar de sua carne.

Uma revolução geralmente é movida por uma invenção, uma descoberta, uma nova tecnologia, mas esse é apenas seu impulsionador primário. A revolução por si, se caracteriza por seus impactos no conjunto das variáveis que definem os modos de vida humano em determinado contexto. Neste caso específico, a descoberta da agricultura possibilitou os primeiros assentamentos humanos, criou a noção de propriedade, a possibilidade de auto sustento e de troca de excedentes e, por fim, a construção de pequenas vilas e comunidades. Tudo isso muito antes da era industrial.

Percebe-se que as alterações, tanto nos modos de vida como na subjetividade da humanidade, foi brutal. Nascia um outro homem.

A 1a. Revolução Industrial: máquina a vapor e a indústria textil na Inglaterra.

Muito tempo depois da revolução agrícola, teremos uma sequência de revoluções, todas elas industriais, ou seja, partem de técnicas e tecnologias associadas ao mundo do trabalho e ao contexto de produção.

O famoso conto de fadas da Bela Adormecida, narra a história de uma princesa que, amaldiçoada, espeta o dedo em uma roca de fiar e dorme por exatos cem anos, assim como todo o reino ao redor. É quando um corajoso príncipe desbrava a floresta em que se converteu o reino e encontra a princesa adormecida, despertada por ele, com um beijo de amor.

A versão mais conhecida deste conto é a dos irmãos Grimm, de 1812, mas esta foi extraída de outra, ainda mais antiga, publicada em 1697 por Charles Perrault que, por sua vez, inspirou-se numa versão de 1634, escrita por Giambattista Basile.

Se nos contos de fada a protagonista da história era a princesa e sua história de amor, para nós aqui, a protagonista é o objeto de sua maldição: a roca.

A roca ou roda de fiar foi a protagonista nos meios de produção de tecido até meados do século 18. Esteve presente na China e no mundo Islâmico desde o século 11, mas, muito antes disso, era utilizada também pelos egípcios em 1000 a.C.

A produção de tecidos, ao longo de todos esses séculos, era artesanal. Movida pela força das mãos ou de pedais era, do início ao fim, realizada por um único tecelão e demorava o tempo que fosse preciso para ser finalizada. A vida em aldeias rurais era difícil e o alimento escasso. A expectativa de vida girava em torno dos 40 anos.

Eis que, em 1766, na Inglaterra, James Hargreaves, um tecelão de Lancashire, observa um pequeno acidente com uma roda caída ao chão e tem um insight. Muitos testes depois, ele projeta uma máquina de tecelagem movida a pedal e que multiplicava por oito a capacidade de produção, ou seja, um único tecelão conseguia tecer oito fios ao mesmo tempo, diminuindo consideravelmente o tempo de produção.

Nascia aí o embrião da 1a. Revolução Industrial. Sob uma perspectiva tecnológica, a junção da máquina de tear de Hargreaves, a invenção da máquina a vapor e o aprimoramento dos teares mecânicos deram início ao processo que marcou a substituição da manufatura pela maquinofatura.

Desta forma, a partir da segunda metade do século 18, além da aceleração dos meios de produção, mudanças drásticas e estruturais marcam, outra vez, nossos modos de vida, sendo o êxodo rural e o aumento do peso da atividade industrial na composição da riqueza, inicialmente na Inglaterra, como sinais evidentes destas mudanças.

A Inglaterra não apenas é o berço da Revolução Industrial como passa a exportar essa nova forma de produção para outros países da Europa e do Continente Americano, principalmente os Estados Unidos, sua recém liberta colônia – a independência acontece em 1776.


A 2a. Revolução Industrial: eletricidade e produção em massa nos Estados Unidos.

Se durante a primeira fase da Revolução Industrial tínhamos a Inglaterra, a indústria têxtil, o carvão (como combustível) e a máquina a vapor como estrelas, na segunda teremos outros países europeus, os Estados Unidos e o Japão como pontos centrais. As indústrias, desta vez, são as metalúrgica, automobilística e petroquímica; o petróleo, o combustível e a eletricidade, impulsionando a força motriz.

As novas tecnologias, aliadas à criação das linhas de montagem fordistas, das quais o filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin é um ícone, definem um novo salto de produtividade, amplamente conhecido como produção em massa.

As linhas de montagem idealizadas por Henry Ford - inspirado pelo conceito da administração científica desenvolvida por Frederick Winslow Taylor - setorizavam a produção, fazendo uso de engrenagens e esteiras transportadoras em que a lógica do mecanismo é uma produção que “se move” ao passo em que o operário se fixa em seu setor. Sistema modular de produção, que embora aperfeiçoado, é ainda amplamente utilizado nos dias atuais, onde a padronização e a especialização são o nome do jogo.

É também, neste momento, que tem início a ideia de administração científica - o avô do management que conhecemos hoje - a partir da experiência americana, tendo como "pai" o engenheiro Frederick Winslow Taylor.

Instaura-se aí a era que conhecemos como Moderna, com todas as suas promessas de evolução e progresso: a vida nas cidades, as grandes indústrias, a mão de obra assalariada, a criação das famílias nucleares, a universalização do acesso à escola e à medicina e uma diminuição considerável no tempo de produção e a consequente queda nos preços dos produtos, possibilitando seu acesso a um número maior de pessoas. Instala-se também a era do consumo e do consumismo.

Com a automação do trabalho, o ser humano, supostamente, ganhou mais tempo. Tempo para se dedicar às atividades não essenciais – já que as essenciais estavam a cargo das máquinas – tais como as ideias, as invenções, o aprendizado, a política, as artes, a criatividade, a efervescência cultural.


A 3a. Revolução Industrial: desenvolvimento e expansão das tecnologias de informação.

Se as 1a. e a 2a. Revoluções Industriais marcaram a "automação" da indústria por meio da amplificação do "poder dos músculos humanos", é a partir da década de 1940, que temos o início uma nova Revolução que incidiu, desta vez, sobre o "poder do cérebro humano". Seria o começo da Era da Informação ou Revolução Digital, também denominada, por muitos, como a 3a. Revolução Industrial. Nela, a computação e as comunicações são as forças propulsoras.

Marcada pela transição da tecnologia analógica para a eletrônica digital, essa nova Revolução teve como um de seus primórdios a invenção do transistor (precursor dos circuitos integrados e dispositivo fundamental para o desenvolvimento de praticamente todos os eletrônicos modernos), culminando com o desenvolvimento do computador pessoal, em fins dos anos 1970.

Mas, assim como nas duas primeiras revoluções foi necessária a reunião de diversas tecnologias e outras condições conjunturais, durante determinado período, para que pudéssemos sentir seus impactos mais imediatos: mainframes passaram a executar tarefas contábeis e estatísticas em empresas e órgãos de governo, PCs substituíram alguns trabalhos de secretariado.

Embora tenham trazido algum ganho de produtividade, não chegaram causar mudanças estruturais. Isso significa dizer que a invenção da computação digital não foi suficiente para alcançar, por si só, o status de uma revolução.

É somente quando estes computadores são combinados em redes e, já no fim dos anos 1990, quando são conectados à rede de todas as redes, a internet, que começamos a experimentar a real e irreversível transformação em nossa cultura.

No próximo artigo entraremos na famigerada 4a. Revolução Industrial, onde abordaremos seu escopo, características e efeitos. Até lá...

Cassio Augusto Gomes Lopes

Supervisor de Comércio Exterior na LG Electronics

2y

Sérgio parabens pelos textos e iniciativas. Muito bacana. Grabde Abraço

Muito interessante essa prévia. Aguardando o próximo episódio. Engraçado que a conectividade está na terceira revolução e não na quarta e confunde aos que não conhecem.

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