Gestão de Consequências: ter ou não ter?

Gestão de Consequências: ter ou não ter?

Gestão de Consequências, chamado muito frequentemente também de regras de ouro ou tantos outros nomes que são dados aos programas que visam uma atuação punitiva quando um procedimento, regra ou protocolo de segurança é quebrado. Sim, eu disse punitiva, o que pode ser encarado até como uma forma pejorativa neste artigo, mas essa não é a intenção.

Já me deparei em minha vida profissional com empresas nas quais havia gestão de consequências (não vou aqui detalhar o nome específico que era dado ao programa em si, para não personalizar a citação) e quando uma das regras era quebrada, o fato era avaliado por um comitê que iria definir se caberia ou não a gestão.

Em outras, quando havia a quebra da regra, era aplicada a gestão, sem avaliação por comitê nem levando em consideração as circunstâncias em que foi cometida a quebra, não importando a posição hierárquica de quem a cometeu. Apenas era levado em consideração, como o famoso comentarista diz: “a regra é clara”. Aplique-se a gestão.

Em outras, sempre que identificada uma quebra de regra, era avaliado se houve erro ou violação antes da aplicação da gestão. Mas o que tem a ver erro e/ou violação com o fato de se ter quebrado uma regra de segurança?

Segundo o Dicionário Aurélio online, entre os significados de erro pode-se citar:

“Ação ou consequência de errar, de se enganar ou de se equivocar. Falta de acerto; engano, equívoco: erro de cálculo. Ausência de competência, de habilidade, de experiência; falta. Qualidade do que apresenta ausência de exatidão; imperícia.”

Ainda segundo o mesmo dicionário, como violação, tem-se entre os significados:

“Desrespeito direcionado a algo santo ou sagrado; profanação. Transgressão completa ou parcial de uma regra, norma ou lei. Qualquer ação que fira a liberdade alheia. Forçar a entrada em lugar fechado, particular, de acesso restrito; invasão. Ação de abrir algo sem ter a permissão do proprietário: violação de correspondência.”

Ora, o sentido etimológico da palavra violação, tem uma conotação mais intencional de cometer o desvio do que a da palavra erro. Como erro pode-se ter a ideia de que foi um ato ocorrido por uma ausência de conhecimento sobre o fato em questão.

Mas como identificar se o desvio foi um erro ou uma violação? Aí entra o papel de um comitê avaliador por exemplo, verificando se foi realizado treinamento, se foi eficaz, se esse desvio é exclusivo desse colaborador ou se existe registro anterior de outros, se a liderança atua pelo exemplo, se no DDS já foi tratado situações como o referido desvio, etc, etc.

Uma outra questão que pode ser levantada é quão educativo é um sistema de gestão de consequências ou se o mesmo é apenas punitivo. Ele contribui para que as pessoas atendam as normas e procedimentos porque enxergam valor nos mesmos ou pelo medo de sofrerem consequências?

Se temos um cenário onde existem muitas situações de gestão de consequências, isso é sinal que algo pode estar errado em nossa gestão de segurança. Um desvio ocorrido é um acidente que não aconteceu, por sorte, porque foi identificado a tempo, ou outro motivo qualquer, mas que de fato poderia ter se transformado em um acidente. Se temos muitos desvios, provavelmente em breve poderemos ter um acidente.

Não estou me colocando contra um programa de gestão de consequências, mas em meu entendimento, para que o mesmo seja robusto e agregue valor ao sistema de gestão de segurança, deve-se ter maturidade de segurança no ambiente de trabalho, garantindo minimamente que:

- Os riscos presentes nas atividades estejam identificados;

- Todos conheçam os riscos a que estão expostos e as medidas de prevenção aos mesmos;

- Existam procedimentos claros e os mesmos estejam disponíveis a todos;

- Os treinamentos obrigatórios estejam em dia;

- Seja avaliada a eficácia dos treinamentos;

- Exista uma sistemática de identificação, registro, análise e correção de desvios;

- A liderança atue pelo exemplo.

Talvez a pergunta correta não seja ter ou não ter um programa de Gestão de Consequências, mas sim qual o momento adequado para tê-lo.

O que você acha?

Até mais!


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