O que ninguém te contou sobre Romero Britto

“Romero Britto na minha opinião, pinta Hello Kitty colorida sem criatividade". Foi assim que fiquei sabendo da existência de um artista brasileiro que pintava temas coloridos e que de forma padronizada, expressava seu estilo. Isso foi há aproximadamente 10 anos. 

Algum pouco tempo depois, iniciei a graduação em fotografia, ouvi e li opiniões dos futuros artistas pensadores e as opiniões não mudavam. Os semestres passavam, consegui meu espaço no corporativo. Acumulei um pouco de conhecimentos sobre arte e mercado. Então, passei acreditar que Britto sabia fazer mais que a tal Hello Kitty colorida, mas esse era o mercado dele. 

Tinha repulsa das obras, apesar de nunca ter odiado. No inconsciente coletivo dos artistas, Britto é sinônimo de mal gosto. Falar que gosta de Warhol é bonito. E falar que gosta de Britto? 

O que me fez repensar a obra do Romero Britto?

Recentemente, viajei para Porto de Galinhas em Pernambuco. Além das piscinas naturais, vi muito artesanato. Os elementos compositivos daquelas peças eram ricos. Muita cor, materiais diversificados, animais e símbolos religiosos. Ali não tinha espaço para a arte concisa. Para mim, lembravam campanhas da Dolce&Gabbana. As duas situações possuem as características citadas em comum, guardadas os devidos propósitos. Uma é alegre e a outra é luxuosa. 

O dia da volta chegou. Meu destino era o aeroporto de Guarulhos. Depois de 3 horas de vôo, cheguei naquele lugar querendo resgatar a mala depressa. Claro que isso não aconteceu. Criando raízes em frente à esteira, olhei pro lado e me senti hipnotizada. Um painel do Romero Britto gigante estava ali. De algum jeito, o que eu tinha visto naquela praia de Pernambuco, estava naquela obra. Na ocasião, apenas sabia que Romero Britto era do nordeste. Fui consultar qual era o estado de origem e BINGO! Aquilo foi mais rico que uma visita à uma exposição de arte.

Finalmente resgatei a mala. Enquanto puxava aquela que guardava meus pertences, pensava em tudo que já tinha ouvido falar do pintor. Era tudo negativo e superficial. É muito julgamento pra fazer parte de um grupo, frustrações projetadas e falta empatia das pessoas.

Todo artista/criativo aprende que a arte é reflexo da cultura e experiências do autor. Por que com ele seria diferente? Como afirmar que o cara não é criativo e não se recicla? Se estivesse parado no tempo, construiria um negócio rentável a partir da sua arte?

Romero Britto tem notoriedade com sua arte alegre. O sucesso alheio de um artista contemporâneo incomoda. O sucesso do chefe incomoda, a promoção do colega incomoda. E está tudo bem. É algo inerente ao ser humano complexo. Eu já passei por isso também e foi um período sombrio na minha vida profissional. Ignorar nossas frustrações profissionais e pessoais, nos enfraquece. Colocar este sentimento na luz, ou seja, assumir nossos sentimentos, nos faz mais forte.