Trabalho duro, sim; burro, não!

Trabalho duro, sim; burro, não!

Dias desses um amigo de muitos anos, engenheiro como eu, comentou que sua filha Mariana concluiu a faculdade recentemente e estava pensando em montar seu próprio negócio. Mas que ela estava cheia de dúvidas e medos, entre outras razões porque andou assistindo vídeos na internet que passam a ideia de que ao optar pelo empreendedorismo, a sonhada liberdade (financeira, de tempo e, dependendo do negócio, até geográfica) tinha o preço de ficar presa às tarefas da nova empresa, ou seja, adeus ao namorado, aos finais de semana e feriados, férias nem pensar, nada de passeios, viagens, convívio com amigos etc.  

Como ele sabe que eu atuo há algum tempo como mentor em gestão empresarial, ajudando novos empreendedores e orientando jovens que querem dar um rumo diferente nas suas vidas, perguntou se eu poderia orientá-la. Mesmo porque, apesar da bem sucedida carreira profissional desse meu amigo, a gente sabe que santo de casa não faz milagres.

Concordei e logo no primeiro encontro com Mariana, após ouvir dela qual era a sua real motivação para querer empreender e quais as suas expectativas para os próximos 5, 10 e 20 anos, falamos um pouco sobre a diferença entre trabalho duro e trabalho burro. 

Deixei claro que não dá para "fazer omelete sem quebrar os ovos", ou seja,   no início de qualquer negócio é preciso ter consciência de que o trabalho duro é inevitável. Expliquei que se o negócio for uma loja comercial, é ela quem abre e varre a loja todos os dias, atende telefone, tira pedido, separa e embala o material, emite a nota fiscal e, se bobear, faz entrega e recebe do cliente. E isso, olhe lá, só pensando o lado da venda; porque existem, também, as tarefas relativas às compras, ao controle de estoque, às finanças, ao quadro de pessoal (quando tiver) etc.

Disse a ela que eu havia passado por tudo isso quando montei um comércio atacadista de autopeças. Isso sem falar de toda a burocracia de encontrar um ponto, alugar, montar a infraestrutura, cuidar dos aspectos legais de abertura da empresa e contratar um sistema mínimo de gestão.    

Nessa altura da sessão, comentei com ela que um aspecto pouco explorado pela maioria dos empreendedores é a definição a priori daquelas 4 “coisinhas” que se aprende na escola e que, na prática, são consideradas "babaquice". Estou me referindo a definir: qual o seu propósito e, em decorrência, qual a  missão, visão e valores do seu negócio? Sim, eu falo em decorrência porque é a empresa que tem que levar o empreendedor a concretizar o seu propósito. E, não o contrário!

E, essas declarações devem ser explicitadas a todo momento, para todos os colaboradores, na medida em que eles ingressarem na empresa. São essas declarações vão definir a cultura organizacional. 

Segundo o Sebrae, "cultura é o resultado de como as pessoas interagem entre si em um ambiente organizacional e como esse ambiente e as interações evoluem e se consolidam através de ritos, sentimentos, percepções, comportamentos e outras questões compartilhadas".  

Dito assim, parece fácil e óbvio. Pois eu vou te dizer que talvez seja o trabalho mais difícil (e, mais duro) para quem quer montar um negócio.

Os clientes  têm que olhar para a sua empresa e enxergar algo que a identifique, de forma única e distintiva, diferente da concorrência; algum traço que seja a sua "marca registrada", em qualquer contato que eles venham a fazer, independente de estarem falando com vendas, finanças, logística ou produção. E cada colaborador tem que saber por quê ele trabalha na empresa, onde ele quer chegar e qual a sua contribuição para a sociedade.

Essa função é estratégica e cabe ao empresário, dono do negócio, passar para o seu time e, por tabela, para o mercado. 

Vencida a fase heróica e muito digna do começo da empresa, o papel do empresário é ir a campo e conversar com outros empresários, prospectar novas parcerias e outras frentes que levem sua empresa para outro patamar.

Agora, se você, mesmo tendo contratado uma equipe, por menor que seja, continuar abrindo e varrendo a loja, atendendo telefone, separando e embalando o material, emitindo nota fiscal e, se bobear, fazendo entrega e recebendo o pagamento, lamento. Você estará fazendo trabalho burro!

Ensinamento da semana: "O trabalho mais duro que existe é não fazer nada." Provérbio judaico


Entre para ver ou adicionar um comentário